O Etios chega à metade do Teste de 30 dias do AE subindo vários degraus no meu conceito. Mais acostumado com suas características — a mais notada delas a simplicidade no acabamento (mesmo os relativos a esta supostamente requintada versão Platinum) — é obrigatório e justo ressaltar o quanto ele funciona bem.
Usado em cidade, enfrentando o sempre encrencado trânsito paulistano, o menor dos sedãs da marca vendido no Brasil surpreende principalmente por duas qualidades. A primeira é a sensação de facilidade com a qual se deixa levar, e o maior cúmplice desta boa característica é a elasticidade de seu motor. O quatro-em-linha de 1,5 litro “sobra”, especialmente se levado como se deve. E como se deve? Explorando o vigoroso torque que já a partir dos 1.500 rpm demonstra ser mais do que capaz de levar à frente a massa de cerca 1 tonelada do Etios.
A receita é acelerar pouco e passar as marchas antes do usual. Esse é o conselho que eu daria a quem, vindo de outro sedã desta categoria, comprasse um Etios. Diferentemente do recém-avaliado Versa, cujo motor de 1,6 litro brilha em alta, quase pede para ser acelerado a fundo, exibindo vigor esportivo e 111 nervosinhos cavalos, o motor do Etios prefere se destacar em regimes de rotação mais baixos. Na ficha técnica a Toyota declara 92/96,5 cv (G/A), cifra quase 20% inferior ao do rival Nissan. No entanto, o torque de 13,9 m·kgf no Etios (G ou A) aparece a 3.100 rpm, regime inferior ao torque máximo do motor do Versa, de 15,1 m·kgf (nem 8% superior) a 4.000 rpm. Apesar das cifras menores, ao optar por acalmar a cavalaria e deixá-la mais “gorda” em baixas rotações os técnicos da Toyota tornaram o Etios um carro muito agradável de se dirigir.
Nas saídas da tocada urbana, onde um pulo rápido no semáforo é geralmente seguido por um ritmo de procissão, de gado na manada, o Etios se mostra em casa. Como dito, usar 3ª ou 4ª marcha a menos de 40 km/h é possível e se caso haja necessidade de evoluir a 50 ou 60 km/h, afundar o pé no acelerador resulta em boa resposta — na verdade, nem é preciso afundar muito.
Outra feliz característica do carro é a maciez de comandos. Embreagem e acelerador são como devem ser, suaves, macios e de atuação precisa. A direção com assistência elétrica é um espetáculo de suavidade e o câmbio chega bem perto da nota máxima apesar de as vezes “engolir”a ré reclamando.
De fato, a principal impressão que o Etios transmite é que o motor o carrega sem fazer força, o carro é “solto” e isso associado ao caráter torcudo do motor resulta em bom consumo. Mesmo encarando as pirambeiras da zona oeste de São Paulo dia sim e outro também, rodando em horário de pico no para e anda infernal da pauliceia, o Etios fez perto de 9 km/l de gasolina o que, para tais condições, é bom.
Menos bom é, porém, a evidente leitura do piso ruim que as suspensões deste Toyota oferecem a quem ocupa a cabine. Não se trata de suspensões barulhentas, mas sim de suspensões que comunicam o que encaram de maneira evidente demais. Até mesmo o ruído de rolagem dos pneus (Pirelli Cinturato P1 185/60R15) e a ação das pastilhas de freio sobre os discos são notados de modo claro. Já o ruído do motor, por sua vez, não é incômodo a não ser se levado para passear perto da faixa vermelha coisa que não é quase nunca necessária em cidade.
Fazer supermercado, estacionar em vagas apertadas, meditar em congestionamentos… fizemos tudo isso com o Etios. O porta-malas amplo abriga compras encaixotadas e sacolas sem entrar em crise, faltam apenas ganchos para prender redes de contenção. Já a câmara de ré ocupa a tela colorida do centro do painel que, associada ao sinal sonoro, facilita a vida nas vagas de rua ou dos estacionamentos. E quanto a mofar no trânsito… há a TV! Sim, televisão a bordo, assim como rádio, navegador por GPS, CD player e duas portas USB escondidas no porta-luvas que podem servir para espetar um pen drive carregado de músicas e dar energia ao telefone celular simultaneamente. A TV não mostra imagens com o carro em movimento, como deve ser em prol da segurança, mas nas paradas basta puxar o freio de mão para que a imagem apareça. O navegador tem um grafismo razoável mas peca por não estar 100% atualizado, indicou ruas de sentido proibido um par de vezes. E quanto ao áudio, a Toyota foi sovina, pois há apenas quatro alto-falantes, dois situados na face superior do painel, dois nas portas dianteiras. Quem vai atrás ou não ouve bem, ou obriga quem ocupa os bancos dianteiros a colocar o volume nas alturas…
Como avisado na semana passada, o Etios enfrentou nossa tradicional viagem ao litoral norte paulista e, como três adultos a bordo mais porta-malas pela metade mostrou suas qualidades rodoviárias, assim como algumas lacunas. Ponto para a suavidade de rodagem, o tal do ir “soltinho” que permanece em uso a 100-120 km/h. Estabilidade direcional é outra qualidade assim como na serra, descendo ou subindo, a tocada comportada não resultou em nenhuma observação negativa digna de nota. A direção que é leve em uso urbano permanece leve, mas não transmite insegurança. Confortável? Sim. Os bancos oferecem bom apoio e mesmo não havendo regulagem de distância do volante, houve como encontrar o lugar certo para dirigir ajudado nisso pela regulagem de altura do banco. Pecado mais do que comentado, o painel minimalista e central, não oferece leitura precisa e a noite a ausência de dimmer, o reostato que regula a intensidade de luz, faz muita falta. Já a tela da central multimídia pode, felizmente, ser apagada.
A melhorar é mesmo é o ruído interno. A 120 km/h pneus em atrito com o asfalto, um pouco de ruído de motor e o ar se esfregando na carroceria resultam na necessidade de elevar o tom da voz a um nível acima do normal para conversar com quem vai ao lado. Para comunicação com quem está no banco de trás, só berrando.
No litoral, estradas de terra, concreto e tudo junto e misturado revelou a boa atitude deste Toyota para encarar terreno ruim. A parte mais sujeita a contatos é a frente, a saia do para-choque dianteiro na parte central. Mesmo assim, é raro o Etios tocar o solo. Ainda bem, pois não há protetor de cárter. Rodando em piso de aderência baixa, enfrentando desníveis que facilmente geram perda de aderência, o Etios fez ver que mesmo não tendo controle de tração sua capacidade de jogar sua potência no solo sem escândalo é mais do que razoável.
O abastecimento no final da viagem revelou que para ir e voltar da praia, trajeto de cerca de 466 km, o Etios fez 13,5 km/l. Na ida o ar-condicionado esteve sempre ligado. Na volta, nunca. Boa marca, condizente com o “peso do pé” do motorista, apressado na ida, tranquilo na volta, e com o trajeto cumprido de maneira competente e segura, apesar das lacunas observadas, a maioria de caráter periférico, que não comprometem o julgamento da essência deste automóvel cujo projeto — lembrar é importante! — visa economia de exercício e essencialidade construtiva e técnica. Algo que nos faz crer que esta versão Platinum é um tanto quanto incongruente se considerado o preço perto dos 60 mil reais. Como eu disse na 1ª semana, o Etios mais adequado para mim é o de entrada, que custa cerca de 45 mil e não esse topo da linha.
RA
TOYOTA ETIOS SEDÃ PLATINUM
Dias: 14
Quilometragem total: 1.009 km
Distância na cidade: 529 km (52,4%)
Distância na estrada: 480 km (47,6%)
Consumo médio: 10,35 km/l (gasolina)
Melhor média: 13,5 km/l (gasolina)
Pior média: 8,5 km/l (gasolina)
FICHA TÉCNICA ETIOS SEDÃ PLATINUM | |
MOTOR | |
Descrição | 4 cilindros em linha, duplo comando de válvulas no cabeçote, corrente, 16 válvulas, atuação direta, instalação transversal, flex |
Material do bloco e cabeçote | Alumínio |
Cilindrada | 1.496 cm³ |
Diâmetro e curso | 72,5 x 90,6 mm |
Taxa de compressão | 12,1:1 |
Potência | 92 cv (G) e 96,5 cv (A) a 5.600 rpm |
Torque | 13,9 m·kgf (G e A) a 3.100 rpm |
Formação de mistura | Injeção eletrônica seqüencial no duto |
Combustível | Gasolina E22 e/ou álcool (flex) |
TRANSMISSÃO | |
Câmbio | Transeixo dianteiro de 5 marchas manuais, tração dianteira |
Relações das marchas | 1ª 3,545:1; 2ª 1,913:1; 3ª 1,310:1; 4ª 0,973:1; 5ª 0,804:1; ré 3,214:1 |
Relação do diferencial | 3,944:1 |
SUSPENSÃO | |
DIANTEIRA | Independente, McPherson, braço triangular inferior, mola helicoidal, amortecedor pressurizado e barra estabilizadora |
TRASEIRA | Eixo de torção, mola helicoidal e amortecedor pressurizado e barra estabilizadora integrada ao eixo |
DIREÇÃO | |
Tipo | Pinhão e cremalheira, assistência elétrica indexada à velocidade |
Diâmetro mínimo de curva | 9,8 m |
FREIOS | |
Dianteiros | A disco ventilado |
Traseiros | A tambor |
Controle | ABS e distribuição eletrônica das forças de frenagem |
RODAS E PNEUS | |
Rodas | Alumínio, 5,5J x 15 |
Pneus | 185/60R15 |
DIMENSÕES | |
Comprimento | 4.265 mm |
Largura | 1.695 mm |
Altura | 1.510 mm |
Distância entre eixos | 2.550 mm |
PESOS E CAPACIDADES | |
Peso em ordem de marcha | 980 kg |
Porta-malas | 562 litros |
Tanque de combustível | 45 litros |
DESEMPENHO | |
Aceleração 0-100 km/h | 11,8 s (G) e 11,3 s (A) |
Velocidade máxima (est., álc.) | 173 km/h |
CÁLCULOS DE CÂMBIO | |
v/1000 em 5ª | 34,8 km/h |
Rotação a 120 km/h em 5ª | 3.450 rpm |
Rotação à vel. máxima em 4ª | 6.000 rpm |
GARANTIA | 3 anos ou 100.000 km |
TROCA DE ÓLEO | 10.000 km ou 1 ano |
REVISÕES | 10.000 km |