Chega à garagem do Ae o Nissan Versa 1.6 Unique, que será avaliado neste teste de 30 dias sucedendo ao Citroën C4 Picasso Intensive. Largar do francês fabricado na Espanha, carro que não sai da revenda por menos do que 117 mil reais (o avaliado era totalmente recheado de opcionais e batia em 140 mil…) e agarrar o japonesinho fabricado em Resende, no Estado do Rio de Janeiro – R$ 59.990 é a pedida, sendo ele o mais caro e equipado dos Versa – resultou em um evidente choque. Do espaço e conforto exuberante pulou-se para… espaço e conforto impressionante!
É isso mesmo? Quase isso. É claro que a entidade do conforto destes dois automóveis é diferente, mas ainda nesse primeiro parágrafo arrisco a dizer que, lá no final da avaliação, daqui 21 dias, uma das principais qualidades que apontarei neste Nissan será o generoso espaço interno. Especialmente para quem vai no banco de trás, lugar para pernas é o que não falta, o que fez mais de um dizer que o Versa é um táxi potencialmente perfeito. Demérito? De jeito nenhum.
Lançado em 2012 no Brasil, o Nissan Versa, antes importado do México, ganhou novas versões e um novo motor de três cilindros e 1 litro quase um ano atrás. Ganhou também uma pincelada no design e em alguns aspectos técnicos mínimos. Nosso companheiro destes trinta dias não é a novidade de motor menor, mas sim o Versa topo de linha, o equipado com motor quatro-cilindros de 1,6 litro que registra 111 cv a 5.600 rpm e torque máximo de 15.1 m·kgf a 4.000 rpm, números que segundo o fabricante não mudam se o Versa for abastecido com gasolina ou álcool. Estranho não?
Estranho também continua sendo o design. Desculpe Nissan, mas no meu modo de ver o carro vai bem, bonitinho até, do para-choque dianteiro até o final da caixa de roda traseira. Aí aparece aquele para-choque alongado “pesando” excessivamente. Não ajuda também o vidrinho no fim das portas traseiras, que mata de um jeito não muito feliz o belo arco formado pelo alto dos vidros laterais.
A subjetividade do quesito “estilo” é sempre motivo de polêmica, pois, como diz o ditado, quem ama o feio bonito lhe parece. Feio o Versa não é, é apenas estranho especialmente na traseira, e não é preciso consultar nenhum instituto de pesquisa para exprimir tal opinião, em uníssono com a de todos que questionei sobre o tema. Será esta estranhice da traseira a explicação para o Versa ter sido apenas o 9º colocado no ranking dos emplacamentos de sedãs pequenos (17.538 unidades) da Fenabrave do ano de 2015, 32º colocado entre todos os automóveis no país? Na classe dele, está atrás de Chevrolet Prisma, Fiat Siena, Hyundai HB20S, VW Voyage, Ford Ka Sedan, Chevrolet Classic, Renault Logan e Toyota Etios sedan.
Confesso que nunca tinha entrado em um Versa antes de ir buscar este do teste numa concessionária na zona sul de São Paulo. Uma vez dentro, esperando a autorização para deixar a garagem da concessionária, me admirei com a central multimídia, cheia de recursos que mais tarde merecerá mais comentários. A frase “percepção de qualidade” veio à minha mente: o interior é sóbrio, o plástico domina, mas tem itens “chiques” como o volante revestido em couro dotado de comando para o áudio e telefone e diversas partes em plástico estilo preto piano e cinza fosco dão um ar de certo requinte. O quadro de instrumentos é discreto e eficiente e o revestimento dos bancos, de couro, muito digno.
Diante de minha pergunta sobre o que estava no tanque, me respondem “100% álcool”, zero o computador de bordo e descubro que ele é bem simplesinho: consumo instantâneo, médio, dois hodômetros parciais e autonomia. Nada de tempo de direção tampouco média horária. E para rolar as informações, o pior dos sistemas, o botãozinho afundado no centro do painel, o que para um viciado em dados como eu significará estar sempre ansioso por uma parada para poder mudar a indicação.
Hodômetro zerado, consumo idem, o 30 Dias com o Versa começou em um fim de tarde de terça-feira empesteado por manifestações que deixam o já naturalmente ruim trânsito de fim de tarde ainda pior. Uma hora e 20 minutos para percorrer menos de 25 km e ler que, naquele ritmo, o Versa registrou pobres 5,0 km/l, consumo quase tão ruim quanto o trânsito. Melhorará, pensei…
A semana seguiu e os trajetos curtos no sobes-e-desces paulistano foram a tônica destes dias, o que acabou com o tanque do Versa (41 litros) em pouco mais de 205 km. No abastecimento, couberam quase 40 litros de gasolina, o que nos fez ter certeza de que a aferição do consumo seguinte seria de “pura”gasolina (com mais de ¼ de álcool na composição)…
Aspectos do Versa que chamaram a atenção neste início? A docilidade de condução que o conjunto motor-câmbio-direção oferece, que associados a um acerto de suspensões equilibrado, nem firme, nem mole demais, resultam em um carro agradável de se levar na selva da metrópole. Embreagem leve, acelerador bem calibrado e câmbio com engates bem definidos são padrão no Versa. Bons nesse convívio urbano também se revelaram os práticos e variados porta-objetos na cabine e a visibilidade pelos amplos espelhos retrovisores laterais de regulagem elétrica.
O sistema de ar-condicionado, em situações críticas — carro estacionado ao sol durante algumas horas — pareceu levar tempo demais para deixar o ambiente fresco mesmo usando os clássicos recursos (abrir as janelas para o ar quente sair etc…). Outra falta sentida foi de sinal sonoro para o não uso do cinto de segurança. O Versa deixa você não usá-lo e dane-se. Nenhum apito, nenhuma luzinha, nada! Outra ausência, esta mais explicável tendo em vista o preço do carro, é a do controle de tração o que em um dia chuvoso desta semana inicial fez ver que os pneus, os Continental Conti Power Contact medida 195/55R16 são bons, mas não fazem milagre e patinam gloriosamente em ladeirões mal pavimentados.
Com quase 200 km rodados, novo abastecimento com gasolina para dar a largada para uma viagem cujo relato você lerá na semana que vem. A operação confirmou o que o ponteiro — na verdade a barrinha — do mostrador já avisava: com gasolina, mesmo surrado pelo trânsito ruim, ladeirões da zona oeste de São Paulo, pé pouco atento e trechos curtos intercalados a longas paradas o consumo baixou dos míseros 5,2 km/l conseguidos com o álcool para mais razoáveis 8,3 km/l. A esperança é que na viagem o Versa — que finalmente receberá passageiros! — possa mostrar as qualidades de sedã econômico pequeno por fora e grande por dentro que se esperam dele.
RA
NISSAN VERSA 1,6 UNIQUE
Dias: 7
Quilometragem total: 364,5 km
Distância na cidade: 364,5 km (100%)
Distância na estrada: 0 km (0%)
Consumo médio: 6,2 km/l
Melhor média: 8,2 km/l (gasolina)
Pior média: 5,3 km/l (álcool)
Leia o teste completo:
1ª semana
2ª semana
4ª semana