Vigésima edição de independência setorial, tema próprio em ano desencontrado do Salão do Automóvel, a Fenatran — antes feira e agora salão internacional do transporte —, tem pouco a comemorar: apenas dois fabricantes de caminhões, Volvo e DAF, estiveram presentes. Restante, fabricantes de implementos e peças para transporte, pneus.
Debandada grande de expositores, causada pela redução do mercado, entre 40 e 50%, e pela despedida de metalúrgicos, maioria esmagadora dos fabricantes de caminhões entendeu melhor poupar os gastos entre 5 a 7 milhões projetados para ter presença, livrando-se de queixas institucionais ou reprimendas das matrizes para tal gasto. Conseqüência do desinteresse em participar por Scania, MAN e Volkswagen, Ford, Schacman, Iveco, Agrale, Mercedes-Benz, recém lançando sua linha Vito, e interessada em mostrar os números de crescimento de participação nas vendas. International não foi. Razões outras. Comunicado à véspera da mostra setorial dizia de suspensão da produção de seus caminhões a fim de adequar o estoque no pátio. Demandada, não respondeu de volume, nem da curiosidade procedimental — quem suspende produção não demite mão de obra especializada —, dá férias, coloca-os em lay-off, enquadra-se na recente legislação federal de redução de salários. Plantou a dúvida. Foi-se, pela terceira vez?
Para não oferecer impressão de espaço ocioso, a organizadora Reed Exibitions no atacado reduziu as dimensões do Palácio do Anhembi, SP, aplicando grandes painéis verticais de lona, e no varejo aumentou a largura dos corredores, oferecendo espaços adicionais como bônus aos expositores. Em tal solução, o estande da Volvo ocupava 4.000 m² – como repetido no discurso de Bernardo Fedalto, diretor de vendas caminhões, a marca, nunca na história da Volvo ocupou tal área em exposição.
Dos mega participantes do setor, Volvo, em ano recordista de vendas, enfatizou seu sistema Suspensor, pelo qual o eixo de apoio do cavalo-mecânico é desligado e levantado quando não houver carga, permitindo ganho de consumo em até 4%. Pioneira fabricante Curitibana, entende que o mercado já se estabilizou na queda de vendas e, para buscar equilíbrio, avisou aumentar 8% nos caminhões para compensar reflexo de 15% no aumento de preços no produto.
DAF, holandesa controlada pela americana Paccar, em Ponta Grossa, PR, iniciando produzir caminhões ano passado, tinha o que comemorar. Seu CF85, versões 6×2 e 6×4 ofereceu dois modelos e cabine, e o motor Paccar MX 12,9 em duas variações de potência, 360 e 410 cv, câmbio ZF robotizado com 16 marchas. Comemorava, também, seu atestado de maioridade industrial, fabricar motores, tendo desenvolvido fornecedores para entregar peças usinadas para a montagem final em casa. Motor é o citado MX 12,9, com potências de 360, 410 e 510 cv.
Do ramo, a Alcoa, de alumínio, propôs rodas, chassi, suportes, quinta roda, cardã e até portas em alumínio, com o argumento de reduzir em até 1 tonelada de peso — ou, na prática, transportar mais uma tonelada paga.
Citroën AirCross – antes do lançamento
Dia 24 a Citroën apresentará o novo AirCross, como a Coluna antecipou. Das informações apresentadas e pelos teasers divulgados pela empresas, segredos estão desvendados. Prioritariamente, como função básica, criar novidades visuais, iniciando o ciclo final do produto, e isto é cumprido com reacertos estéticos frontais para manter o aspecto pretensiosamente aventureiro. Mudança na parte dianteira, com novos faróis, alguns detalhes do inovador modelo Cactus — não virá para o Brasil —, e o pacote de itens identificadores das pretensões: pára-choques com base preta, arcos no teto e, diz fonte da fábrica, na versão de topo, o estepe deixa de ser pendurado na tampa traseira, indo ser fixado na parte inferior traseira da plataforma; GPS e câmera de ré.
No interior, melhor trato de conforto e infordiversão, com tela com 7”— 17,5 cm —, e na mecânica o motor 1,6 recém melhorado e apresentado em seu irmã de linha, o Peugeot 308, com 12,5:1 de taxa de compressão, mantidos os 115/122 cv álcool e gasálcool, e 15,5/16,4 m·kgf de torque, evolução habilitadora a ser reclassificado pela tabela de consumo do Inmetro, ascendendo à Classe A – de menor consumo. Câmbios mecânico e automático com 6 caixas antigas, 5 M manual e 4 M, automática.
O partido do projeto foi implementar sensações de uso e ganhos em economia — através de mudanças nas relações de câmbio.
RODA-A-RODA
Cachorros grandes – Na disputa pela imagem do carro de série mais potente do mundo, a Dodge fez o Charger Hellcat, com motor V-8, cabeçotes Hemi, compressor, pacote gerando 717 cv. Para superá-lo a Ford, à falta de Carroll Shelby, seu parceiro de décadas nestas empreitas, procurou Richard Petty, conhecido nos EUA como o “Rei” — da Nascar.
Mais – Petty, ex-colaborador da Chrysler, retrabalhou o motor do Mustang V-8, 5 litros, e dele consegue tirar 737 cv. Teoricamente o título está mantido pela Chrysler, cujo Hellcat sai de linha de montagem, enquanto os King Premier Mustang, da oficina de Petty. Mas o purismo pouco importará ao interessado no rótulo concedido pelos 20 cv a mais.
Trabalho – Petty tomou o motor básico, aplicou compressor, resfriador para o ar de admissão, escapamento MagnaFlow, e mudou as calibragens. Para resistir à cavalaria, semi-árvores TrakPak, diferencial reforçado e barras estabilizadoras mais grossas, rodas Performance, amortecedores com molas helicoidais concêntricos, os coil over.
Personalizado – Serão apenas 243 King Mustang – com 680 cv; 43 King Premier; e 14 King Premier conversíveis, e os 737 cv. Preços — nos EUA — entre US$ 67.500 e 90.500. Detalhe natural, todos terão plaqueta assinada por Petty, identificadora da pequena série.
Mudança – Na progressiva e inexorável distância entre o consumidor e o mito do automóvel, pesquisa conduzida nos EUA pela Iseecars.com mostrou outra característica: tempo de uso. De 400 mil veículos do ano de produção 2005 vendidos entre 1º.jan e 30.jul, os 15 mais vendidos eram Honda, Toyota e Subaru.
Comportamento – Curiosidade, 80% dos veículos pertenciam aos donos por 10 anos. Informação mostra um redesenho do padrão americano de: período de troca, antes pouco acima de dois anos, e a aquisição do automóvel após o período de leasing.
Caminho – Toyota destinou US$ 1B para aplicar em pesquisas de inteligência artificial, com foco especial nos veículos autônomos, os que dispensam motorista. É forma de enfrentar inimaginados concorrentes como Google, Apple e Facebook, todos envolvidos no caminho dos autônomos.
Objetivo – Não quer ser apenas mais um participante do novo mercado, mas aumentar a segurança; tornar o dirigir mais acessível; ter ganhos de produtividade e acelerar a descoberta científica de materiais.
Fiatbishi – Salão de Dubai Fiat apresentou o picape Fullback, nada mais que um picape Mitsubishi, modelo novo, com pequenas intervenções faciais para caracterizá-lo como Fiat. Não virá ao Brasil. Dizem analistas europeus ser o primeiro passo de colaboração entre as marcas, sinergia para reduzir custos.
Engano – Não é. O primeiro foi o SUV Io, encomendado e construído pela Pininfarina, em versões como Fiat e como Mitsubishi. No Brasil chamou-se TR4 e foi bem longevo, encerrando produção recentemente.
Quase – Informação de poucos conhecida, pioneiramente tal sinergia foi tentada no Brasil. Ao fim dos anos ’90 a Fiat de Betim, MG e a Mitsubishi de Catalão, GO, sentaram-se para analisar a possibilidade desta fazer versão de picape L200 com cara de Fiat. Daria certo se o superintendente de então tivesse continuado na filial italiana.
Fluxo – Divisão RAM da FCA, encarregada do fazer e vender picapes, reiniciará comercializar os RAM 2500 produzidos no México. Quer mudar o processo, em vez de trazer lotes, criar fluxo constante.
Futuro – Baseia o negócio na demanda, na ampliação da capacidade de oferta, tanto pelo incremento de novos revendedores da linha Jeep, também distribuidores dos RAM, mas pela abertura do leque de produtos: trarão, também, a seguir, os RAM 1500, menores, a gasolina, 5,7 Hemi e diesel.
Força – Modelo para continuar importação é o 2500, motor Cummins diesel 6-em-linha, 6,7 litros, evoluído de 310 a 330 cv e os camionais 84 m·kgf de torque foram elevados a 104 m·kgf — mais 23,8% — caixa automática de 6 marchas, tração nas 4 rodas e reduzida, suspensão traseira com 5 braços de ligação Apresentado dia 26 a R$ 249.900.
Takaro? – Preço elevado? Fonte da RAM discorda. E argumenta: “Se um novo picape Toyota Hilux custa quase R$ 200 mil, o nosso é maior e muito mais forte, tão equipado quanto.”
Colado – Nem bem lançou o Audi A3 sedã 1,4 feito nas beiradas de Curitiba, a empresa marcou data de introdução da primeira variação do produto: o A3 sedã com motor 2.000 cm³ será apresentado próximos dias.
Silêncio – Produzido paralelamente aos Audi A3, ambos utilizando na nova plataforma MQB na fábrica de São José dos Pinhais, o VW Golf não tem data marcada para disponibilização ao mercado.
Ocasião – VW sofreou o projeto e adiou a apresentação anteriormente marcada para novembro. Como em dezembro há dispersão dos interesses dos compradores, ficará para 2016. Por enquanto, Golf apenas alemão e mexicano.
De volta – Novidade de fim de ano para a Volkswagen, ficará restrita ao Passat 2016. Ainda em novembro.
Dúvida – Comunicados da MWM International criaram dúvidas quanto ao futuro das marcas no país. MWM diz encerrar ao início de 2016 produção dos motores diesel fornecidos à GM.
Mais – E diz ter suspenso temporariamente a produção dos caminhões International alegando desequilíbrio entre vendas e estoque. Seria medida possível, não tivesse demitido os funcionários do setor. Como a MWM de diesel veiculares é marca específica do Brasil; International já do saiu do país duas vezes; e os comunicados tangenciam a questão, plantou a dúvida. Ficam?
Conjuntura – Queda de negócios na venda de ônibus aproximou concorrentes como Marcopolo e Neobus. Assinaram carta de intenções não vinculante, e estão em fase de due diligence, os procedimentos internos para valorar empresas. Somar-se-ão, e os controladores da Neobus receberão ações da Marcopolo — e continuarão gerindo sua antiga empresa.
Multi – Acionista de 25% do capital da New Flyer Industries Inc, maior fabricante de ônibus urbanos dos EUA, a Marcopolo anunciou ter assinado contrato para adquirir o controle da Motor Coach Industries International, maior fabricante de ônibus rodoviários. Negócio de US$ 455M.
Cliente – Mudança na legislação de emissões adotando as regras Euro 5, e desvalorização do real criaram condições favoráveis para a venda de produtos brasileiros na Argentina. MAN Latin America lá desembarcou com caminhões Volkswagen entre 160 e 420 cv de potência, e ônibus urbanos com piso baixo.
Racionalidade – Caminhões médios terão caixa automática como opcional; cavalos-mecânicos tê-las-ão, idem ônibus. Para estes o sistema é racionalmente obrigatório no vizinho país.
Gente – Reformulação comercial na Mercedes-Benz. OOOO Gilson Mansur, diretor de marketing e vendas caminhões se aposentará. OOOO Lugar preenchido por Ari Gomes Carvalho. OOOO Silvio Renan Silva Souza, novo diretor de Pós-Venda. OOOO Walter D’Silva, milanês — neto de portugueses —-, 64, designer, aposentadoria anunciada. OOOO Fará 65 anos em fevereiro, data de corte na Volkswagen. OOOO D’Silva chefiava a área de design do grupo, e em sua prolífica carreira o produto mais marcante foi o Alfa Romeo 156, escultura sobre rodas.OOOO Interessantemente, seu carro de lazer é picape Saveiro, brasileira. OOOO
Mercedes vira o jogo e vai à liderança
Única empresa do setor automotivo a ocupar o topo do ranking entre as empresas inovadoras no país, Mercedes foi incluída na lista – 14a. entre 100. Pesquisa da Strategy& por encomenda do jornal Valor Econômico reconheceu os resultados dos investimentos da empresa em pesquisa e desenvolvimento.
Negócio tem o dedo de Philipp Schiemer, CEO da empresa, assumindo ao início do declínio de vendas, assinalando em outubro queda recorde de 45% de redução nas unidades comercializadas.
Dentre as recentes conquistas de seu Centro de Desenvolvimento Tecnológico estão as ações para nacionalização do Actros, caminhão superior da marca. Incrementar a nacionalização permitiu incluí-lo, assim como os modelos 2546 6×2 e 2646 6×4 no programa Finame PSI do BNDES facilitando financiamentos.
Acredita-se, função de ter-se entendido com usuários e concessionários, absorvido opiniões e tomado providências, a Mercedes mudou produtos, ampliou vendas, mesmo no desenho recessivo penalizando o setor. O produzir chassis, motores, câmbios e eixos sob o mesmo teto, em época de mercado ascendente é fórmula de produtividade, entretanto em fase de recessão significa maior ociosidade e esforços para gestão de pessoal. Apesar dos problemas de gestão de pessoal ocioso em função da queda de 50% das vendas, projeção numérica indica, Mercedes re assumirá liderança de mercado.
RN
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Foto de abertura: falandodetransporte.blogspot.com
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