Pontos em comum: quatro rodas no chão e um volante. E só.
Estou falando do que podemos ver em comum entre um jipe (carro 4×4 com capacidade de aventura off-road) e um UTV. Para quem ainda não sabe o que é, a explicação mais simples é a de um veículo similar a um quadriciclo (ATV – All Terrain Vehicle) com dois lugares lado a lado. E é daí que vem o outro nome pelo qual os UTVs são conhecidos: Side by Side, lado a lado em inglês.
Nesses últimos dias com o sucesso da dupla Leandro Torres e Lourival Roldan no Rally Dakar 2017 na categoria dos UTVs (que estão liderando a categoria de forma inédita e histórica), esse é um tipo de veículo que, de repente, entrou em evidência e, creio eu, muito provavelmente muita gente não saiba exatamente o que é, como é e sua capacidade.
A origem desses veículos está no trabalho. Daí que a sigla UTV vem de Utility Task Vehicle (task de tarefa, trabalho). Mas, claro, não demorou para que eles ganhassem as trilhas e virassem mania e uma nova forma de “brincar” no Off-Road. No mercado americano, por exemplo, são quase como uma verdadeira febre.
E há alguns anos eles chegaram por aqui. E desde junho de 2015 um deles chegou à minha garagem. Mais precisamente um modelo da Polaris: o RZR 900 S EPS, que é o que você vê nas fotos. A Polaris, junto com a Can-Am (Bombardier) são os dois principais atores desse mercado no Brasil e, também, no mercado americano além de Yamaha, Honda, Kawasaki e Artic Cat que disputam a preferência dos aventureiros. Todas as empresas possuem diversos modelos entre aqueles mais voltados para trabalho, aventura e competição e até mesmo versões de quatro lugares. Os modelos também diferem em tipo de motor, tipo de transmissão etc. Ou seja, para todos os gostos e bolsos.
Uma das desvantagens do UTV é não ser homologado para rodar em vias públicas, por não ser enquadrado como “automóvel” pelo nosso código de trânsito. Ou seja, a aplicação é tão-somente para uso Off-Road e você terá que carregá-lo numa carreta para chegar até a trilha e voltar para casa.
Bem, feita as apresentações é hora de falar um pouco sobre como é “brincar” com um desses.
Se você já fez trilhas de moto, pense em juntar a sensação de liberdade de pilotar “ao ar livre” com a técnica de pilotar um carro. A soma disso é empolgante e divertido demais. Essa é a primeira sensação. E diferentes dos ATVs, a sensação de segurança proporcionada pela gaiola é um item importante. No entanto, o uso de capacete é indispensável. Assim, como vestimenta para se proteger: luvas, mangas compridas etc. Se você gosta de lama, ela vai chegar até você, literalmente… rsrs. E poeira. E os galhos. Puro contato com a natureza.
Esse UTV da Polaris é dotado de suspensões independentes de longo curso (chega a mais de 330 mm na traseira) com amortecedores com regulagem de compressão, podendo endurecer (para velocidade) ou amolecer (mais adequado para trilhas). E também é possível fazer regulagem de altura em relação ao solo, levantando ou abaixando o carrinho.
O RZR S 900 tem um motor bem forte, de 76 cv, acoplado a um câmbio do tipo CVT (continuamente variável) com opção “High” e “Low” (reduzida, selecionável na alavanca de câmbio) e construído com chassis tubular. Resumindo, a brincadeira é só acelerar e frear. Nas trilhas ruins — e divertidas — que requerem mais força e baixa velocidade, o uso em “Low” é necessário.
Em trilhas com terreno muito acidentado o que mais chama atenção é a incrível capacidade da suspensão. Ela copia o terreno com muita facilidade. Com um entre-eixos curto o UTV vai buscando o terreno, às vezes empinando a dianteira, mas segue em frente com uma facilidade estonteante. Ajuda, claro, a grande distância do solo, que chega a 320 mm. Olhando para ele não parece. A sensação, muitas vezes, é que ele vai bater no chão, pegar naquela pedra etc. Mas, não… ele passa. Simples assim. E, às vezes, é incrível a facilidade que sua capacidade de tração permite.
Não gaste seu tempo pensando em ângulos de entrada e saída. Veja as fotos dessa matéria. As rodas estão nos extremos, tanto na parte dianteira e traseira como nas laterais. Ou seja, para subir não há nada para “bater” antes dos pneus. Idem com a traseira. O ângulo central é bom porque o entre-eixos é curto (2.007 mm) e a distância do solo é grande. E isso explica, em muito, a facilidade de transpor terrenos difíceis.
O motor e o seu desempenho são um capítulo à parte. Construído com dois cilindros e 875 cm³, 4 válvulas por cilindro, injeção eletrônica de gasolina e refrigeração líquida, ele é capaz de acelerar de 0 a 64 km/h (40mph) em apenas 4 segundos. E isso é rápido, muito rápido quando se está em fora-de-estrada. Colabora para esse desempenho o baixo peso do UTV de apenas 558 kg. Mas em off-road o que vale é a potência em baixa rotação fornecida e como ela chega até as rodas. E nisso ele também é ótimo. Você sempre tem força para vencer os obstáculos, para contornar as curvas, para ganhar aceleração e, claro, para se divertir muito (sempre com segurança).
O modelo que escolhi tem direção eletroassistida (EPS – Electric Power Steering). Ótima em manobras e regressiva em assistência com o aumento da velocidade. Além disso, ela é rápida: são apenas duas voltas de batente a batente. Lembra (quase) um kart. Mais um item que traz mais diversão na pilotagem. Tanto em velocidade como na trilha, quando você corrige a trajetória do UTV ele responde com muita facilidade e presteza.
Consegui fazer um teste interessante em Campos do Jordão (SP) e outro na região de Gonçalves (MG). Passei com um jipe e com o UTV nas mesmas trilhas e com poucos dias de diferença entre um tipo de veículo e outro. Conclusão: tudo no UTV é mais rápido e mais simples. Você vai acelerando, posicionando o carrinho e passa pelos obstáculos com facilidade e de forma mais rápida. O jipe também venceu os obstáculos das trilhas repletas de erosões e com grandes inclinações com facilidade, mas numa velocidade menor, dando mais trabalho no volante para “buscar” a abordagem correta, para não encostar a frente, não bater o diferencial etc.
Com o UTV não me lembro de ter tido que que usar o freio nenhuma vez para “acertar” o ritmo ou a posição do “brinquedo”. Numa comparação simples, fiz a mesma trilha em 1/3 do tempo com o UTV. E isso não significa que fiz correndo, impondo velocidade. Simplesmente, é mais rápido o ritmo do UTV quando comparado ao jipe pela facilidade com que ele supera os obstáculos.
O sistema de tração (selecionável através de botão no painel) do UTV da Polaris é do tipo AWD (All Wheel Drive), ou seja, por demanda. Num primeiro momento é fácil de pensar que isso não é bom, porque pensamos como se fosse um sistema AWD que comumente encontramos nos carros “grandes”. Mas, esse sistema da Polaris é incrivelmente rápido e eficiente. Ele traciona as rodas traseiras e se elas perdem aderência a tração também é transmitido para as rodas dianteiras. Isso faz pensar que vamos “sentir” as rodas traseiras patinarem para as dianteiras trabalharem. Ledo engano. Para perceber minimamente essa situação você precisa ficar muito atento, muito mesmo. Ele sempre consegue transferir torque para as rodas com aderência de maneira rápida e eficiente, até porque ele não tem diferencial nos eixos motrizes. Isso também significa que ele “arrasta” os pneus quando se faz curvas fechadas em terrenos com aderência. Então é sempre importante lembrar disso na hora das manobras.
Numa das trilhas que fiz o terreno estava muito liso, na subida da Serra da Balança na região de Gonçalves (MG) depois de três dias de chuvas. Quando cheguei lá, acostumado a passar por aquela trilha lisa com carros 4×4 (e já ter que ter dado meia-volta mais de uma vez de tão lisa que estava a subida), até pensei que ele conseguiria subir, dado o seu baixo peso e ótimos e agressivos pneus off-road com 27” (686 mm) de diâmetro externo. Mas fiquei impressionado com a facilidade. Na verdade, ele mal patinou. Fui acelerando e ele foi respondendo prontamente, ganhando aderência e vencendo aquele terreno liso com incrível facilidade.
Na primeira trilha que fiz com ele, na famosa Trilha da Placa na região de Cajamar (SP), também fiquei impressionado com a facilidade que ele passava por pedras, erosões grandes e inclinações. Num dos trechos, chegamos numa subida bem inclinada e com sulcos bem profundos. Confesso que se não tivesse visto um outro UTV na minha frente passando por aquela erosão, teria procurado uma outra opção. Mas, como o primeiro passou, lá fui eu. Incrível. Mesmo pegando um pouco por baixo, ele passou com uma facilidade de “dar orgulho”. A sensação é de que ele não perde a tração em momento algum, sempre tendo alguma roda com aderência e tração.
Mesmo com tantos elogios, o fato é que não se trata de ser melhor ou pior quando se compara o jipe e o UTV. A palavra correta é “diferentes”. E que ótimo. Ambos são diversão garantida, cada qual à sua maneira. E com suas características. Mas, no meu caso, o UTV virou há algum tempo uma nova paixão e me traz um tipo de diversão que é excepcional. E que ótimo que seja tudo Off-Road. E que sejamos cada vez mais Off-Roaders e aventureiros.
Abraços 4×4
LFC
FICHA TÉCNICA POLARIS RZR S 900 EPS | |
MOTOR E TRANSMISSÃO | |
Arrefecimento | Líquido |
Sistema de alimentação | Injeção no duto, gasolina |
Sistema de tração | AWD/2WD sob demanda de alto desempenho |
Transmissão | PVT Automático – P / R / N / L / H |
Cilindrada (cm³) | 875 |
Motor | Marca ProStar, 4 tempos, bicilíndrico, duplo comando de válvulas no cabeçote |
Potência (cv) | 76 |
SUSPENSÃO | |
Dianteira | Triângulos superpostos série Performance, curso de 311 mm e amortecedor Fox Podium X 2.0 com ajuste de compressão |
Traseira | Triângulos superpostos série Performance, curso de 335 mm com barra estabilizadora e amortecedor Fox Podium X 2.0 com ajuste de compressão |
DIREÇÃO | |
Tipo | Pinhão e cremalheira, eletroassistida |
FREIOS | |
Freio de estacionamento | Posição P no câmbio automático |
Freios dianteiros/traseiros | A disco, hidráulico nas 4 rodas com pinças de dois pistões |
PNEUS / RODAS | |
Pneus dianteiros | 27×9-12; GBC Dirt Commander |
Pneus traseiros | 27×11-12; GBC Dirt Commander |
Rodas | Alumínio com pintura na cor preta |
DIMENSÕES | |
Veículo (CxLxA, mm) | 2.692 x 1.524 x 1.816 |
Altura livre ao solo (mm) | 320 |
Caçamba (CxLxA, mm) | 525 x 940 x 200 |
Entre-eixos (mm) | 2.007 |
PESOS E CAPACIDADES | |
carga da caçamba (kg) | 136,1 |
Carga útil (kg) | 335,6 |
Número de lugares | 2 |
Peso em ordem de marcha (kg) | 557,9 |
Tanque de combustível (L) | 36 |
OUTRAS CARACTERÍSTICAS | |
Capacidade de reboque (kg) | 680,4 |
Cor / Grafismos | Blue Fire |
Iluminação | Faróis de halogênio (55/60 W baixo/alto) e lanterna traseira/freio em LED |
Instrumentação | Painel digital, velocímetro, conta-giros, hodômetro total e parcial, horímetro, relógio, indicadores de marcha, combustível, temperatura, bateria,cinto segurança e saída de energia C/C |
Reboque | Receptor de entrada do reboque de 317 mm |
Sistema de carga | Lock & Ride |