Essa história começa em 2005 quando eu decidi me dedicar no projeto de restauração de um carro antigo. A primeira iniciativa foi escolher qual modelo comprar, e de fato isso não foi muito difícil. O Fiat 147 já estava em meus planos há muito tempo, por pelo menos três importantes razões: 1) Foi o meu primeiro carro (ainda com 14 anos), e que me acompanhou de 1983 e 1991, primeiro um 147 GL 1978 (1050) e depois um 147 L 1980 (1300 a álcool) frente Brio; 2) Em minha opinião, o 147, ainda em 2005 já tinha potencial para se tornar um clássico, pois foi o primeiro carro da Fiat no Brasil, repleto de inovações tecnológicas para época e um carro difícil de encontrar em boas condições rodando pelas nossas ruas; 3) Era, e ainda é, um carro com preço acessível para compra, bem como para obter peças e realizar a manutenção, embora atualmente em 2016, já não seja tão fácil encontrar peças.
Uma vez definido que seria um 147, a outra tarefa, muito mais árdua, foi a de encontrar um em bom estado e com um valor razoável. Realmente, foram quase seis meses de intensa procura, várias viagens pelo interior de São Paulo e buscas incessantes na minha cidade (Sorocaba, SP), incluído abordagens no melhor estilo do seriado “Louco por Carros”… Porém, quando eu estava quase desistindo de procurar, encontrei o seguinte anúncio no Mercado Livre: Fiat 147 GLS 1979 branco muito original. Realmente era tentador, pois o GLS era um modelo de luxo para época, e também foi um modelo pouco vendido da linha 147, portanto deveria haver poucos GLS “sobreviventes”, isso o deixava muito atraente.
Outra coisa que me motivou foram as fotos do anúncio, pois era possível identificar que o carro estava muito alinhado e realmente bem original, inclusive com o singular volante esportivo de três raios com o logotipo da Fiat 1925, na grande dianteira ainda ostentava o emblema original com o mesmo logotipo, tudo isso além de outros detalhes me animaram a percorrer quase duas horas para chegar até Rio Claro,SP, e é claro que durante todo o trajeto eu não conseguia parar de pensar o quanto eu queria aquele carro e ao mesmo tempo eu torcia para não me decepcionar ao vê-lo.
Resumindo comprei o carro, sabendo que haveria um longo caminho para que o “carrinho branco”, que é como minha filha de quatro anos carinhosamente chama o 147 GLS, se tornasse um automóvel digno de coleção. Nessa época, já me sentia realizado, pois já havia sido concretizada a meta de adquirir um carro antigo para posteriormente recuperá-lo nas condições de originalidade e para quem sabe um dia obter um Certificado de Originalidade, o que daria direito à placa preta.
A terceira fase do processo, e com certeza muito empolgante, foi o trabalho de restauração, os orçamentos e pesquisas reais e virtuais nos ferros-velhos e na internet, respectivamente, as muitas tardes de compras em lojas especializadas e manhãs de garimpos nos mercados de pulgas, típicos dos encontros de automóveis antigos. Durante essa fase, foi mágico observar a metamorfose, ver o carro renascer e se transformar de um veículo anônimo para um automóvel que faz as pessoas sorrirem ao vê-lo passar, até mesmo baterem fotos ou ainda capaz de fazer muitos motoristas perguntarem, enquanto aguardam o sinal verde nos semáforos, “Quer vender?”. Sem dúvida, isso traz uma sensação muito recompensadora.
Não poderia deixar de registrar, o quanto é interessante uma visita ao posto de combustível para abastecer, é quase impossível não encontrar alguém curioso a respeito das “qualidades” do Fiat 147 ou ainda que não tenham alguma história relacionada com o respectivo carro, para contar, histórias sempre repletas de nostalgia.
Realmente, não há do que me arrepender do projeto que iniciei em 2005. Após mais 10 anos de história com o 147 GLS, posso, sem sobra de dúvida, afirmar que o prazer que um carro antigo pode proporcionar é único. Durante todos esses anos, o projeto de restauração me permitiu fazer amizades, viver inúmeros momentos de lazer com minha família, ocupar o tempo livre de uma forma produtiva, aprender mais sobre as pessoas e motores, preservar a história, compartilhar conhecimentos e realizar vários sonhos, como. por exemplo, o de pilotar o 147 no Autódromo José Carlos Pace (Interlagos) por duas vezes no Torneio de Regularidade, promovido pelo lendário piloto Jan Balder.
Gostaria de agradecer ao leitor por sua paciência e ter acompanhado esse relato até o final. Com certeza você é um apaixonado por carros, especialmente pelos antigos como eu, e talvez tenha se identificado com essa singela história sobre a experiência de restauração do Fiat 147 GLS, o qual, finalmente em 2013 obteve o tão esperado Certificado de Originalidade.
MC