O nome Kombi vem do alemão Kombinationsfahrzeug que quer dizer “veículo combinado” e/ou “veículo multiuso”. O conceito por trás da Kombi surgiu no final dos anos 1940, idéia do importador holandês Ben Pon, de um veículo inédito até então, baseando-se em um utilitário feito sobre o chassi do Fusca. Os primeiros protótipos tinham péssima aerodinâmica, porém, com novos estudos na Faculdade Técnica de Braunschweig o veículo ganhou novas formas, resultando praticamente na VW Kombi que conhecemos. Testes então se sucederam com a nova carroceria montada diretamente sobre o chassi do Fusca, não atendendo aos requisitos estruturais para a aplicação utilitária. Então, uma nova estrutura foi projetada no conceito de monobloco, dando a necessária robustez ao veículo. Finalmente, após três anos passados desde o primeiro desenho, o utilitário ganhava as ruas na Alemanha em março de 1950, iniciando o sucesso da Kombi.
No Brasil, o grupo Brasmotor passou a montar a Kombi em regime CKD, no ano de 1951. Já em 1957, a Volkswagen começou a produzi-la em sua fábrica de São Bernardo do Campo, sendo o primeiro veículo da marca manufaturado no Brasil.
Na foto de abertura vê-se uma Kombi furgão para treinamento técnico da rede de assistência técnica VW criada pela Brasmotor, então representante da Volkswagen no Brasil (ver matéria recente de Alexander Gromow a esse respeito).
A Ford também teve a sua Kombi
Na realidade, o Ford FK 1000/1250, mais tarde Ford Taunus Transit, era uma cópia da VW Kombi em estilo. Na mecânica se diferenciava pelo seu motor dianteiro arrefecido a água com tração traseira. Foi produzido na fábrica Ford, em Colônia, Alemanha, de 1953 a 1965.
Em 1965, a Transit começou a ser feita na fábrica Ford em Langleide (Reino Unido), realmente em sua primeira geração, já diferente em estilo de sua rival Volkswagen, porém mantendo sua vocação utilitária multiuso. Com o motor colocado em posição avançada e com tração traseira, mantinha desenho próprio e com muita personalidade.
Com três motores disponíveis — 1,7-L V-4 OHV gasolina, 2-L V-4 OHV gasolina, 1,6-L L-4 Diesel — e câmbio de quatro marchas com relações curtas, tinha bom desempenho, com velocidade máxima acima de 100 km/h.
Todas as versões, com chassis em escada, eram muito robustas, oferecendo capacidade líquida de carga entre 610 e 1.780 kg
A Ford Transit foi idealizada prevendo inúmeras configurações, inclusive com chassi aberto para instalação de vários tipos de carroceria, a gosto do comprador.
Transit Mk1, folder de seu lançamento em 1965; o cwt é antiga unidade de peso no Reino Unido, chama-se hundredweight, igual a 112 libras, e como 1 libra = 0,454 kg, os números do folheto indicam capacidade de carga de 610 a 1.780 kg
A Transit continuou com seu estilo motor avançado até 1985, quando em 1986, em sua terceira geração, adotou a frente com o capô do motor e o pára-brisa sem formar ângulo, já lembrando as vans de hoje.
Eu particularmente prefiro o desenho de motor avançado, que tinha muita personalidade, tanto é, que inspirou até desenhos animados como, por exemplo, o personagem Scooby Doo e sua van Mystery Machine.
Cinco milhões de Transit foram feitas de 1965 até 2005 (40 anos em produção) e o 5.000.000º veículo produzido em Southampton (Reino Unido) foi doado à uma instituição de caridade na Inglaterra
O Brasil conheceu a Ford Transit em 2008, em sua quarta geração, importada da Turquia. Nesta época a Ford já pensava em produzi-la no Brasil, mercado promissor de vans para o transporte de pequenas cargas em uso urbano.
Ficou no mercado brasileiro até o modelo 2013 importado da Turquia, encerrando as importações em 2014. Interessante é que a Argentina continua importando a Transit, mesmo com sua economia mais desfavorável que a brasileira.
Em 2009 houve um plano de negócios para produzir a Transit na fábrica da Ford em São Bernardo do Campo, que estava na época com suas instalações sub-utilizadas, mas o plano não vingou.
Enquanto a cinquentona VW Kombi se aposentou em 2013, a outra cinquentona Ford Transit continua firme e forte no mercado mundial, inclusive na China.
Em sua quinta geração, já incorporando o “bocão”em seu desenho, a Ford Transit continua a ser um excelente utilitário, com mais de oito milhões de unidades produzidas desde o seu lançamento em 1965.
Quem sabe um dia a Ford, em um instante de “bons fluidos”, decida produzir a Transit no Brasil.
Encerro a matéria com uma homenagem à Argentina, que ao longo dos anos está sempre um passo à frente do Brasil em termos de viabilização dos produtos Ford para o mercado local.
CM