Semana passada a Audi do Brasil lançou o A3 sedã com motor maior, 2 litros, com potência máxima de 220 cv entre 4.500 e 6.200 rpm. Apenas para começar, o dado que mais me deixou pasmo nas horas em que passamos falando sobre o carro e andando nele: velocidade máxima 250 km/h, limitada eletronicamente.
Alguns poderão lembrar que há poucos anos essa velocidade máxima era alcançada por não muitos carros, e todos eles de motores grandes e/ou esportivos, com áreas frontais pequenas e/ou aerodinâmica apurada.
Mas agora temos aqui no Brasil um sedã familiar, com espaço para cinco pessoas, porta-malas razoável de 425 litros e todo o conforto e facilidade de uso, inclusive altura livre ao solo ótima, movido por um quatro-cilindros de 2 litros turbo com injeção direta e indireta combinadas para máxima eficiência de queima, e que chega a essa velocidade-limite.
Mais assustador ainda foi saber que sem o corte de alimentação de gasolina nessa velocidade, o carro chega a quase 270 km/h. Essas informações vieram de um já conhecido membro do time Audi, Lothar Werninghaus, engenheiro que sabe tudo que se precisa saber sobre a história e os carros da marca. Na função de consultor técnico, é sempre um prazer conversar com ele, é de autoentusiasta para autoentusiasta.
Apesar da empolgação desse número, Lothar deixou bem claro que para comercializar o carro com essa velocidade máxima muita coisa teria que ser diferente, como rodas, pneus e freios, adições aerodinâmicas para aderência acima dos 250 km/h, entre outras alterações, o que faria o preço sair muito do que se tem hoje.
Mas ficando no que a empresa oferece a mercado agora, já se tem um produto muito capaz. Além da potência máxima plenamente satisfatória, o torque máximo também é elevado, 35,7 m·kgf desde 1.500 rpm até 4.400 rpm, fazendo com que qualquer pressionada um pouquinho menos leve no pedal acelerador já faça o carro andar bem rápido, sem buracos na aceleração. Um comportamento quase de motor elétrico, mas com som de motor a combustão suave porém empolgante. A aceleração divulgada de 0 a 100 km/h é de 6,9 segundos, só 1 s a mais que o Audi TT com o mesmo motor.
O sistema de injeção de gasolina no duto de admissão é o chamado de indireto, e funciona desde a marcha-lenta até rotações médias, quando o sistema direto, colocando combustível na câmara de combustão, entra em ação. Isso permite desempenho mais do que suficiente para as condições que temos em nosso trânsito, e é muito seguro escapar de problemas e “caramboladas” no tráfego com acelerações a fundo de poucos segundos. Você vê uma situação de risco, verifica sua trajetória para escapar do problema, pisa fundo e, antes de captar totalmente o que aconteceu, o problema ficou para trás. Muito seguro, e segurança do melhor tipo, a ativa, aquela que quem gosta de dirigir mais aprecia.
Na segurança passiva, aquela que agrupa todos os sistemas que atuam após um acidente, o A3 tem até mesmo airbag de joelho, além dos já tradicionais frontais e de cortina, que encobrem os vidros e protegem as cabeças dos ocupantes. E tudo mais que já é padrão hoje, como ABS e pré-tensionadores de cintos de segurança.
Contribuindo fortemente para o desempenho há dois fatores que ajudam o motor, o peso e a aerodinâmica. Com 1.320 kg em ordem de marcha, o carro é leve para o porte. Seu coeficiente de arrasto (Cx) é 0,30, bom para um carro com altura normal, largura confortável e espaço para cabeças ótimo. A área frontal é de 2,12 m².
Esse peso é resultado de um belo projeto otimizado para não haver exagero de metal onde não é necessário, combinando aço de várias espessuras e componentes de carroceria feitos em alumínio, bem como capas inferiores em plástico reforçado com fibra de viro, para proteger a parte inferior, motor e câmbio, e evitar ao máximo as turbulências que freariam o carro. Elas cobrem áreas até na posição da coluna B (central). A redução de arrasto trazida por essas capas é da ordem de 12%.
O tanque de combustível leva apenas 50 litros, colaborando para o baixo peso, e possível pelo consumo bastante econômico de 10,8 km/l em cidade e 12,8 km/l em estrada, segundo dados da fábrica. Mesmo assim, para meu gosto de passar longe de postos poderia ter mais 10 litros, pelo menos.
O carro com motor 1,8-litro era todo importado da Hungria, e esse é fabricado em São José dos Pinhais, região da Grande Curitiba, mas com motor e câmbio importados da Alemanha e por isso, não é flexível em combustível, usando apenas nossa gasolina batizada com o “elixir dos usineiros”.
De se notar que o novo motor tem 40 cv a mais que o menor em 0,2 litro, mas o preço do carro é dois mil reais mais baixo, já com teto solar de série. Só existe uma versão, chamada de Ambition, com preço básico de R$ 137.990. Mas básico é um termo chulo para se utilizar num carro dessa categoria. Mesmo sem os opcionais já se está muito bem servido, e não se pode criticar um carro tão bem projetado e construído por não ter desde a versão mais simples alguns itens que são absolutamente sofisticados e no estado da arte da engenharia automobilística.
O A3 sedã 2-litros já vem com ar-condicionado de duas zonas e controle de temperatura a cada 0,5 °C, central de mídia com tela colorida e conexões de comunicação no rádio MMI, sistema Audi Drive Select, que regula respostas de acelerador, troca de marchas do câmbio S Tronic de seis marchas de dupla embreagem em banho de óleo. Esse sistema permite selecionar cinco modos, Comfort, Auto, Dynamic, Efficiency e o Individual, que permite ao motorista variar as regulagens fora dos programas padrão. Uma brincadeira com computadores de bordo impensáveis em um carro desse preço pouco tempo atrás.
Há também freio de estacionamento elétrico, bancos dianteiros com regulagens elétricas revestidos de couro sintético de alta qualidade e aparência e tato muito bons, rodas 7,5Jx17 com pneus 225/45R17, faróis de neblina e dupla saída de escapamento, para um toque mais esportivo na traseira.
Com os opcionais, o preço é de R$ 169.490. Eles são o sistema de assistência de faixa de rolamento, GPS, controle de velocidade de cruzeiro adaptativo, que mantém a distância do veículo da frente freando o carro, câmera de ré combinada com assistente de estacionamento e chave de presença, que não precisa ser colocada no cilindro de ignição.
A cor interna cinza claro para os bancos é novidade no A3, que só tinha o couro escuro, um preto quase cinza. Ambos muito bem feitos, mas o cinza claro dá um ar mais sofisticado. Esses bancos já são nacionais, bem como muitos outros componentes, numa clara ação da Audi em se fortalecer cada vez mais no mercado local.
O acabamento interno está no já conhecido padrão Audi, uma característica que se tornou muito comentada há alguns anos, quando foi feita uma verdadeira revolução em escolha de materiais e rigor no projeto de componentes de forma a que os encaixes e fixações fossem aprimorados a ponto de carros mais caros terem que melhorar nessa importante área de projeto, para que modelos mais caros dos concorrentes não ficassem para trás dos Audis. Não há nada a se criticar dentro do carro, exceto gostos e preferências pessoais. Interessante notar que os quatro difusores de ar do painel são circulares e idênticos, mostrando que mesmo uma marca com muitos recursos também faz economia. Algo inteligente e que não modifica de nenhuma maneira a sensação de bem-estar e alta classe do carro.
De se registrar em texto e fotos, as molduras de cor clara do painel e acabamentos de portas que se parecem com pele de cobra dentro de plástico transparente. Uma bela composição e demonstração de tecnologia visível para quem presta atenção em pequenos detalhes. Na lista de equipamentos a Audi chama esse padrão de 3D barvolento. Como o termo que encontrei é barlovento, direção da qual chega o vento em espanhol — em português é barlavento — acredito que tenha sido uma troca de sílabas na hora da digitação.
No percurso utilizado na apresentação rodei em um trecho curto de serra que mostrou claramente que a marca tem uma atenção total ao comportamento seguro de seus carros. Mesmo abusando claramente do acelerador, as curvas com piso bastante deteriorado eram feitas na trajetória correta, sem escapar do caminho escolhido pelo motorista.
Ao contrário do A3 de motor 1,4, cuja suspensão traseira é por eixo de torção, neste 2-litros ela é multibraço.
Para aumentar ainda mais esse nível de segurança e confiança, o sistema opcional Active Lane Assist atua na direção, trazendo o carro para dentro da faixa de rolamento, e dirigindo o carro até um limite de 8 segundos. Ele funciona perfeitamente, desde que as faixas de sinalização horizontal estejam em boas condições, algo que nem sempre ocorre em nosso combalido Brasil. Foi incrível provocar desvios de trajetória dentro das faixas, largar a mão do volante, e ver o carro se auto-corrigir. Após os 8 segundos, aparece um aviso no centro do painel para que o motorista assuma o volante. Não é um carro autônomo ainda, mas pode ser caso a legislação permita e a Audi modifique o programa de computador que controla o sistema.
As principais dimensões são comprimento de 4.456 mm, largura de 1.796 mm, altura de 1.416 mm e distância entreeixos de 2.637 mm, a par com outros modelos de mesma posição de mercado e bastante prático no dia a dia.
Quem escolher esse modelo para sua garagem ficará sempre com vontade de tirá-lo de lá e dirigir, mesmo que não exista motivo para fazê-lo além da simples e nobre vontade de conduzir um veículo.
Fotos: autor e divulgação
JJ