Confesso que estava um pouco receoso ao pegar a Citroën Aircross 1.5 Manual Live para a avaliação no uso. Explico por quê. Imediatamente antes eu passara uns dias com a C4 Picasso, a minivan topo da marca no país, inclusive viajei com ela, e a achei excelente sob todos os aspectos; um dos veículos que melhor cumprem o que propõem. Como bem relatou o Roberto Agresti em sua avaliação no Teste de 30 Dias, tudo na C4 Picasso é bom; suspensão, espaço interno, motor (1,6 THP), consumo de combustível, design, fora que ela mima a todos com tantas conveniências e confortos que só se encontram em carros muito mais caros.
Temi, portanto, ter ficado mal acostumado após ser paparicado como se fosse um delicado principezinho indiano. E então, saindo dela eu iria pegar a minivan de entrada da marca, cujo motor tem quase metade da potência e os mimos não estão nessa profusão toda.
Mas acontece que a Aircross 1.5 Manual, versão Live, também mostrou que é outro ótimo conjunto. Tanto gostei que de cara citarei os únicos senões encontrados: o mostrador da direita, o que dá as indicações do nível de combustível e do computador de bordo, de dia sofre com reflexos a ponto de dificultar bastante as suas leituras. Já o velocímetro e o conta-giros não padecem desse mal.
Daqui por diante, se o leitor me permitir, só terei elogios a ela. Boa mesmo. Resumindo: espaçosa, ágil, boa de chão, macia, silenciosa, econômica, confortável, boa ergonomia, leve de guiar, anda o suficiente, viaja bem, motor elástico, moderna. Vamos, portanto, ao detalhamento.
A começar pelo motor. Eu já avaliara a Aircross com o motor mais potente de 1,6 litro, que com gasolina produz 115 cv a 6.000 rpm e com álcool, 122 cv a 5.800 rpm; e 15,5/16,4 m·kgf a 4.000 rpm (G/A), e ele mostrara que dava com sobra conta do recado. Mas esse de 1,5 litro têm praticamente 30 cv a menos, e essa diferença não é pouca coisa. Sinceramente, eu temia que com esse motor ela ficasse lerda. Mas ela não ficou, não. Anda bem, mesmo. Analisando os dois motores se vê o por quê disso.
O motor 1,5-l gera 93 cv a 5.500 rpm e 14,2 kgf?m a 3.000 rpm (álcool). O 1,6-l gera 122 cv a rpm e 16,4 kgf?m a 4.000 rpm (álcool). A potência máxima do 1,5-l é 23,8 % menor que a do 1,6-l, uma grande diferença, mas o torque máximo dele é só 13,4 % menor, e seu pico de torque vem numa rotação 1.000 rpm mais baixa. Sendo assim, conclui-se que em torno dessa faixa de rotação, 3.000 rpm, a potência disponível oferecida por ambos os motores não difere muito, portanto, a imediata retomada de velocidade que proporcionam também são parecidas. A fábrica informa que a 2.000 rpm o motor 1,5-l entrega 86% do torque máximo, portanto 12,2 m·kgf, o que significa potência de 32 cv a apenas 2.000 rpm. É claro que acima dessa faixa de rotação o 1,6-l mostra sua força e cresce com bem mais vigor, mas no dia a dia de uso normal ao rodar na cidade e viajar sossegado com a família o 1,5-l não nos faz passar vontade de modo algum.
O 1,5-l — aliás 1,45 litro, sua cilindrada exata é 1.445 cm³ — é realmente bastante elástico. Fora que é tremendamente suave e silencioso. Um muito bem feito arroz-com-feijão, e digo arroz-com-feijão porque tem “só” duas válvulas por cilindro e comando de válvulas de fase fixa, não variável. Nada de última palavra em modernidades (só o bloco de alumínio). Simples, mas muito bem feito. Funcionamento liso, balanceado e sempre disposto a empurrar com energia. Motor não falta; portanto, temi à toa.
E econômico. Com álcool, fez na cidade uma média de 7 km/l e na estrada, 9,5 km/l. Com gasolina fez 10,5 km/l e 14,2 km/l, respectivamente. Na cidade ando devagar, pé leve, giro baixo, mas na estrada, viajando sozinho como viajei, a tocada é rápida, sem muito refresco.
Na estrada com o carro vazio tem-se a impressão que o câmbio é um pouco curto, principalmente a 5ª e última marcha, já que a 120 km/h reais o giro está em 4.000 rpm. Não incomoda de modo algum, já que, como frisei, o motor funciona suave e muito silencioso, mas percebe-se nitidamente que ele bem que poderia estar a umas 400 rpm abaixo disso que mesmo assim proporcionaria boas retomadas e também não afrouxaria em aclives. Porém a minivan estava vazia, e ela deve estar preparada para levar família, bagagens, bagageiro com pranchas de surf e saiba-se lá o que mais, então, pensando bem, conclui-se que o câmbio está correto para o modelo. Sozinho nela viaja-se com tranquilidade a 130 ou 140 km/h sem que ruídos de motor incomodem. Para uma minivan familiar isso basta.
E ela é bem estável. Muito disso se deveu a essas versões com motor 1,5-l virem com pneus de asfalto – bons Michelin Energy 195/55R16H. A Aircross com motor 1,6-l vem com pneus de uso misto e a diferença que isso faz é grande. Particularmente, acho que os pneus de uso misto deveriam ser opcionais. Se o cliente quiser, se for para usá-la na terra, lama, que peça o misto. Se não disser nada, que vá com o de asfalto que estará muito melhor servido em segurança, conforto e prazer ao dirigir.
O acerto da suspensão — McPherson com barra estabilizadora na dianteira, e eixo de torção, também com barra estabilizadora, na traseira — está perfeito. Macia, confortável e firme o bastante. Pouco rola nas curvas e as faz com precisão e segurança. Um ótimo acerto de chassi e suspensão. E bons freios também. Usa discos ventilados na frente e tambores atrás. Freia muito bem, com fácil modulação. No ponto.
Os bancos são confortáveis, anatômicos, boa espuma, o do motorista com regulagem de altura. É bem espaçosa atrás. Eu viajaria sem apertos atrás de mim, e olhe que dirijo mais distante que o nosso padrão oficial, o “Bob atrás do Bob”. Volante de boa pegada e com ampla regulagem de altura e distância. Imediatamente se acha posição ideal para dirigir. Viaja-se por horas sem que se altere a posição do banco, sinal de que se está confortável e em boa posição. Pedais bem posicionados permitem que o punta-tacco saia naturalmente. O pedal do acelerador tem uma espécie de segundo estágio no final de curso, na verdade “herança” da versão 1,6-l automática topo de linha Shine que tem limitador de velocidade, para se poder aumentá-la em caso de necessidade.
Os engates de marchas são leves, precisos e demandam movimentos curtos. O ar-condicionado é eficiente, está bem dimensionado, e dá conta de refrescar o grande volume interno. Há uma saída de ar climatizado dentro do porta-luvas, no caso para refrescar água, chocolate etc., um pequeno detalhe barato e de grande utilidade.
O porta-malas comporta 403 litros e quando se rebate os bancos isso sobe para 1.500 litros. O tanque de combustível leva 55 litros. A mininvam pesa 1.227 kg, portanto é leve.
A conclusão é que é uma minivan que entra forte na concorrência. Sua relação custo-benefício é muito interessante, fora que seu design moderno agrada. Não é à toa que, segundo a Citroën, suas vendas estão sendo um sucesso. Já que as nossas queridas e úteis peruas foram pulverizadas no nosso mercado, o jeito é buscar nas minivans a praticidade e a utilidade que as peruas proporcionavam.
AK
FICHA TÉCNICA CITROËN AIRCROSS MANUAL LIVE | |
MOTOR | |
Denominação | TU4M Flex |
Tpo de motor | Otto, arrefecido a líquido |
Material do bloco/cabeçote | Alumínio |
Nº de cilindros/disposição/posição | 4/em linha/transversal |
Dâmetro x curso/cilindrada | 75 x 82 mm, 1.449 cm³ |
Taxa de compressão | 12,5:1 |
Nº de com. de válvulas/localização | Um/cabeçote |
Acionamento do comando de válvulas | Correia dentada |
Nº de válvulas por cilindro | Duas |
Potência máxima | 89 cv (G)/93 cv (A) a 5.500 rpm |
Torque máximo | 13,5 m·kgf (G)/14,2 m·kgf (A) a 3.000 rpm |
Formação de mistura | Injeção multiponto |
SISTEMA ELÉTRICO | |
Tensão/alternador | 12 volts / 55 ampères |
TRANSMISSÃO | |
Tipo | Transeixo de 5 marchas mais ré manuais, tração dianteira |
Relações das marchas | 1ª 3,636:1; 2ª 1,950:1; 3ª 1,281:1; 4ª 0,975:1; 5ª 0,767:1; ré 3,583:1 |
Relação do diferencial | 4,923:1 |
Embreagem | Monodisco a seco, comamdo hidráulico |
SUSPENSÃO | |
Dianteira | Independente, McPherson, braço triangular, mola helicoidal, amortecedor pressurizado e barra estabilizadora |
Traseira | Eixo de torção, mola helicoidal, amortecedor pressurizado e barra estabilizadora incorporada ao eixo |
DIREÇÃO | |
Tipo | Pinhão e cremalheira. assistência elétrica indexada à velocidade |
FREIOS | |
Dianteiros | A disco ventilado |
Traseiros | A tambor |
Operação | ABS com EBD |
RODAS PNEUS | |
Rodas | Alumínio, 5,5Jx16 |
Pneus | 195/55R16H |
DIMENS’ÕES | |
Comprimento | 4.097 mm |
Largura | 1.767 mm |
Altura | 1.694 mm |
Entreeisos | 2.542 mm |
CAPACIDADES E PESOS | |
Compartimento de bagagem | 403 litros / 1.500 litros com banco traseiro rebatido |
Tanque de combustível | 55 litros |
Peso em ordem de marcha | 1.227 kg |
DESEMPENHO | |
Aceleração 0-100 km/h (s) | N.D. (estimada 10,5~11,5 segundos) |
Velocidade máxima (km/h) | N.D. (estimada 170 km/h) |
Consumo cidade (km/l, comput. de bordo) | 10,5/7 km/l (G/A) |
Consumo estrada (km/l, comput. de bordo | 14,2/9,6 km/l (G/A) |
CÁLCULOS DE CÂMBIO | |
v/1000 em 5ª | 30 km/h |
Rotação a 120 km/h em 5ª | 4.000 rpm |
Rotação à vel. máxima estimada | 5.660 rpm |