Da Automotive News Europe
A Alemanha testará de novo todos os carros Grupo Volkswagen de forma a medir seus reais níveis de emissões após novas revelações da fabricante levarem o governo a agir. Expressando sua “irritação” com a VW, o ministro dos Transportes da Alemanha Alexander Dobrindt disse na quarta-feira que todos os modelos atuais vendidos sob as marcas VW, Audi, Škoda e Seat — tanto com motores diesel quanto gasolina — serão testados quanto a emissões de CO2 e NOx.
Antes, o governo havia dito que verificaria apenas as emissões de NOx dos VW a diesel.
O anúncio do governo alemão seguiu-se a uma declaração da VW na terça-feria de que ela havia informado o nível de emissões de CO2 abaixo do real em cerca de 800.000 veículos vendidos principalmente na Europa, conseqüentemente seu consumo de combustível. Isso significa que os veículos afetados têm maior custo para serem dirigidos do que os compradores foram levados a acreditar.
Dobrindt disse que 200.000 dos 800.000 carros com valores falsos de CO2 e consumo estão rodando na Alemanha. Ele informou que o governos queria forçar a VW a pagar as taxas adicionais que seriam devidas em razão dos níveis de emissões mais altos, mas que não poderia dar uma estimativa o tamanho do possível ajuste à taxa.
As revelações adicionaram nova dimensão à crise que havia focado antes em como a maior fabricante da Europa burlou os testes dos Estados Unidos quanto às emissões de CO2, que causam o smog.
Parada de vendas nos EUA
Á medida que a crise se acentou, a VW disse aos seus concessionários americanos e canadenses para pararem de vender modelos recentes com motor diesel TDI V-6 de 3-litros, ao mesmo tempo em que a agência Moody’s rebaixava a classificação de crédito da empresa.
A VW tem 750.000 funcionários na Alemanha e tem sido um símbolo da capacidade de engenharia da nação. Dobrindt disse que a fabricante causou “irritação no meu ministério e em mim.” enquanto um porta-voz da chanceler Angela Merkel disse que este tinha que tomar medidas para evitar que um caso desses se repetisse, acrescentando: “A VW tem o dever de esclarecer isto total e transparentemente.”
O reconhecimento da questão do consumo pode causar enorme dano às vendas da VW uma vez que pode afastar compradores que se preocupam com custo, analistas disseram. As revelações de terça-feira, que levaram a VW a adicionar 2 bilhões de euros aos seus esperados custos resultantes do escândalo, são também a primeira vez em que os carros a gasolina foram incluídos na crise.
A VW disse que a maioria dos carros envolvidos têm motor diesel como o campeão de vendas Golf, o Audi A3 hatchback e o Škoda Octavia, mas dois modelos eram a gasolina, o VW Polo e o Audi A1, ambos de motor 1,4-litro e com desativação de cilindros.
A Moody’s disse que rebaixou a classificação de crédito da Volkswagen para A3/P-2 com um panorama negativo devido a essa revelação. “Essas novas informações colocam mais desafios para a flexibilidade financeira da posição competitiva da VW, e aumenta as preocupações da Moody’s quanto aos problemas de controle e governança interna da Volkswagen, enfraquecendo ainda mais seu perfil de classificação,” disse Yasmina Serghini, prinicipal analista da Moody’s para a VW.
As ações da Volkswagen fecharam com baixa de 9,5% na quarta-feira, levando outros 3 bilhões de euros de seu valor de mercado. Ela perdeu um terço do seu valor, ou 24 bilhões de euros, desde que o escândalo irrompeu.
‘Além de uma piada’
Ernst-Robert Nouvertne,que dirige duas concessionárias de VW, Audi e Škoda próximo a Colônia, disse que a situação estava ficando pior que uma pida.
“Embora péssima, o problema das emissões isoladamente eram administráveis, mas essa agora (das emissões de CO2) deu nova dimensão aos nossos problemas. Espero que saiamos dessa em algum ponto,” disse. “As pessoas já começaram a se alinhar contra a VW. Se começarem a fazê-lo contra nosso produto, aí a coisa se complica.”
O escândalo veio à tona em 18 de setembro quando as autoridades americanas expuseram o uso de “dispositivos preparados” para burlar os testes de emissões de NOx. A VW admitiu tal que software foi instalado em até 11 milhões de veículos no mundo inteiro.
A ordem de “suspender-vendas” nos Estados Unidos e Canadá segui-se a uma notícia da Agência de Proteção Ambiental de que as marcas do grupo VW tinham instalados dispositivos ilegais em alguns modelos a diesel de motor V-6 de 3 litros, incluindo veículos Audi e Porsche Cayenne.
A VW negou-o, mas Mary Nichols, da Diretoria de Recursos do Ar da Califórnia em Los Angeles disse à Reuters que os técnicos repetidamente viram motores ciclarem nos testes com volume de emissões relativamente baixo para em seguida passarem a emitir bem mais em questão de segundos.
“É quase impossível explicar algo desse tipo que não seja por alguma coisa do software que controla a o funcionamento” disse Nichols, observando que a Volkswagen tentou argumentar que o fenômeno era parte de um esforço “para deixar o sistema em temperatura normal.”
“Francamente, aquela explicação não fazia nenhum sendito,” ela disse.
O advogado alemão Andreas Tilp, que entrou com ação na justiça contra a VW no mês passado em favor de uma firma de investimentos particular, disse que a confissão do CO2 dá “mais munição” ao caso.
“A cada aumento do escândalo, cresce a probabilidade de que um número maior de pessoas na VW tinha conhecimento do fato,” disse.
Os efeitos do escândalo pouco têm-se refletido nos números de vendas da VW até agora — apesar de ter sido a única fabricante alemã a registrar queda de vendas na Alemanha em outubro.
Ae/BS