Relembrando um dia bem especial que originou matéria abaixo publicada originalmente em 8/1/11.
Vá somando aí, caro autoentusiasta:
1- Pilotar no Circuito de Interlagos, no Autódromo José Carlos Pace, é muito gostoso, seja com que carro for.
2- Se a pista estiver vazia, com toda aquela imensidão só para a gente, fica estranho, legal, dá uma sensação de privilégio.
3- Se o carro for um Ferrari F430, excelente, porque não há críticas a nada, só prazeres ao degustar uma máquina de refinamento supremo.
4- E se ainda por cima você estiver trocando o volante com um bom amigo, que pilota o fino e tem muito a te ensinar, bom… bom… isso é como realizar um sonho.
Pois é, mais um sonho que realizei, e sou grato a muitos por isso, principalmente ao Ronaldo Carbinatto, meu amigo de longa data, que nos emprestou sua máquina sem ciúme algum, dizendo: “Vai fundo. Esse carro foi feito para isso, ele precisa disso!” Como veem, esse é um verdadeiro autoentusiasta, esse é um a quem Don Enzo Ferrari venderia com gosto uma de suas máquinas, pois ela estaria em boas mãos.
Vamos lá.
O Bob e eu tivemos a difícil tarefa de testar este Ferrari F430, de cor amarelo Modena, motor V-8, 4,3-litros, 490 cv a 8.500 rpm, 47,4 m·kgf a 5.250 rpm, câmbio robotizado monoembreagem de seis marchas. Anda muito, mesmo em Interlagos, onde aquela amplidão faz com que muitos esportivos parrudos nos pareçam raquíticos. Vai de 0 a 100 km/h em 4,1 segundos, O a 240 km/h em 21 segundos, velocidade máxima de 315 km/h.
Se alguém lhe disse que ele é um carro arisco, que escapa de traseira e não há conserto, pois essa é uma característica intrínseca dos carros com motor central-traseiro, diga-lhe para inventar outra, pois o F430 avisa, e avisa direito. Quem o acertou, um pessoal lá de Modena, o fez com muita sabedoria. Souberam domar quase 500 cv. A escapada é rápida, mas nada que o piloto atento não corrija. Dando a dose certa nos comandos, ele imediatamente volta a entrar nos trilhos e segue acelerando, como se nada tivesse acontecido. Mas tudo tem limite, e não adiantam eletrônicos nem nada se o piloto se empolgar demais e bancar o idiota, passando da conta.
O galho é que quando se entra num superesportivo como este, o limite é bem mais em cima, então, não pense você que é entrar e ir mandando a bota. Não é não. O lance é ir com calma e ir sentindo o carro, volta a volta, até que, quando você vai ver, já sintonizou tudo e o carro já faz parte do seu corpo. Mesmo um piloto experiente, como o Bob — que já tem todos os sentidos preparados e aguçados para rapidamente ir recebendo as informações que o carro transmite — leva algumas voltas para realmente se sentir confiante para tirar tudo o que o carro tem para dar, sem que corramos riscos infantis e irresponsáveis.
O que mais me agradou foi o modo como o F430 entra nas curvas. É frear forte e virar suavemente o volante, que ele segue firme na linha, como o traço de um bom desenhista. A frente entra bem plantada e rápida, como se o carro ficasse feliz por entrar em mais uma curva.
As trocas de marcha, nas borboletas, são feitas em 1/6 de segundo, muito mais rápidas que seriam com um câmbio manual, na grelha, mas confesso que fez falta, ao Bob e a mim, a tal da alavanca. O Bob a procurou por diversas vezes. Volta e meia ele levava a mão ao console, procurando-a, e toda vez eu caía na risada.
Já eu, por minha vez, fiz um punta-tacco na redução para o Bico de Pato, manobra absolutamente desnecessária, pois o câmbio faz isso sozinho, e perfeitamente certo, assim que damos a tal da puxadinha da borboleta esquerda. Por sinal, as borboletas fixadas à coluna de direção, e não ao volante, mais uma vez mostraram estar no modo correto, pois em momento algum tivemos que procurá-las quando queríamos trocar marchas com o volante esterçado, coisa que acontece quando as borboletas estão fixadas no volante.
Bom, aí vão dois filminhos, que o pior camerajacú do AUTOentusiastas — eu! — filmou. Mas está valendo.
Ah! Adianto que vou chutar o balde se algum porschista fanático vier meter o pau no F430, dizendo que Porsche dá pau em Ferrari. Se guiamos Porsche, vem ferrarista falar mal de Ferrari. Se guiamos Ferrari, lá vem o porschista.
Quem gosta de esportivos, mesmo, gosta de todos, absolutamente todos, e quem não gosta de samba, bom sujeito não é, é ruim da cabeça, ou doente do pé.
AK
Veja também o vídeo feito da parceria do AE com o canal SpeedMasters.
E uma galeria para relembrarmos alguns detalhes do F430.
(fotos dessa galeria: Ferrari)