“Elas vão amar!”. Este foi meu primeiro pensamento ao conhecer o Peugeot 208 em versão Allure, a mais equipada entre aquelas com o novo motor PureTech de 1,2 litro e que é anunciada no site da Peugeot por R$ 55.490. Tal carro, alvo de teste recente pelo Bob (28/5), me despertava curiosidade desde seu lançamento por razões múltiplas que relatarei no decorrer deste teste de 30 dias.
Antes mesmo de entrar e dar a partida, na voltinha que dei rodeando o carro como fazem os manobristas de estacionamento à procura de danos, o impacto foi muito positivo. A cor insólita — um marrom metálico com tom avermelhado (marron Dark Carmin) —, os cromados aplicados com parcimônia e sabedoria, a harmonia das formas arredondadas e o capricho exalado na realização. Se nele em vez do logo do leão houvesse quatro argolas, uma hélice estilizada ou uma estrela de três pontas tudo estaria nos conformes: a palavra “premium” associada às marcas sugeridas combina com a presença de quatro bolsas de ar de série neste Allure e principalmente com o impacto visual externo deste 208. E dentro?
Dentro é quase isso. Lembrando um pouco dos orientais recém-avaliados por mim, Nissan Versa, Toyota Etios e até mesmo o festejado Honda Fit, todos em versão topo de linha, o que este 208 transmite em termos da chamada “percepção de qualidade” é digno de nota. Os responsáveis pelo design externo e interno merecem um prêmio pela realização. O painel inovador, que se visualiza por cima do pequeno volante ovalado, é um primor. O próprio volante é um dos chamarizes e o restante da cena mereceria o comentário que me vem à mente em voz feminina: uma gracinha!
Expulso o meu lado feminino aos chutes. Aqui a análise racional, penso eu. Mas depois de alguns segundos me vejo observando a decoração do tecido dos bancos a ausência de arestas e o iluminado interior que o amplo teto de vidro proporciona e me convenço que elas (e eu…), definitivamente, vão amar…
Dei a partida e não preciso de mais do que três trocas de marcha para me surpreender, positivamente. O premiado motor de três cilindros não é exatamente uma novidade para mim. O conheci no Citroën C4 Cactus com o qual rodei na Itália em novembro passado, avaliação que você pode ler clicando aqui. Porém, esta versão usada do Peugeot, apesar da cilindrada praticamente idêntica (lá 1.199 cm³, aqui 1.197,3 cm³), tem uma diferença fundamental, não tem a superalimentação oferecida pela pequena turbina do exótico Cactus. Por conta disso tem menos potência (84 contra 110 cv) e torque (12,2 contra 20,9 m·kgf ). Isso considerando a comparação gasolina-gasolina, uma vez que com álcool a potência do 208 sobe a 90 cv e o torque, a 13,0 m·kgf. Todavia as “vozes” do Cactus e do 208 são parecidíssimas, o típico ronco dos tricilindros. Algo que para os que jamais travaram contato com tal arquitetura de motor definiria como parecida com a batida de um motor diesel (mais macio) em marcha-lenta e um farfalhar em alta que, desculpem, só encontro paralelo no reino das motocicletas, onde um trio de pistões é mais usual e bem anterior à redescoberta realizada pela indústria do automóvel em tempos mais recentes.
O “elas vão amar” volta à minha mente. Desta vez por questões dinâmicas. A sensação de controle, de carro “fácil de guiar” é um destaque enorme deste Peugeot. O pequeno volante (fofo?) comanda a direção com assistência elétrica que torna o primeiro contato em manobra uma piada de tão fácil. Já no trânsito pesado de uma sexta-feira paulistana, o rodar macio oferecido pela suspensão, a ausência de ruídos — mal se ouve o motor mesmo levando as marchas a visitarem a área próxima da faixa vermelha — e a maciez da embreagem e da alavanca de câmbio são destaques. Ah, a alavanca de câmbio: o curso é longo, a distância entre a 2ª e a 5ª importante mas… tudo macio! Nós, autoentusiastas entupidos de testosterona, valorizamos sempre o engate sequinho, curto, esportivo, cujo exemplo mais conhecido é o padrão Volkswagen. Mas me concedo (manifestem-se!) uma reflexão: uma alavanca que viaja mais, mas que não transmite à mão nenhum tipo de mecanicidade (existe isso?), cujo manuseio está mais para uma colher enfiada na polenta do que a alavanca do vitrô pode ser igualmente boa?
E para quem? Para elas, talvez. Digressão estilo “born in the fifties”: quando entrei pela primeira vez em um Corcel, lá pelo fim dos 60, achei estranha aquela alavanca longa, um espeto de quase um metro cravado no assoalho. Acostumado aos Fuscas aquilo me pareceu primário, digno da Kombi e não de automóvel. Com o tempo ma acostumei, e gostei.
Volto ao Peugeot 208: depois de um trecho de trânsito pesado de não mais de dez quilômetros percorridos em 45 minutos, ao chegar ao destino, queria continuar. Fato raro querer dirigir em trânsito pesado! Apesar do para e anda o 208 me tratou mais do que bem. A maciez foi o destaque, tanto do carro ao percorrer o pavimento péssimo de São Paulo quanto dos comandos. E aos mimos sedutores como o teto de vidro (gostaria que ele ao menos levantasse para oferecer circulação do ar interno), o sistema multimídia longe de ser enigmático no primeiro contato, a climatização bizona e um computador de bordo que atende curiosos como nós, com dois registros em separado que podem ser visualizadas tanto em uma pequena área dos instrumentos, quanto na tela tátil que ocupa a posição de destaque no centro do painel.
Tudo são flores? Quase. Confesso ter brigado mais do que o normal para achar a posição de dirigir ideal. Regulagem não falta, pois o volante pode ser ajustado em altura e em distância, assim como o banco também oferece todos os posicionamentos de praxe (apesar do encosto oferecer o ajuste em degraus e não o chamado “micrométrico”). Porém, o Peugeot 208 tem um padrão de espuma nos bancos que foge do usual em carros franceses, que normalmente é macio. O assento é pequeno mas de boa conformação. Já o encosto poderia ser, para meu gosto, um tanto mais côncavo, abraçando mais as costas. Do jeito que é oferece um apoio no centro bem pronunciado que faz o tronco quase que implorar por apoio lateral. Este julgamento talvez possa ser revisto, pois larguei o Renault Sandero R.S. e seu soberbo, confortável e esportivo banco e subi no 208. Me deem mais uma semana para um melhor julgamento.
O que sei, e não preciso esperar, é que o 208 se deixa levar como uma pluma em cidade, e que o registro de consumo nestes primeiros quilômetros totalmente urbanos e congestionados foi ótimo: 12 km/l, considerando que o que havia no tanque era gasolina conforme informado, mas a certeza desta marca virá quando este primeiro reservatório, sempre suspeito, secar e eu tiver certeza de que não há mistureba a mais do que os 27% de álcool impingidos por lei.
No meio da tarde desta sexta-feira de estreia do Peugeot 208 no Teste de 30 Dias, a chance de fugir de São Paulo rumo ao litoral norte apareceu. Sem piscar duas vezes a oportunidade foi colhida. O elenco tradicional — dois adultos e duas adolescentes — e a chance de verificar tanto o espaço interno quanto a capacidade do porta-malas. No 1º item, felizes todos. Não sobra, mas não falta. Imitando Bob no já famoso “eu atrás de mim” notei que os meus joelhos (1,83m de estatura) não chegam a tocar o encosto do banco dianteiro mas a cabeça roça a lateral do teto, coisa que sentando no meio não acontece. Quanto à bagagem, a ordem de levar o mínimo foi atendida e não houve necessidade de colocar bagagem entre as passageiras do banco de trás (cujo encosto não é bipartido na versão Allure…) e tampouco tampar a visão pelo vidro traseiro como o que fosse.
Depois de mais de uma hora para chegar à rodovia comprovando a bondade do 208 em termos de comandos e condução no ambiente congestionado, a via livre trouxe mais boa surpresas. Apesar da rotação relativamente elevada aos 120 km/h regulamentares (3.800 rpm), o conforto acústico à bordo é digno de nota. No ritmo de viagem e com lotação praticamente plena, a estabilidade direcional correta e o fôlego do 1,2 litro surpreende. Não é um portento no chamado “allungo”, ou seja, quando levado a girar em alta rotação, mas por outro lado quase um fenômeno de elasticidade e boa energia em regimes baixos e médios. Logo entendo que não vale elevar demais a rotação mas sim explorar uma elasticidade diferenciada, patrimônio de motores com fracionamento menor do que o habitual tetracilíndrico. Permitam-me voltar ao meu lado duas rodas: não é a patada da trail monocilíndrica, mas tampouco um motor que exija ser sempre levado às alturas.
Aspecto prático relevante: no inferno de lombadas que separa as cidades de Caraguatatuba de Ubatuba, 30~40 km de percurso, passar nas protuberâncias em 3ª marcha a 20 km/h ou menos e afundar o pé na sequência significa progressão sem a malvada sensação de estar fazendo mal ao motor. Tal atitude até gerou o comentário da acompanhante: “tá com preguiça de trocar de marcha?”. Não. Apenas é possível proceder assim com o motor PureTech. Acreditem. E acreditem também na marca de consumo, de 16,2 km/l para o percurso rodoviário, tendo zerado um dos computadores de bordo assim que me livrei da encalacrada Marginal Tietê. Bom, né? Bom nada, ótimo. Imagine se o carro estivesse vazio e a condução fosse levemente mais atenta? Não precisam imaginar pois foi o que aconteceu na volta. Mesmo tendo que encarar o desnível de mais de 700 metros para chegar ao Planalto a marca foi ainda melhor, 16,4 km/l, o que credito não apenas à uma pressa menor do que ao não uso do ar-condicionado.
O Peugeot 208 encerrou sua primeira semana na sequência deste movimentado início nos tradicionais percursos urbanos “montanheses” da zona oeste paulistana, bairros de Perdizes, Sumaré, Pompeia e Alto da Lapa. No castigo dos trajetos curtos entremeados por longas paradas, a pior marca vista foi de 8,4 km/l e uma média global sempre acima dos 12,9 km/l, o que, sinceramente, é cifra que não só elas como eles, definitivamente, vão amar.
RA
PEUGEOT 208 Allure 1,2
Dias: 7
Quilometragem total: 573 km
Distância na cidade: 153 km (27%)
Distância na estrada: 420 km (73%)
Consumo médio: 12,9 km/l (gasolina)
Melhor média: 16,4 km/l (gasolina)
Pior média: 8,4 km/l (gasolina)
Média horária: 36,0 km/h
Tempo ao volante: 15h55min
FICHA TÉCNICA PEUGEOT 208 ALLURE 1,2 | ||||
MOTOR | ||||
Denominação | PureTech 1,2 | |||
Tipo de motor, instalação | Otto, arrefecido a líquido, transversal, flex | |||
Material do bloco/cabeçote | Alumínio | |||
Nº de cilindros e disposição | Três, em linha | |||
Diâmetro x curso | 75 x 90,34 mm | |||
Cilindrada | 1.197,3 cm³ | |||
Comprimento da biela | 145,6 mm | |||
Relação r/l | 0,31 | |||
Taxa de compressão | 12,5:1 | |||
Nº de comandos/localização | Dois, cabeçote, variador de fase na admissão e escapamento | |||
Acionamento dos comandos | Correia dentada | |||
Válvulas por cilindro | Quatro | |||
Potência máxima | 84 cv (G) e 90 cv (A), a 5.750 rpm | |||
Torque máximo | 12,2 m·kgf (G) e 13 m·kgf (A), a 2.750 rpm | |||
Rotação limite | 6.500 rpm (corte “sujo”) | |||
Formação de mistura | Injeção no duto | |||
Combustível | Gasolina e/ou álcool | |||
SISTEMA ELÉTRICO | ||||
Tensão/bateria/alternador | 12 V / 60 A·h / 120 A | |||
TRANSMISSÃO | ||||
Rodas motrizes | Dianteiras | |||
Tipo | Transeixo manual de 5 marchas + ré | |||
Relações das marchas | 1ª 3,636:1; 2ª 1,950:1; 3ª 1,281:1; 4ª 0,975:1; 5ª 0,767:a; ré 3,330:1 | |||
Relação de diferencial | 4,692:1 | |||
Embreagem | Monodisco a seco, acionamento hidráulico | |||
SUSPENSÃO | ||||
Dianteira | Independente, McPherson, braço triangular, mola helicoidal, amortecedor pressurizado e barra estabilizadora | |||
Traseira | Eixo de torção, mola helicoidal, amortecedor pressurizado e barra estabilizadora integrada ao eixo | |||
DIREÇÃO | ||||
Tipo | Pinhão e cremalheira, assistência elétrica indexada à velocidade | |||
Relação de direção | n.d. | |||
Diâmetro do volante | 350 mm na horizontal e 330 mm na vertical | |||
Diâmetro mínimo de curva | 10,4 metros | |||
FREIOS | ||||
Dianteiros | Disco não ventilado Ø 266 mm | |||
Traseiros | Tambor Ø 203 mm | |||
Operação | Servoassistência a vácuo, ABS e EBD | |||
RODAS E PNEUS | ||||
Rodas | Alumínio, 6Jx15 | |||
Pneus | 195/60R15, de baixo atrito de rolamento | |||
CONSTRUÇÃO | ||||
Tipo | Monobloco em aço, hatchback 4-portas, 5 lugares; subchassi dianteiro | |||
AERODINÂMICA | ||||
Coeficiente de arrasto (Cx) | 0,33 | |||
Área frontal | 2,09 m² | |||
Área frontal corrigida | 0,69 m² | |||
DIMENSÕES EXTERNAS | ||||
Comprimento | 3.975 mm | |||
Largura | 1.702 mm | |||
Altura | 1.472 mm | |||
Distância entre eixos | 2.541 mm | |||
Bitola dianteira/traseira | 1.475/1.470 mm | |||
PESOS E CAPACIDADES | ||||
Peso em ordem de marcha | 1.073 kg | |||
Peso rebocável sem freio/com freio | 400 kg | |||
Capacidade do tanque | 55 litros | |||
Capacidade do porta-malas | 285 litros/com banco rebatido 1.076 litros | |||
DESEMPENHO | ||||
Aceleração 0-100 km/h | 14,3 s (G) e 12,8s (A) | |||
Velocidade máxima | 171 km/h (G) e 177 km/h (A) | |||
CONSUMO DE COMBUSTÍVEL (INMETRO/PBE) | ||||
Cidade | 15,1 km/l (G) e 10,9 km/l (A) | |||
Estrada | 16,9 km/l (G) e 11,7 km/l (A) | |||
CÁLCULOS DE CÂMBIO | ||||
V/1000 em 5ª | 31,3 km/h | |||
Rotação a 120 km/h em 5ª. | 3.830 rpm | |||
Rotação à velocidade máxima em 5ª | 5.650 rpm | |||
Alcance nas marchas (6.500 rpm) | 1ª 42,9 km/h; 2ª 80 km/h; 3ª 121 km/h; 4ª 160 km/h |
EQUIPAMENTOS PEUGEOT 208 ALLURE 1,2 PURETECH |
ESTÉTICA EXTERIOR |
Acabamento cromado no teto |
Acabamento preto fosco na moldura dos vidros |
Antena curta no teto |
Faróis com luz diurna (DRL) com lâmpadas halógenas |
Faróis de neblina |
Lanternas com LEDs e guias de luz |
Luz traseira de neblina |
Moldura cromada nos faróis de neblina |
Repetidoras dos indicadores de direção nos espelhos |
Rodas de alumínio de 15 pol, diamantadas, mod. COT 968 com pneus 195/60R15 |
ESTÉTICA INTERIOR |
Console de teto com luzes de leitura |
Detalhes cromados no acabamento da central multimídia e nas saídas de ar |
Maçanetes e saídas de ar cromadas |
Painel com faixa e puxadores de porta na cor Mahair |
Painel de instrumentos com matriz de cristal líquido e ponteiros brancos |
Painel de instrumentos em posição elevada |
Teto solar panorâmico |
Volante de diâmetro reduzido |
Volante revestido de couro |
SEGURANÇA |
Acendimento automático do pisca-alerta nas freadas fortes |
Alerta sonoro de cinto do motorista não atado |
Alertas sonoro de portas malfechadas |
Apoios de cabeça traseiros com regulagem de altura (3) |
Cintos de segurança traseiros de três pontos (3) |
Estrutura com deformação programada |
Freios com distribuição eletrônica. das forças de frenagem |
Limpador e lavador do vidro traseiro |
Trava de crianças nas portas traseiras |
Travamento automático. de portas e tampa traseiras ao andar |
TECNOLOGIA |
Alarme perimétrico e volumétrico |
Alerta sonoro de faróis acesos ao deixar o veículo |
Chave eletrônica canivete com comandos de abertura de portas |
Computador de bordo com três modos de operação e indicador de manutenção |
Controlador automático de velocidade/limitador de velocidade |
Iluminação ao se aproximar do veiculo |
Iluminação temporizada ao se afastar do veiculo |
Limpador traseiro indexado à marcha à ré |
Pneus de baixo atrito de rolamento |
Sensor de estacionamento traseiro |
Sistema Flex Start para partida a frio sem auxílio de gasolina |
Travamento central de portas e tampa traseira |
MULTIMÍDIA |
Central multimídia tátil 7-pol integrada ao painel |
Comando no volante para rádio e Bluetooth |
Conexão Bluetooth para telefone celular |
Conexão streaming para rádio |
Entradas USB e AUX |
Rádio com MP3 |
Quatro alto-falantes e dois tweeters |
Tomada 12 V |
CONFORTO |
Ajuste elétrico dos retrovisores externos |
Ar-condicionado automático digital bizona com três modos de operação |
Banco do motorista com regulagem de altura |
Banco traseiro inteiriço rebatível |
Bolsas infláveis laterais |
Direção com assistência elétrica indexada à velocidade |
Espelho nos para-sóis |
Iluminação no porta-malas e porta-luvas |
Porta-copos no console |
Porta-garrafas nas portas dianteiras com suporte para garrafas de 1,5 litro |
Porta-luvas refrigerado |
Vidros elétricos nas portas dianteiras |
Volante de direção com regulagem de altura e distância |