O “cardápio” a ser servido ao Versa nesta terceira semana de avaliação foi o uso em diversas situações urbanas, alternando roteiros e ritmos. O pequeno sedã made in Resende rodou tanto em horários de pico quanto em momentos mais tranquilos (nem tanto, para dizer a verdade…) da grande metrópole paulista, que para variar apresentou um clima variado, com dias quentes e ensolarados alternados a jornadas mais fresquinhas e muita, muita chuva.
Tudo isso junto e misturado serviu para uma importante contraprova a respeito do consumo do motor 1,6 litro, que em sua estreia não impressionou muito bem neste quesito, revelando uma sede de álcool na ordem de 5,9 km/l e, na sequência, de 8,3 km/l de gasolina. Números não exatamente bons mas considerados normais especialmente por conta da topografia da região de São Paulo onde o Versa rodou prioritariamente, a zona oeste, cheia de pirambeiras. Porém, antes de falar mais sobre o consumo, vale comentar um aspecto crítico deste sedã: a climatização.
O que acontece? Desde o início do convívio com o Versa que em algumas situações o ar condicionado parece “pedir arrego”. Os dias quentes, abafados e chuvosos da semana serviram bem para fazer com que tal impressão se confirmasse. Mesmo com apenas o motorista a bordo, o sistema por vezes vacila, como se pegasse no sono por alguns instantes. Estranho. É certo que não ajuda ao Versa ter as bocas de distribuição do ar no painel tão pequenas, especialmente as duas centrais, mas o fluxo de ventilação não para e o que parece acontecer é simplesmente o ar frio esquentar. Alguns proprietários do Versa se manifestaram sobre deficiência parecida mas pode também ser que tal problema seja específico de nosso carro. Fica a dúvida.
Nos demorados quilômetros percorridos nesta semana (se o computador de bordo informasse a média horária teríamos algo como 15 km/h) o banco, especificamente o encosto, incomodou. A opção da Nissan foi pela espuma mais rígida, que associada com o revestimento em couro tornaria os assentos — na teoria — adequados para encarar muitas horas de direção. Porém, a parte alta do encosto é ligeiramente mais côncava no sentido horizontal do que o ideal. Não que eu tenha costas excessivamente largas, mas a impressão é que o pronunciado apoio lombar lateral sobe mais do que devia, deixando o meio das costas sem apoio, que por sua vez é exagerado pouco antes dos ombros. Outro aspecto infeliz é o comando da regulagem de inclinação do encosto e altura do assento, cujo acionamento exige enfiar a mão por uma fresta estreita entre banco e a coluna central.
Nesta vida em ruas acidentadas e congestionadas, alternadas a alguns trechos de via expressa (indigna do nome…) um ponto positivo foi a manobrabilidade do câmbio que, em parceria com uma embreagem leve, torna o para-e-anda pouco cansativo. Todavia, em algumas situações como ao sair em ladeirões mal pavimentados, o Versa se mostrou muito arisco, perdendo aderência com facilidade e exigindo uma suavidade no uso do pé direito maior do que acho normal. A tentativa de compensar esta tendência a patinar “queimando” a embreagem obviamente ajuda, mas por vezes senti uma vibração indevida. Seria a embreagem verdadeiramente um “calcanhar de Aquiles” deste Nissan, como comentado por alguns leitores?
Por outro lado, um item muito positivo, confirmado na buraqueira de São Paulo, é o acerto das suspensões. Nem rígidas, nem macias demais. Não transmitem as irregularidades do mau piso para o interior da cabine mas também não são do tipo exageradamente anestesiado, tornando o carro estranhamente pastoso. Bons parceiros são os pneus Continental Conti Power Contact, dos quais gostei em uso rodoviário na semana passada e que na cidade atuaram bem, especialmente no piso molhado. E falando em molhado, os limpadores de para-brisa varrem dignamente, não são barulhentos e tem velocidades e intermitência adequadas. Destaque para as seis possibilidades de varredura intermitente, que vai do intervalo de dez a dois segundos, o que significa sempre encontrar a medida certa em situação de garoa ou chuva fraca.
Quanto ao motor, o vai e vem na cidade por muitas vezes obrigou usar o acelerador de maneira mais enfática, levando o motor a rotação mais altas em situações diversas e frequentes. E daí? Daí que o quatro-em-linha do Versa não pode ser considerado um campeão de suavidade. Especialmente além das 4.000 rpm, regime ainda distante do limite – a faixa vermelha começa às 6.500 rpm – ele fica áspero e ruidoso. Incômodo demais? Não, apenas “presente” no interior da cabine, coisa que seria resolvida com um pouco mais de forração fonoabsorvente.
E finalmente, vamos falar do consumo: a marca da 1ª semana (com gasolina) de 8,2 km/l melhorou significativamente, passando à favorável média de 9,6 km/l em uso sem trechos de congestionamentos pesados e com condução mais atenta. No meio da semana uma nova medição, desta vez com muitos usos em horários de pico e enfrentando o clássicos trânsito de fim de dia com tempestades, a média caiu drasticamente para 7,0 km/l, sempre com gasolina. Enfim, o Versa não faz milagre. Não é um beberão mas tampouco um recordista em consumo.
Por ocasião de um reabastecimento, um probleminha apareceu: o frentista avisou que a ponteira de escape estava torta. Bastou tocá-la com a ponta do pé para descobrir que ela estava é totalmente solta, prestes a cair. Foi a consequência das inúmeras raspadas nos desníveis paulistanos, do posicionamento infeliz (fica baixa e exageradamente distante do final do para-choque) e da fixação feita por apenas um parafuso. Bastou puxar a ponteira com a mão para que ela saísse, pura sorte não tê-la perdido. Agora ela “mora” na lateral da porta do motorista, ocupando o espaço circular dedicado a uma garrafa e ali ficará até o fim do teste. Com isso (viva!) acabaram as raspadas da traseira no solo. Para a semana de encerramento, a previsão é mais uso na cidade e a tradicional visita à Suspentécnica. Até lá!
RA
NISSAN VERSA 1,6 UNIQUE
Dias: 21
Quilometragem total: 1.168,3 km
Distância na cidade: 757,6 km (58,2%)
Distância na estrada: 410,7 km (41,8%)
Consumo médio: 8,4 km/l
Melhor média: 12,3 km/l (gasolina)
Pior média: 5,3 km/l (álcool)
Leia o teste completo:
2ª semana
3ª semana
4ª semana