Em diversos sentidos a nova “vítima” do mês traz muitos ineditismos ao nosso teste mais longo: trata-se do primeiro suve e primeiro 4×4, também é o primeiro veículo com motor Diesel e da marca Jeep, a tradicional grife off-road americana que hoje pertence ao grupo italiano FCA – Fiat Chrysler Automobiles.
Lançado no Brasil no final do primeiro trimestre do ano passado, o Jeep Renegade made in Pernambuco é fabricado em uma das mais modernas unidades industriais do Brasil. Logo caiu nas graças dos brasileiros pelo que se percebe nas ruas e também pelo números divulgados pelo ranking dos emplacamentos da Fenabrave. De janeiro a julho deste ano mais de 30 mil Renegade chegaram as ruas do Brasil. Listado na categoria SUV, ele só perde para o Honda HR-V por 5 mil unidades.
O carro que retirei da garagem da FCA em São Paulo é um dos mais caros que pode ser comprado: um Longitude equipado com o motor turbodiesel que sempre vem acoplado ao câmbio automático de nove marchas e tração integral sob demanda, ou seja, força nas quatro rodas só quando sensores detectarem necessidade, pois em condições de aderência normal a tração é sempre na dianteira.
“Meu” Longitude veio com praticamente todos os opcionais disponíveis, e assim seu preço inicial de R$ 121.990 pula para R$ 144.120. Na verdade opcional só faltou um, o teto solar de vidro chamado de “Command View” (R$ 7.800). De resto, veio tudo: central multimídia Uconnect, faróis bixenônio, sete bolsas infláveis, bancos revestidos de couro e mimos como espelhos retrovisores externos rebatíveis, interno fotocrômico, sensor de chuva e crepuscular, monitoramento da pressão dos pneus, detetor de pontos cegos e até mesmo uma tomada 127 V.
Com tudo isso e mais o já bem fornido equipamento de série — ar condicionado bizona, volante com comandos de áudio, controlador/limitador de velocidade e borboletas para mudança de marcha, completo computador de bordo, teto solar duplo removível, sistema de navegação GPS, sensor de estacionamento traseiro, câmera de ré, controle de estabilidade e um seletor da tração 4×4 para quatro tipos de terreno, controle de velocidade em descida, auxílio de partida em subida, freio de estacionamento elétrico, freios ABS e… ufa!, mais issos ou aquilos que obviamente você pode imaginar, a experiência a bordo é completa, sem miséria. Dica: vá se divertir no ótimo “Monte o seu…” no site da Jeep!
Não me lembro de ter feito uma descrição tão longa em outro Teste de 30 Dias, mas o Renegade Longitude efetivamente a merece, tanto por ser um carro de lançamento recente, ainda relativamente desconhecido, como pela fartura de equipamentos de série ou não que suponho até justifique seu preço mais de 140 mil reais.
Ao deixar a sede da FCA rodei míseros quilômetros até a garagem de casa para, no dia seguinte, zarpar para uma viagem de São Paulo ao Rio de Janeiro com motivações olímpicas. E olímpica foi a maneira que o Jeep pernambucano encarou a viagem, mostrando-se um voraz devorador de quilômetros. Brilhante, para dizer o mínimo, é a dupla motor-câmbio. O 2-litros italiano batizado de Multijet II exibe 170 cv de potência e vigorosos 35,7 m·kgf de torque máximo. É moderníssimo este motor diesel, com turbina de geometria variável e injeção Bosch direta a altíssima pressão (1.600 bar). Já o câmbio não só impressiona pela quantidade de marchas, nove, como pela suavidade de ação e escalonamento, onde a primeira é tão curta que jamais é usada em saídas normais, que sempre ocorrem em 2ª. Na estrada, em 9ª marcha a 120 km/h, o motor gira lambendo os 2 mil rpm e quase não se ouve o motor. Aliás, para reconhecer que este Renegade é empurrado por um motor Diesel, só em marcha lenta onde o contido clac-clac-clac é audível da cabine mesmo com vidros fechados.
Impressiona bem, muito bem aliás, o padrão de acabamento e construção deste Renegade Longitude. Mais do que requinte o que salta aos olhos é a estrutura forte, que transmite grande sensação de solidez que alimenta a percepção de qualidade. As maçanetas são robustas, as portas pesadas e que se fecham sem fazer som de latinha. Aliás, que lata! Em tempos minimalistas onde conceitos relacionados a economia — downsizing é uma palavra da moda — a forte carroceria do Renegade me fez lembrar dos Jeep em que andei no passado, não esses nova safra, mas sim os antigos feitos pela Ford em São Bernardo do Campo nos anos 1970. Com um azul desses de última safra do amigo Chicão (motor 4-cilindros OHC 2,3-ll, o mesmo que o Maverick usava) frequentei praias do litoral norte paulista quando tinha muito cabelo, pouca idade e nenhum juízo. O ponto em comum entre o rústico Jeep e este sofisticado Renegade, fora a marca Jeep, é a robustez que exala até mesmo do design.
É bonito o Renegade? Para mim tem mais é caráter do que beleza. É como um Jeep deve ser, meio quadradão, com detalhes típicos como as sete frestas na grade ou as lanternas traseiras em xis para remeterem aos latões de gasolina (jerrycans) do Jeeps de guerra. É carismático e exala praticidade. Ao volante a sensação de força é confirmada pelo aro grosso, pelos bancos bem estofados e amplos, pelo calibre robusto das colunas A e B (dianteiras e centrais). O contraponto a estas sensações visuais e táteis veio quando o botão de partida (a chave é presencial, basta tê-la por perto) foi apertado e a viagem começou. Com apenas três a bordo, porta-malas cheio (que, diga-se de passagem, não é dos maiores, 280 litros…), apontei o Renegade rumo leste e foi me maravilhando a cada quilômetro com a docilidade que o “brutinho” se deixou levar.
O motor mal se ouve ou se sente, apesar de o ajuste do câmbio segurar as marchas de maneira um pouco insólita, pois jamais deixa a rotação cair muito abaixo das 2 mil rpm. Especialmente em cidade, onde uma rotação mais baixa poderia ser usada, isso traz algum incômodo. A razão desse ajuste, dizem, é evitar vibrações. Como o câmbio permite trocas seja pela alavanca, seja pelas borboletas do volante, em várias ocasiões tentei passar uma marcha mais longa, e raras vezes ele aceitou. Problema? Não, característica que pretendo confirmar com mais tempo de uso urbano.
Nestes mais de 800 quilômetros de rodovia o Jeep Renegade me convenceu do ponto de vista da economia e bebendo exclusivamente o diesel S-10 como manda o manual do proprietário fez 14,1 km/l na ida e 15 km/l na volta (rodei sempre com o ar-condicionado ligado), marca certamente ótima tendo em vista minha pressa e curiosidade de fazer o motor render e sentir o câmbio esparramado. A boa ergonomia e a razoável sensação de segurança transmitida nas mudanças de faixa e curvões longos trouxe tranquilidade a bordo, para quem dirigiu e para quem acompanhou. Um ponto que ainda não me convenceu é a direção de assistência elétrica, um tanto anestesiada demais, que não passa muito do que se passa sob os pneus, ao menos do modo que eu gostaria. É claro que não é nada de trágico, e que com o passar do tempo ao volante pega-se o costume, mas talvez seja um item que poderá ser aperfeiçoado em gerações futuras. Não descarto que durante estes restantes 21 dias de teste poderei me entender melhor com ela e revisar tal opinião.
Na volta do Rio, praticamente toda feita de noite, o sistema de iluminação foi um destaque, e pagar os R$ 2.350 pelos faróis de xenônio é realmente o caso. Dificilmente foi preciso usar o facho alto e a regulagem elétrica situada no canto esquerdo do painel é prática e oferece amplitude excelente. Outro bom aspecto está relacionado à quantidade de informações oferecida pelo painel — na tela central as informações são “roladas” pelos botões situados no volante assim como o comando do controlador de velocidade. Aliás, de um modo geral o Renegade tem comandos intuitivos, simples, que não exigem nenhum grande aprendizado. Até a central multimídia com tela tátil não traz enigmas.
O que ficarei devendo neste primeiro relato são as impressões em uso urbano do Renegade: fiz poucos quilômetros, truncados, insuficientes para uma análise fiel. Mas já posso dizer que este Jeep pertence ao clube dos suves “possíveis” para o uso em cidade por ser curto (4.242 mm), não muito largo e muito, muito ágil por conta das ótimas respostas daquela dupla que defini como especialmente feliz deste Jeep, motor e câmbio. E sendo assim, para a semana que vem o tema será esse, uso urbano, a vida do dia a dia. Levar filhos à escola, ao clube, ir ao supermercado, encarar congestionamentos e fazer tudo o que deve ser feito para conhecer esta bela novidade que é o Jeep Renegade Longitude, do qual — já deu para perceber, né? — estou gostando bastante.
RA
Jeep Renegade Longitude Diesel
Dias: 7
Quilometragem total: 969 km
Distância na cidade: 115 km (12%)
Distância na estrada: 854 km (88%)
Consumo médio: 13,1 km/l
Melhor média: 15,0 km/l
Pior média: 7,0 km/l
Média horária: 58,0 km/h
Tempo ao volante: 16h40minutos
FICHA TÉCNICA JEEP RENEGADE LONGITUDE DIESEL | |
MOTOR | |
Denominação | 2.0 MultiJet II 170 cv 948TE |
Descrição | 4 cilindros em linha, diesel 4-tempos, arrefecido a líquido, superalimentado por turbocompressor com interresfriador |
Localização e posição | Dianteira, transversal |
Combustível | Diesel S-10 |
Taxa de compressão | 16,5:1 |
Diâmetro dos cilindros/curso dos pistões | 83 x 94 mm |
Cilindrada | 1.956 cm³ |
Potência máxima | 170 cv a 3.750 rpm |
Torque máximo | 35,7 a 1.750 rpm |
Material do bloco/cabeçote | Ferro fundido/alumínio |
Localização da árvore de comando de válvulas | Cabeçote |
N° de árvores de comando de válvulas / acionamento | Duas, correia dentada |
N° de válvulas por cilindro / localização / atuação | Quatro, cabeçote, indireta por alavancas-dedo |
Formação de mistura | Injeção direta common-rail Bosch, pressão de injeção 1.600 bar |
TRANSMISSÃO | |
Câmbio/rodas motrizes | Automático epicíclico de 9 marchas à frente e uma à ré, 4 rodas motrizes com traseiras sob demanda, comando pela alavanca seletora e borboletas |
Relações das marchas | 1ª 4,70:1; 2ª 2,84:1; 3ª 1,91:1; 4ª 1,38:1; 5ª 1,00:1; 6ª 0,81:1; 7ª 0,70:1; 8ª 0,58:1; 9ª 0,48:1; ré 3,80:1 |
Relação dos diferenciais | 4,334:1 |
SUSPENSÃO | |
Dianteira | Independente McPherson, braço triangular, mola helicoidal, amortecedor pressurizado e barra estabilizadora |
Traseira | Independente McPherson, braços transversais, mola helicoidal, amortecedor pressurizado e barra estabilizadora |
DIREÇÃO | |
Tipo | Pinhão e cremalheira eletroassistida |
Diâmetro mínimo de curva | 10,8 metros |
FREIOS | |
Servoassistência/tipo | Sim/bomba de vácuo |
Dianteiros | A disco ventilado, Ø 305 mm |
Traseiros | A disco, Ø 278 mm |
RODAS E PNEUS | |
Rodas | Alumínio, 7Jx17 |
Pneus | 215/60R17 |
CARROCERIA | |
Construção | Monobloco em ação, suve, 4 portas, 5 lugares |
DIMENSÕES EXTERNAS | |
Comprimento | 4.242 mm |
Largura sem/com espelho | 1.798/2.018 mm |
Altura | 1.716 mm |
Distância entre eixos | 2.570 mm |
Bitola dianteira/traseira | 1.550/1.552 mm |
DESEMPENHO | |
Aceleração 0-100 km/h | 9,9 s |
Velocidade máxima | 190 km/h |
DADOS OFF-ROAD | |
Ângulo de entrada | 29,7º |
Âmgulp de saída | 32,3º |
Ângulo de rampa | 21,5º |
Altura livre entre os eixos | 218 mm |
Distância mínima do solo | 195 mm |
CONSUMO DE COMBUSTÍVEL (INMETRO/PBEV) | |
Cidade | 9,4 km/l |
Estrada | 11,5 km/l |
Capacidade do tanque | 60 litros |
PESOS E CAPACIDADES | |
Peso em ordem de marcha | 1.636 kg |
Carga útil | 400 kg |
Peso rebocável sem/com freio | 400 kg/1.500 kg |
Capacidade do porta-malas | 260 L/1.300 L com banco tras. rebatido |
Tanque de combustível | 60 litros |
CÁLCULOS DE CÂMBIO | |
v/1000 em 9ª | 65,4 km/h |
Rotação do motor a 120 km/h em 9ª | 1.830 rpm |
Rotação do motor à velocidade máxima em 8ª | 3.675 rpm |