Definição acontece domingo, no autódromo Hermanos Rodrigues, na Cidade do México: Nico Rosberg pode ser campeão lá e para isso precisa vencer e Lewis Hamilton terminar em décimo lugar. Essa combinação de resultados criaria um cenário onde mesmo sem pontuar nas outras duas corridas, Brasil e Abu Dhabi, Rosberg seria campeão mesmo que Hamilton vencesse ambas. Neste quadro, ambos ficariam empatados com 356 pontos e a definição favoreceria o filho de Keke pelo número de vitórias: 10 a 9.
Considerar essa hipótese para os dois pilotos que há três temporadas têm dominado o cenário da F-1 pode soar estranho, mas, o universo conspira ao sabor dos ventos e vez ou outra joga poeira cósmica nos olhos de quem insiste em não acreditar que enquanto há vida, tudo é possível. No último fim de semana, em Austin, os mesmos Hamilton e Rosberg se engalfinharam pela primazia de largar na pole position e pela vitória, ambas conquistadas pelo inglês.
Consciente de que uma série de quatro segundos lugares até o final da temporada garante o título por cinco pontos, Nico parece estabilizado emocionalmente e prova disso foi ter mantido a calma na fase inicial da prova e não se impressionar com o ritmo de Daniel Ricciardo, que largou com pneus mais macios e assumiu o segundo lugar logo na primeira curva. Foi uma atitude digna de quem merece o título. Veja todos os números e informações oficias do GP dos EUA aqui.
Nos próximos dias Rosberg certamente vai sonhar várias vezes com a combinação de resultados em que ele saia vencedor no domingo e Hamilton termine, no máximo, em décimo lugar. A julgar pelo retrospecto, isso parece pouco provável: o pior resultado do inglês este ano nas provas que conseguiu completar foi um sétimo lugar na China. Ainda nesta linha de raciocínio, mais provável é que Hamilton não termine a prova, tal qual aconteceu na Malásia (quebra de motor) e na Espanha, quando ele e seu inimigo de equipe se eliminaram da prova aos 39 segundos de uma corrida que durou 1h49’40”017 e marcou a primeira vitória de Max Verstappen na F-1.
Foi a estreia de Verstappen pela equipe Red Bull e o início de um calvário para o russo Daniil Kvyat, rebaixado para o lugar que o holandês deixou vago na Toro Rosso. Sexta-feira passada Kvyat descobriu que o Universo dá um jeito em quase tudo e sentiu-se com sorte: ele, junto com Carlos Sainz Jr., foi confirmado que na equipe júnior da Red Bull por mais uma temporada. Quem não teve a mesma sorte foi o francês Pierre Gasly: além de ter sido preterido na disputa da vaga que seguirá sendo do russo, ainda teve que ler uma explicação pouco animadora de Christian Horner:
“Estamos procurando novos talentos entre garotos de 13, 14 anos: fora daí não tem muita opção”.
Em tempos do politicamente correto, Horner poderia ter marcado pontos ao mencionar “jovens” em lugar de “garotos”: pelo menos não teria despertado a ira do número cada vez menos insignificante de meninas que praticam automobilismo…
Ruim para Pierre Gasly, pior para os e as jovens americanos (as) com esperanças de desembarcar na F-1 defendendo as cores da Haas — única equipe americana da categoria, que farão companhia ao francês. Perguntado sobre as chances de contratar um(a) piloto dos Estados Unidos para sua equipe, Gene Haas deixou claro que a fila de espera vai se estender por uns tempos:
“Bem, estamos de olho em alguns pilotos americanos, mas nosso foco agora é ter pilotos experientes e, a bem da verdade, não temos nenhum que preencha esse requisito. Hoje em em dia apenas as grandes equipes podem se dar ao luxo de ter um piloto novato.”
É o caso da Williams, que luta para garantir a mescla com um piloto amadurecido para 2017. Por enquanto, 50% da equação está resolvida: o canadense Lance Stroll vai estrear pela equipe no ano que vem; já segurar Valteri Bottas, no time desde 2013, nem tanto, a julgar pelas palavras do finlandês:
“Eu curti muito essas quatro temporadas com a Williams e no final do ano completo 77 GPs na equipe, o número do meu carro… Gostaria de ficar mais tempo, mas vamos ver o que vai rolar…”
Não bastasse esse problema, Pat Symmonds, o atual responsável pela operação F-1 em Grove, não poupou críticas ao rendimento da equipe ao construir o carro deste ano, principal causa da queda de desempenho, que de terceiro em 2014 e 2015 está agora em quinto lugar entre os construtores. “Estamos muito distantes do que eu esperava”, detonou Symmonds, que vai se aposentar no final do ano que vem. Já se pode prever o estado de espírito da equipe no futuro próximo, algo que deve deixar Bottas pensando qual caminho deve seguir.
Como a Ferrari nunca fica de fora de qualquer comentário sobre a F-1 envolvendo crise, desta vez o petardo foi disparado por alguém que conhece muito bem o ambiente de Maranello, o italiano Luca Baldiserri:
“Infelizmente nem Sergio Marchionne nem Maurizio Arrivabene têm experiência na gestão de competição. O clima na fábrica é de muita pressão e ninguém tem coragem de arriscar ou descobrir novos caminhos por medo de ser crucificado.”
Ainda no tema futuro próximo, tem gente que não deverá estar no grid da Austrália em 2017 para checar o final dessa história. Um deles é Felipe Massa, que já anunciou sua aposentadoria para o final deste ano e se for para Melbourne não vai levar capacete ou macacão… Outro é Ron Dennis: são cada vez mais numerosos os rumores que ele está para ser afastado do comando da McLaren Applied Technologies (braço do grupo que controla as atividades de F-1, Saúde e Bem-estar, Energia, Consumíveis e Transporte). Dennis e outras fontes da McLaren negam, mas Martin Brundle, que já trabalhou lá e hoje não deve satisfações ao todo poderoso da escuderia, não nega que essa possibilidade existe.
Se é para olhar o futuro, não há como deixar de falar do GP do Brasil e, por tabela, o da Malásia. Semana passada houve uma reunião entre Thamas Rohony e as autoridades de Brasília, tipo de encontro que sempre acontece quando se começa a falar na renovação do contrato de Interlagos com os responsáveis pelos direitos comerciais da F-1. Não é difícil ligar essa visita com o asterisco que a FIA colocou ao lado da data reservada à etapa brasileira da próxima temporada. Asterisco que indica um “a confirmar”.
Rohony foi falar dos muitos reais que a F-1 gera para o comércio e cofres da municipalidade paulistana. Chegou-se a falar até mesmo na possibilidade de um segundo GP em Terra Brasilis e que o autódromo da Capital Federal seria reformado para tal. Será que a situação econômica do País permite pensar em duas corridas de F-1 no Brasil? Será que a eficiência da indústria da construção brasileira conseguiria reformar as instalações do autódromo de Brasília cumprindo prazos e exigências para realizar um possível GP do Mercosul no ano que vem? Prefiro pensar que se trata de um projeto a longo prazo e, mais ainda, uma forma de pressionar o novo prefeito de São Paulo a refletir sobre suas ideias de interferir no modo como Interlagos é administrado atualmente, algo sombrio e pouco claro. Mesmo porque é sabido que o caixa do DF anda bastante depauperado e, nesse quadro de penúria, gastar no autódromo e pagar a alta fatura de um GP não seria uma solução inteligente.
Mais até, seria um jeito de capitalizar em cima da possível transferência de Felipe Nasr para a equipe Force India, notícia que esta coluna publicou na terá feira passada, muito antes de ser divulgada na tarde domingo passado…
Se a situação econômica do GP do Brasil desperta preocupações e movimentos estratégicos, o clima está muito pior na Malásia: por lá os dirigentes esportivos locais já tornaram público que a renovação do contrato atual com a FOM (Formula One Administration), documento que expira em 2018, não está garantida. Baixo interesse do público local e o fato de ser realizado no fim de semana seguinte à corrida em Cingapura não ajuda a pagar as contas, muito pelo contrário…
WG