Muitas pesquisas e opiniões apontam para o desinteresse do jovem por automóveis. As explicações são diversas e passam por alguns fatores como: a menor necessidade de deslocamento devido a melhores tecnologias de comunicação, cidades cada vez mais populosas com trânsito cada vez mais pesado impondo limitações e restrições de uso, e a possibilidade do uso compartilhado eliminando a necessidade da posse de um bem de preço e custo de propriedade altos.
Ainda que a passos lentos esses e outros fatores estão provocando muitos questionamentos e transformações no conceito do automóvel. A mais notável é que os fabricantes estão revendo a sua razão de existir de empresas de manufatura de bens duráveis para empresas de soluções de mobilidade. E quem tiver coragem de olhar para o futuro com um pouco de pragmatismo pode enxergar o automóvel como algo bem diferente e com bem menos apelo emocional. E nem precisamos avançar muito, basta ver os carrinhos do Google.
Mas essas mudanças acontecerão de forma gradativa e levarão muito tempo para afetar todos os usuários de automóveis. Portanto, o carro do jeito que conhecemos ainda vai perdurar.
Olhando um pouco para o passado, a cada década ou época, sempre existiram carros que se destacavam mais no desejo dos entusiastas e de pessoas comuns. Entre os desejados em um passado não muito distante estão modelos como o Dodge Charger, Opala, Maverick, Gol GT, Escort XR3, Kadett GSi e outros, incluindo importados. Essa lista é grande. Muitos deles são objetos de desejo até hoje, seja na forma original ou em novas gerações. E não há dúvida da importância para uma marca em ter um carro entre os mais desejados. Esse desejo, mesmo que não possa ser alcançado por todos os consumidores, serve de referência para escolha de outros modelos da mesma marca.
Mas o mercado cresceu no mundo inteiro, as marcas se multiplicaram, a oferta de modelos explodiu. Há muitos ícones de desejo ainda vivos, como a tríade de muscle cars americanos, Camaro, Mustang e Challenger, ou a tríade de modelos esportivos das marcas alemãs, BMW M, Audi RS e Mercedes-Benz AMG. Esses e outros ícones estão sendo perpetuados por gerações, mas qual será o desejo de jovens que estão entrando no mercado consumidor para comprar seu primeiro carro?
Os jovens de 16 a 20 anos de idade são os novos consumidores que as marcas terão que atender agora e nas próximas décadas. Depois de comprar seu primeiro carro farão várias trocas nos próximos 30 anos ou mais. Por isso a opinião deles é a mais valiosa para o direcionamento de um futuro mais próximo. E se forem fisgados corretamente, com produtos e serviços a altura de suas expectativas e com um preço apropriado, poderão ser consumidores da marca por vários anos.
No entanto, não há uma clareza sobre qual modelo tenha maior destaque no imaginário dos jovens brasileiros. Não há um modelo específico que possa ser facilmente identificado. Nós mesmos aqui no AE temos divergências e uma pesquisa interna entre os editores não nos levou a uma conclusão objetiva sobre qual é o carro mais desejado entre os jovens.
Assim nasceu a ideia de fazermos uma pesquisa simples e direta para responder a seguinte pergunta feita a jovens de 16 a 20 anos: qual é a marca e o modelo do carro que você deseja ter?
O questionário foi disponibilizado para jovens de ambos os sexos. Após o filtro da idade havia uma pergunta para confirmar o desejo ou intenção de comprar um carro. Caso a resposta fosse negativa o questionário se encerrava. Tivemos 1.144 respondentes com apenas 10 deles sem intenção de compra. Assim o total de respondentes foi de 1.134, sendo que três deles não identificaram qual o carro desejado. Então o total de respostas válidas foi de 1.131, sendo apenas três respondentes do sexo feminino. A pesquisa teve abrangência nacional com respondentes de todos os estados do país.
O tipo de carroceria mais desejada é a sedã (37%) seguida da hatch (31%) e cupê (19%). Interessante notar a falta de interesse pelos SUVs e menos ainda pelas peruas. Nessa fase da vida os jovens não necessitam de espaço e versatilidade.
Os esportivos, ou versões esportivas correspondem a 31% dos modelos desejados.
A importância dos esportivos na formação do desejo por marcas de menor consideração é notória. No caso da Renault 94% dos modelos desejados são Sandero R.S.. Isso equivale a dizer que a Renault praticamente não teria sido lembrada se o seu esportivo não existisse.
O mesmo vale para a Nissan, onde 54% dos modelos correspondem apenas ao GT-R com mais 35% de 350/370Z, Skyline e Silvia. No caso da Subaru, 57% dos modelos desejados são WRX/WRX STI e no caso da Mitsubishi também 57% correspondem ao Lancer EVO. Nas marcas premium 0s modelos RS e S da Audi correspondem a 55%, enquanto os M correspondem a 47% dos BMW e o s AMG a 36% dos Mercedes-Benz.
As marcas premium e de luxo são desejadas por 13% do total. A BMW segue na liderança com 42% do desejo entre essas marcas, seguida da Audi com 29,4%, de da Mercedes-Benz bem atrás com 9,8%.
O ranking das marcas mais desejadas, incluindo as premium e de luxo tem a Volkswagen no topo com 23,8% e boa vantagem sobre a segunda colocada, a Chevrolet, com 16,5%, seguida de perto pela Ford com 13,8%. Na quarta posição, mais abaixo e com 7,3% vem a Honda, e na quinta posição a BMW, com 5,3%.
E agora o carro mais desejado pelos jovens brasileiros: o Volkswagen Golf, com 9,9% do total de menções. Ele é o símbolo do desejo e a versão GTI, se fosse considerada com um modelo separado, ocuparia a quinta posição, provando a sua importância na geração do desejo pelo Golf e pela marca Volkswagen.
Em segundo lugar curiosamente apareceu o veterano e fora de linha Opala com 7,6% e que no seu tempo já ocupou o lugar de modelo mais desejado. E em terceiro o Honda Civic com 7% seguido do VW Gol com 4,2% e do Subaru Impreza com 3,8%. Notamos que a aparição do Opala nessa lista pode ser fruto de algum viés causado por muitas respostas da grande comunidade de opaleiros que existe nas mídias sociais. De qualquer maneira decidimos manter o resultado com todos os dados.
No gráfico acima mostramos apenas os modelos que conseguiram resultados superiores a 1%. A Ford foi a marca com maior quantidade de modelos no ranking, com cinco: Mustang, Focus, Fusion, Maverick e Fiesta. A Chevrolet teve quatro modelos no ranking: Opala, Camaro, Vectra e Cruze. E a VW também emplacou quatro modelos: Golf, Gol, Jetta e Saveiro. Vale notar a presença de Renault no ranking com o Sandero R.S..
Ao que tudo indica, se os fabricantes observarem o desejo dos jovens nós ainda vamos ter carros muito interessantes por um bom tempo.
PK