Um ano exato atrás conheci o Citroën C4 Cactus, com o qual na Itália rodei dois mil quilômetros em sete dias e escrevi a respeito aqui no AE.
Gostei? Sim, e não só um pouquinho. Achei ele um carro competente, um Citroën 100%, e afirmando isso quero destacar a fama de marca inovadora, que como escrevi há um ano, pensa “fora da casinha”.
De volta à Europa neste final de 2016, de volta a Milão, de volta a um Cactus. Algo não planejado mas que assimilei de bom grado, afinal havia gostado e, assim, por qual razão não fazer uma contraprova?
Sem muito suspense revelo que o que me cativou no Cactus um ano atrás assim permaneceu, cativante, e as coisas que havia considerado apenas razoáveis acabaram por me convencer como boas soluções, como você verá mais adiante.
Não vou, como no texto do primeiro contato, esmiuçar o bicho detalhando-o, mas apenas destacar pontos importantes de um automóvel que, acredito, cairia mais do que bem no mercado brasileiro. Aliás, até onde sei havia planos para fabricá-lo aqui, mas as conhecidas razões econômicas demandaram esperar um momento melhor para a estreia aqui.
Relembrando, o Cactus se vale da base mecânica usada nos C3 europeus, não muito diferentes dos feitos em Porto Real, RJ. A motorização é o tricilíndrico 1,2 litro PureTech que no Brasil existe apenas (por enquanto…) em versão aspirada no Citroën C3 (e no Peugeot 208), mas que neste Cactus cedido tem a ajuda de um pequeno turbocompressor que lhe dá músculos, 110 cv a 5.500 rpm e torque máximo de 20,9 m·kgf a 1.500 rpm.
O motor é um ponto alto do Cactus, vigoroso em baixas e médias rotações, é o típico carro que se pode dirigir até pulando marchas, de 1ª para 3º e direto para a 5ª, sem nem mesmo superar os 50 km/h. A que rotação? Não sei, já que o Cactus não tem conta-giros, mas tem uma seta na tela retangular que aponta para cima como dizendo “vai, passa a marcha”, ou aponta para baixo sugerindo redução.
Vigoroso em regimes tranquilos, quando levado a girar em alta ele não gosta, e avisa isso vibrando bem, deixando claro ser um tricilíndrico. Mas rodando no limite de velocidade das rodovias italianas, 130 km/h, o Cactus procede suave, silencioso e com excelente estabilidade apesar de ser meio pernalonga. É um carro com uma distância em relação ao solo algo maior do que o normal, mas nem por isso refuta uma tocada mais animadinha. Pneus grandões mas sem exagero — 205/55 R17 — situados nas extremidades ajudam tal comportamento positivo.
Direção precisa, câmbio gostoso, banco macio e que segura bem o corpo e não cansa — rodei mais de seis horas quase sem paradas num só dia sem problema — e, o melhor, um interior espaçoso e iluminado já que este Cactus, versão especial W (White), veio com um teto de vidro térmico que o do ano passado não tinha, opcional bacana mas que peca por não ter nenhuma tela que possa diminuir a incidência dos raios solares na cabeça dos ocupantes. A luz morninha e a temperatura amena do outono europeu — 10~12 °C — não me fizeram penar, mas mesmo se o tal vidro tiver o devido filtro, a tela para a versão à venda no trópico é indispensável.
Se a luz do interior agrada, mais ainda a parcimônia do motor: percorrendo o mesmo trecho de rodovia que no ano passado resultou em espetaculares 17,4 km/l, a pressa deste ano resultou em ainda bons 16,6 km/l. Curioso foi verificar que em uso urbano, sem congestionamentos, a cifra de 2015 se repetiu idêntica, 16,2 km/l, números espetaculares mas que, lembrem-se, derivam do uso com 100% de gasolina e não a nossa “alcoolina”e seus 27% de álcool.
Outro ponto alto do Cactus é a praticidade derivada da excelente ergonomia oferecida ao motorista, as portas grandes com amplo ângulo de abertura, um porta-malas decente cujo único senão é a altura da boca que implica em fazer halterofilismo para colocar bagagem pesada nele. Pecado é o banco traseiro não ter encosto bipartido, mas a explicação da Citroën é que tal recurso acrescentaria 6 kg ao peso, assim como o sistema de vidros elétricos das portas traseiras, sumariamente eliminado em prol de 25 kg a menos. E essa economia cá e lá fez o Cactus pesar ao redor dos 1.000 kg, pouco para seu tamanho.
É esquisito os vidros laterais traseiros, tão grandes, serem apenas basculantes? É, mas quebra um paradigma e, para ser sincero, quem sentirá falta não será o dono do carro. Ganha-se algo, fora o menor peso e preço? Sim, as portas traseiras são levíssimas, o porta-objetos delas gigante e o banco traseiro é mais largo.
Bastante prático no dia a dia, o Cactus não tem este nome à toa. Como a planta, ela está imune a agressões. O vegetal se vale de espinhos, o carro de painéis plásticos fofinhos chamados de “air bump”, que ocupam amplas áreas da lateral das portas, do para-choque dianteiro e da traseira. O Martelinho de Ouro morreria de fome se todos os carros fossem como o Cactus, literalmente à prova de portadas e esbarrões de motoristas desatentos.
Como disse no começo, esta contraprova com o Cactus serviu para que eu gostasse ainda mais dele. Até mesmo o desenho da frente, rombuda, passou a me convencer e aí entra em cena a simpatia que usualmente deriva da eficiência, do prazer que a facilidade de dirigir. O Cactus proporciona tudo isso e tem detalhes legais como o espaço interno, a facilidade de usar o enorme tablet plantado no meio do painel através do qual se comanda tudo. Certamente um carro que eu teria por conta de suas qualidades práticas.
Uma só palavra para defini-lo? Inovador.
RA
FICHA TÉCNICA CITROËN C4 CACTUS PURETECH 110 MANUAL | |
MOTOR | |
Denominação | EB2 PureTech 1,2 turbo |
Tipo de motor, instalação | Otto, arrefecido a líquido, transversal |
Material do bloco/cabeçote | Alumínio |
Nº de cilindros e disposição | Três, em linha |
Diâmetro x curso (mm) | 75 x 90,5 |
Cilindrada (cm³) | 1.199 |
Comprimento da biela (mm) | 145,6 |
Relação r/l | 0,31 |
Taxa de compressão (:1) | 10,5 |
Nº de comandos | Dois, cabeçote, variador de fase admissão e escapamento |
Acionamento dos comandos | Correia dentada em banho de óleo |
Válvulas por cilindro | Quatro |
Potência máxima (cv/rpm) | 110/5.500 |
Torque máximo (m·kgf/rpm) | 20,9/1.500 |
Rotação-limite (rpm/corte) | 6.500/sujo |
Formação de mistura | Injeção direta |
Combustível | Gasolina de 95 octanas RON (gasolina comum no Brasil) |
SISTEMA ELÉTRICO | |
Tensão/bateria/alternador | 12 V / 60 A·h / 120 A |
TRANSMISSÃO | |
Rodas motrizes | Dianteiras |
Tipo | Transeixo manual de 5 marchas + ré |
Relações das marchas (:1) | 1ª 3,42; 2ª 1,81; 3ª 1,28; 4ª 0,98:1; 5ª 0,77; ré 3,58 |
Relação de diferencial (:1) | 4,54 |
Embreagem | Monodisco a seco, acionamento hidráulico |
SUSPENSÃO | |
Dianteira | Independente, McPherson, braço triangular, mola helicoidal, amortecedor pressurizado e barra estabilizadora |
Traseira | Eixo de torção, mola helicoidal e amortecedor pressurizado |
DIREÇÃO | |
Tipo | Pinhão e cremalheira, assistência elétrica indexada à velocidade |
Relação de direção | n.d. |
Diâmetro do volante (mm) | 375 |
Diâmetro mínimo de curva (m) | 10,9 |
FREIOS | |
Dianteiros (tipo/Ø mm) | Disco ventilado/266 |
Traseiros (tipo/Ø mm) | Tambor/203 |
Operação | Servoassistência a vácuo, ABS e EBD |
RODAS E PNEUS | |
Rodas | Alumínio, 7Jx17 |
Pneus | 205/55R17V |
CONSTRUÇÃO | |
Tipo | Monobloco em aço, crossover 4-portas, 5 lugares; subchassi dianteiro |
DIMENSÕES EXTERNAS (mm) | |
Comprimento | 4.154 |
Largura | 1.946 |
Altura | 1.530 |
Distância entre eixos | 2.600 |
PESOS E CAPACIDADES | |
Peso em ordem de marcha (kg) | 1.095 |
Carga útil (kg) | 460 |
Peso máximo rebocável (kg) | 825 |
Capacidade do tanque (L) | 50 |
Capacidade do porta-malas (L) | 358/com banco rebatido 1.170 |
DESEMPENHO | |
Aceleração 0-100 km/h (s) | 9,3 |
Velocidade máxima (km/h) | 188 |
CONSUMO DE COMBUSTÍVEL (NORMA EUROPEIA NEDC) | |
Cidade (km/l) | 17,2 |
Estrada (km/l) | 25 |
CÁLCULOS DE CÂMBIO | |
V/1000 em 5ª (km/h) | 35,4 |
Rotação a 120 km/h em 5ª. | 3.400 |
Rotação à velocidade máxima em 5ª | 5.300 |