Carro de família que se preza tem que saber colocar o pé na estrada, e assim foi com o Versa, que com quatro a bordo partiu para um final de semana rumo ao interior de São Paulo, mais exatamente para Monte Alegre do Sul. Da capital paulista até lá, cerca de 150 km de estrada variadíssima. De rodovia impecável à estradinha malconservada passando por uma infinidade de curvas entremeada por aclives e declives. Ou seja, um ótimo roteiro para teste.
Antes de falar dos Versa neste uso rodoviário vale dizer que a habitabilidade, especialmente a encontrada no banco de trás, destaque comentado na primeira semana de uso, tem um “pecado”: o encosto do banco traseiro é rebatível mas não é bipartido, algo que complicou o transporte de um instrumento musical, um contrabaixo elétrico.
A solução foi transportá-lo fora de sua caixa o que não é nada bom nem para o delicado instrumento, nem para os passageiros. Todavia o assoalho plano e o mencionado espaço generoso entre o encosto dos bancos dianteiros e o banco traseiro facilitaram tal operação.
Carregar o carro confirmou que o porta-malas amplo abriga com facilidade a bagagem de quatro pessoas. Ao fechá-lo, os suportes da tampa, tipo pescoço-de-ganso, quase causam dano a uma caixa térmica e assim a disposição teve de ser reorganizada. Este tipo de articulação é simples mas tem este inconveniente, danificar bagagem, e no Versa especialmente as articulações não estão exatamente próximas da parede lateral, o que minimizaria o inconveniente.
Outro aspecto relacionado ao porta-malas do Versa é que o estepe, macaco, chave de roda e triângulo estão sob a tampa do assoalho. Ou seja, retirar a bagagem para ter acesso a tudo isso em caso de necessidade é a lei. Apesar de isto ser um inconveniente, acredito que a maioria dos brasileiros atualmente prefere descarregar o porta-malas no meio de uma viagem do que não encontrar o estepe por ele ter sido surrupiado, coisa indevidamente comum atualmente nos carros nos quais ele está posicionado externamente. Ainda falando no estepe, o do Versa não é da mesma medida do que os quatro pneus de rodagem normal, 195/55R16 mas sim um 165/70R14 (Firestone).
Não se trata de um pneu de uso temporário, daqueles fininhos para proporcionar maior espaço para as bagagens, mas, mesmo assim, no adesivo que indica pressão dos pneus a recomendação é que não se ultrapasse os 80 km/h usando o estepe. Qual a razão de tal limite? Creio que não pode ser atribuída ao pneu de reserva, código de velocidade T (190km/h) mas sim ao diâmetro e largura diferente dos pneus da rodagem normal. A razão para a Nissan escolher equipar o Versa com um estepe assim é talvez uma só: economia. Fosse o Versa meu carro, na primeira oportunidade iria tratar de equalizar os pneus, cinco de mesma medida visto que no compartimento do estepe cabe tranquilamente o pneu aro 16.
No posto de combustível antes do começo da viagem escolhi a gasolina visando a maior autonomia possível. Na verificação da pressão dos pneus, passei para a indicação de carga máxima, 33 lb/pol² na frente, 44 lb/pol² atrás contra os mesmos 33 e apenas 30 lb/pol² na traseira. Uma notável diferença apenas na traseira, mas que se explica tanto pela grande capacidade do porta-malas como — e principalmente ao meu ver — pelo fato de que todo o plano de carga estar posicionado atrás do eixo traseiro.
A traseira com o carro pronto para pegar a estrada obviamente baixou e uma característica irritante deste Nissan foi potencializada por tanto peso: a irritante raspada da ponteira de escapamento em valetas e lombadas. Tendo um balanço (a distância do eixo até o para-choque) acentuado, o Versa esfrega com fé e força a tal ponteirinha cromada opcional. Chatíssimo…
No dia de sol forte lembrei do Bob Sharp pois a Nissan não equipou o Versa com o para-brisa com a útil faixa escurecida, que com razão é tão exaltada pelo editor-chefe. O calor e o movimento intenso da véspera de Carnaval obrigou a não apenas buscar a regulagem máxima do ar-condicionado, baixando a temperatura, aumentando a velocidade de ventilação e acionando a recirculação, como usar o câmbio de modo frequente. O motor do Versa é valente porém, nesta condição de carga máxima e de contínuas variações de velocidade, dos 120 km/h de lei para 80 km/h ou menos, a retomada deixando a quinta marcha espetada dava sono de tão lenta.
O jeito foi usar o câmbio, muitas vezes reduzindo até para 3ª quando o trecho de estrada apresentava aclive. Observando a agulha do conta-giros (a visibilidade do painel é ótima!) percebi que a esperteza do quatro cilindros Nissan mora acima dos 3,5~4 mil rpm, barreira que quando superada muda o caráter do motor, de sonolento para espertinho. Nesse exercício de reduções o câmbio se mostrou competente. Está longe de ser um campeão dos engates sequinhos e precisos e o curso da alavanca não é exatamente curto, mas atinge a nota para passar de ano.
A estrada reta e chata com limite de 120 km/h logo deu lugar a mais interessantes curvinhas e velocidade menor, e menos movimento. Chance de explorar as qualidades do Nissan que no vira-vira passou uma razoável impressão de segurança. O ajuste de suspensões limita a rolagem mas nada tem de rígido, tendo um bom compromisso entre a absorção de irregularidades e a capacidade de encarar curvas animadinho.
Ajuda bastante a quantidade e a qualidade da borracha que pisa o asfalto, ponto para os Continental Conti Power Contact, de ótima aderência e pouco ruído, seja de rolamento, seja quando submetidos a estresse. Gostei também da direção, comunicativa, mas que poderia ser um tantinho mais pesada neste uso em estrada,
Pequenas economias “by Nissan” não combinam com o fato deste carro ser a versão topo dos Versa, vendidas a quase 60 mil reais. Um exemplo é o já citado computador de bordo exageradamente simples e sem um comando adequado para rolar as informações. Outra pequena comodidade ausente é o indicador de direção sem a função pisca-3, ideal na hora de mudar de faixa. São coisinhas bobas e que certamente não devem ter um custo elevado, mas cuja ausência não combina com a existência, por exemplo de uma central multimídia de nível razoável, com tela tátil e câmera de ré.
Aliás, falando nessa central, as opções de regulagem do áudio são pré-selecionadas, Escolher entre “Rock”, “Jazz”, “Classic”e por aí vai. Porém não há uma opção “à la carte”, ao gosto do freguês, o que resulta em ajustes longe do ideal, ao menos para o chato aqui. Outra coisa que notei foi a demora da câmara de ré em atuar. A ré e engatada e o tempo para a imagem aparecer as vezes faz com que a manobra seja realizada sem tal auxílio.
Lembrando que o trajeto de São Paulo até o destino e respectiva volta é bem acidentado, que o carro estava com carga quase plena e que o ar-condicionado não ficou desligado um minuto sequer a média de consumo me pareceu honesta: 12,3 km/l, considerando que dos 455 km rodados cerca de 60 km foram em cidade. Ao abastecer a bomba denunciou 37,1 litros, ou seja, ainda havia quatro litros no tanque.
Na indicação do computador de bordo a hora de parar no posto teria sido ao menos 10 km antes, sendo o instrumento daquele (odioso) tipo que simplesmente te abandona, passando a exibir tracinhos piscando em vez de um número qualquer. Ainda sobre consumo: na chegada a Monte Alegre a indicação de consumo era de 13,8 km/l, marca que foi derrubada pelo citado vai e vem na cidade.
Os passageiros manifestaram ser o Versa um sedã razoável para o passeio, com ponto alto (sempre ele…) no espaço para pernas. Menos positiva a impressão sobre o ar-condicionado, que no calor africano daqueles dias pareceu ser subdimensionado.
Para a semana que vem o plano é usar o pequeno sedã nas mais variadas condições de uso urbano em busca de uma espécie de contraprova da semana inicial, onde as marcas de consumo não foram exatamente boas na congestionada pauliceia.
RA
NISSAN VERSA 1,6 UNIQUE
Dias: 14
Quilometragem total: 819,7 km
Distância na cidade: 409,0 km (49,9%)
Distância na estrada: 410,7 km (50,1%)
Consumo médio: 8,6 km/l
Melhor média: 12,3 km/l (gasolina)
Pior média: 5,3 km/l (álcool)
Leia o teste completo:
1ª semana
3ª semana
4ª semana