Quando a picape cabine-dupla Renault Duster Oroch foi lançada 11 meses atrás, estranhou-se o fato dela então não ter a opção de câmbio automático. Afinal, o perfil do comprador-alvo costuma dar preferência a ele. Bom, demorou um pouco, mas agora o automático chegou para a versão com motor de 2 litros. A com motor 1,6-l continua só com o câmbio manual de cinco marchas. O automático é de quatro marchas e traz opção de trocas manuais sequenciais pela alavanca de câmbio. Mal posicionada no console central há uma tecla, a ECO, que quando selecionada ativa um sistema que visa, claro, economizar combustível. O modo como opera será descrito mais adiante.
O motor F4R é flex e produz 148 cv a 5.750 rpm quando com álcool e 143 cv, à mesma rotação, quando com gasolina. O torque é de 20,9 m·kgf (álcool) e 20,2 m·kgf (gasolina), ambos a 4.000 rpm. Como se vê, é um motor potente e que, com a ajuda do variador de fase no comando de válvulas de admissão, tem boa elasticidade. É um motor bom de baixa e de alta. E apesar da Oroch ser um veículo, digamos, volumoso, ela pesa menos que aparenta, “só” 1.375 kg; por sinal, só 20 kg a mais que a de câmbio manual. Isso resulta na relação peso-potência de 9,3 kg/cv, considerada boa, já que é melhor até que a do Sandero 1,6-l (9,95 kg/cv).
Conclusão: anda bem, acelera bem, é rápida na cidade e na estrada proporciona viagem tranquila, com seu motor silencioso e de funcionamento suave. A 120 km/h o giro está rondando as 3.100 rpm, o que me parece perfeitamente adequado e agradável. Ela viaja bem, retoma bem, ultrapassa bem, pouca bola dando para o quanto está carregada.
Quanto à sua dirigibilidade com maiores cargas, vale lembrar que viajei com o primo Paulo e o produtor Renato Castanho a Paraty numa Oroch levando moto na caçamba e tralhas mil, e fiquei realmente impressionado com o que ela continuava boa de curva e firme nas retas. Realmente ela tem ótimo acerto geral, uma boa e irrepreensível dinâmica.
Notei que ela tem ainda melhor comportamento que o suve Duster do qual deriva. E aí, ao longo desta viagem, experimentando-a e pensando, concluí a razão disso. Bom, razão um, ela tem suspensão traseira independente McPherson — e com braços de controle longos, por sinal, o que é bom —, que só o Duster 4×4 tem. Depois, razão dois, ela tem maior distância entre eixos, o que teoricamente favorece a estabilidade direcional e as curvas de alta. E razão três, é que a olhando de perfil e comparando-a ao perfil do Duster, nota-se que ela certamente tem centro de gravidade um pouco mais baixo. Sendo assim, se o leitor já dirigiu o Duster e gostou, pode estar certo que a Oroch é ainda melhor.
Os bons pneus de duplo propósito Michelin LTX Force, 215/65R16, ajudam. No asfalto parecem ter só esse propósito, e são ótimos também na chuva.
Quanto ao uso dela na terra, temos aí outra ótima nota para a Oroch e outra nota mais ou menos. A ótima: a suspensão é incrivelmente macia, o que permite enfrentar sem incômodos longos períodos em estradas de terra. Já para estradas de terra em regiões montanhosas não vai tão bem, pois em subidas mais pronunciadas ela perde tração com certa facilidade, principalmente quando com carga na caçamba (sua tração é só dianteira). Para quem pretende encarar esse tipo de situação, o melhor será esperar pela 4×4, que em breve virá.
O câmbio
Bom, vamos ao câmbio, à novidade da Oroch, e comecemos pelas conclusões para depois explicá-las: na cidade ele é ótimo; já na estrada é só bom. A Renault afirma que um dos motivos de tê-lo escolhido é sua comprovada robustez. Tem quatro marchas, faz trocas com suavidade e está muito bem programado. Na cidade, a boa programação e a boa elasticidade do motor trabalham perfeitamente bem, o que proporciona suavidade e agilidade.
Na estrada ele é decidido, não fica trocando marcha sem motivo, o que agrada, e para isso a elasticidade do motor contribui. As reduções por movimento do acelerador (kickdown) são prontas, embora requeiram mais curso do que se está acostumado hoje pelo fato de serem só quatro marchas. Em compensação, tal calibração do kickdown permite retomar velocidade na mesma marcha, quando se deseja, mais facilmente do que se fossem mais marchas, em que reduções costumam ser mais frequentes, embora nem sempre necessárias.
Na prática, sem problemas, pois, segundo a Renault, a Oroch automática faz o 0 a 100 km/h em 10,4 segundos e atinge 176 km/h. E basta acelerar mais fundo que lá vem redução de marcha e o consistente motor acelera muito bem; porém, que uma ou duas marchas a mais seriam bem-vindas, sem dúvida. E como já disse, a 120 km/h reais e em 4ª marcha, o motor sussurra a 3.100 rpm.
Viaja muito bem. Segura, silenciosa, macia e confortável. Os passageiros adoram. Os de trás têm bom espaço e dois adultos vão muito bem, até três sem muito incômodo.
No modo ECO o câmbio fica mais “calmo”, reduz com menor celeridade, e foi o modo que mais usei, inclusive na estrada de pista dupla, pois dá perfeitamente conta do recado, já que não deixa de baixar marcha com rapidez quando solicitado. Já para subida de serra e em trechos de pista simples, achei o modo Normal o mais adequado. Pouco utilizei as trocas manuais, nem na descida de serra, já que em Drive bastava uma pisada mais funda no acelerador que lá vinha redução de uma ou duas marchas, dependendo do quão funda e rápida era a acelerada. Em seguida, ele segurava a marcha em que estava e só subia marcha quando eu acelerava. Sistema ideal, a meu ver.
Recentemente, para a linha 2017, houve melhorias na Oroch visando maior economia de combustível. Segundo a Renault, a soma delas trouxe economia de 11,5 % no consumo. Detalhes a respeito, leia a nota do Juvenal Jorge. Pelo computador de bordo apurei 8,8 km/l de álcool na estrada e 7,2 km/l na cidade. Fato a lamentar e estranhar é seu tanque de combustível ter só 50 litros. Esse tipo de veículo requer autonomia maior.
Quanto à ergonomia, o volante teria que baixar mais e também ter ajuste de distância, pois sou obrigado a aproximar o banco do volante mais do que me agradam as pernas, que acabam ficando encolhidas, já que dou prioridade ao bom posicionamento do volante.
Tem boa visibilidade, o que ajuda no trânsito paulistano, onde motoboys surgem do nada feito chuva de meteoros, motoristas afoitos (as) correm como se fugissem de um tsunami e ciclistas apalermados pedalam lentamente em avenidas. Para situações aflitivas como essa, nada mais tranquilizante que ouvir pelo rádio as notícias de como nossos dirigentes conduzem a política, a economia e a justiça.
Seria bom ter câmera de ré, pois em manobras a caçamba alta dificulta a visão. As barras protetoras do vidro traseiro, horizontais, atrapalham um pouco a visão do retrovisor interno, principalmente na estrada; atrapalhariam menos se estivessem na vertical.
A caçamba abriga 683 litros até a altura da guarda. Por não ter números oficiais, medi-a com uma trena e obtive 130 cm de comprimento, 92 cm de largura e 55 cm de altura. A carga útil da picape é de 650 kg.
Preço da Dynamique 2,0 16V Hi-Flex automática: R$ 76.580.
AK
FICHA TÉCNICA RENAULT DUSTER OROCH 2,0 16V DYNAMIQUE AUTOMÁTICA | |
MOTOR | |
Designação | Renault F4R |
Arquitetura | L-4, transversal, duplo comando de válvulas, correia dentada, 4 válvulas por cilindro, arrefecido a líquido; variador de fase na admissão em campo de 44º, flex |
Atuação das válvulas | Indireta por alavanca-dedo, fulcrum com compensador hidráulico |
Material bloco/cabeçote | Ferro fundido/alumínio |
Cilindrada | 1.998 cm³ |
Diâmetro e curso | 82,7 x 93 mm |
Taxa de compressão | 11,2:1 |
Combustível | Gasolina e/ou álcool |
Formação de mistura | Injeção eletrônica seqüencial no duto |
Potência G/A | 143/148 cv (G/A) a 5.750 rpm |
Torque G/A | 20,2/20,9 m·kgf (G/A) a 3.750 rpm |
Corte de rotação | 6.500 rpm |
TRANSMISSÃO | |
Câmbio | Transeixo dianteiro, automático de 4 marchas mais ré |
Relação das marchas | 1ª 3,51:1; 2ª 1,93:1, 3ª 1,29:1; 4ª 0,92:1; ré 3,55:1 |
Relação do diferencial | 3,65:1 |
Rodas motrizes | Dianteiras |
SUSPENSÃO | |
Dianteira | Independente, McPherson, braço triangular, mola helicoidal, amortecedor pressurizado e barra estabilizadora |
Traseira | Independente, McPherson, dois braços inferiores paralelos, um braço longitudinal, mola helicoidal, amortecedor pressurizado e barra estabilizadora |
DIREÇÃO | |
Tipo | Pinhão e cremalheira, assistência hidráulica |
Diâmetro mín. de curva | 10,7 m |
Voltas entre batentes | 3,4 |
FREIOS | |
De serviço | Duplo circuito hidráulico em diagonal |
Dianteiros | Disco ventilado de Ø 280 mm |
Traseiros | Tambor de Ø 229 mm |
RODAS E PNEUS | |
Rodas | Alumínio, 6Jx16 |
Pneus | 215/65R16T |
PESOS E VOLUMES | |
Peso, ordem de marcha | 1.346 kg |
Carga útil | 650 kg |
Caçamba | 683 L |
Tanque de combustível | 50 L |
DIMENSÕES | |
Comprimento | 4.693 mm |
Largura com/sem espelhos | 1.997/1.821 mm |
Altura | 1.695 mm |
Distância mínima do solo | 206 mm |
Ângulo de entrada/saída | 26º/19º54′ |
DESEMPENHO | |
Aceleração 0-100 km/h (G/A) | 11,5/10,4 s |
Velocidade máxima (G/A) | 173/176 km/h |
CONSUMO Inmetro/PBE) (G/A) | |
Cidade | 8,6/5,9 km/L |
Estrada | 10,8/7,6 km/L |
CÁLCULOS DE CÂMBIO | |
v/1000 em 6ª | 38,4 km/h |
Rotação a 120 km/l em 4ª | 3.125 rpm |
Rotação à vel. máxima, em 3ª | 6.400 mm |