Recentemente estive em Sorocaba, a 100 quilômetros de São Paulo, em direção ao interior. Vou com muita frequência para lá e, de uma forma em geral, vejo bastante cuidado com a linda cidade de pouco mais de 600.000 habitantes. Mas como Sorocaba fica no Brasil, eis que recentemente apareceu uma jabuticaba por lá.
A rodovia Raposo Tavares é provavelmente a principal via de ligação entre o município e as localidades vizinhas. Aliás, naquele trecho ela adquire características mais de avenida até. A ponto de que há um par de anos foi feita uma via marginal em boa parte do trecho urbano da rodovia, com o objetivo de melhorar o trânsito na estrada, que tem somente duas faixas em cada sentido.
Assim como entendo a necessidade das marginais, tenho várias restrições à forma como foram feitos os acessos de e para estas vias marginais. Em alguns pontos o ângulo de entrada de algumas ruas para a pista é de 90 graus. As alças de acesso às pontes são um desafio às leis de gravidade, sem falar nas forças centrífuga e centrípeta e não raro algum caminhão tomba. Isso sem falar nas bizarras lombadas no acesso no final da av. Dom Aguirre à Raposo Tavares – logo depois de um cotovelo a 45 graus, totalmente impossíveis de serem vistas por quem dirige. Eu só não acabei com meu carro pois sei de sua existência. De resto…
Mas semana retrasada foi surpreendida por uma, digamos assim, pérola da engenharia. Colocaram guard-rails bloqueando os pontos de ônibus. É mais fácil ver as fotos do que eu gastar 2.000 caracteres explicando essa sandice de tão absurda que é.
É claro que qualquer passageiro terá apenas duas opções, dependendo do grau de agilidade e da quantidade de quilômetros treinados com Maureen Maggi. Ou se espera o transporte coletivo do lado de fora do guard-rail, exatamente no leito carroçável daquilo que é tecnicamente uma rodovia, portanto sujeito a driblar os veículos que por ali passam com gingado digno de um toureiro espanhol ou se pula a tal geringonça. E eu que achava que os Jogos Olímpicos já haviam terminado. Tolinha…
O tal ponto de ônibus fica no km 93 da rodovia, sentido interior. Nos demais pontos de ônibus na rodovia há uma abertura no guard-rail para embarque e desembarque de passageiros.
O incrível disto tudo é que todo mundo diz que está certo – exceto o tão ferido bom senso. A concessionária da estrada diz que instalou a defensa metálica em dezembro atendendo a normas técnicas da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). E ainda afirma que a medida garante a segurança aos usuários em caso de acidentes.
Já a Urbes, responsável por administrar o trânsito em Sorocaba, confirma que as linhas 37 Gutierres/Pluma, 49 Astúrias/Raposo Tavares e 74 Caputera atendem ao ponto, que “sempre contou com guard-rail de proteção aos usuários”. A Urbes, entretanto, confirma que até agora havia uma abertura para acesso ao ponto e, claro, se comprometeu a vistoriar o ponto de ônibus.
Ainda que seja assim, qual é a lógica de fazer algo totalmente ilógico para depois, quando cobrado, mandar alguém fazer uma vistoria e analisar uma “adequação”? Não daria para fazer certo da primeira vez?
Há muita polêmica no Brasil em torno da colocação de guard-rails, especialmente entre os motociclistas já que houve casos de decapitação após derraparem na pista. Apesar de a ABNT regrar esse assunto basta olhar para o ponto de ônibus de Sorocaba para perceber que há algo muito errado com a instalação.
É óbvio que nesta obra além de bom senso faltou fiscalização. Nem digo que quem colocou a guard-rail ali não deveria saber que isso não faz sentido — meu otimismo na raça humana e no chamado “senso comum” está cada vez menor — mas, cadê o responsável pela obra? Esse sim, deveria saber. Onde ele estava na hora? Não foi checar o término da intervenção? Parece que as respostas são, respectivamente, não e não. Cabe, sim, ao poder público fiscalizar o que é de sua alçada. Até acho legal a sociedade fazer isso — se quiser, pois obrigação não tem. Para isso as autoridades têm assessores, fiscais, supervisores e toda uma penca de pessoas com funções bem específicas que incluem servir ao público.
Mudando de assunto: Recentemente disse aqui que a volta dos limites de velocidade nas marginais de São Paulo poderia não acontecer no dia 25 de janeiro como anunciado pela Prefeitura. No dia 20 de janeiro uma entidade de ciclistas entrou na Justiça contra a medida. Na realidade, não contra todo o plano anunciado pela Prefeitura, que inclui uma série de medidas de melhoria do trânsito e de segurança, mas somente com o que seria a nova máxima. Como já foi dito aqui, o juiz alegou risco a pedestres e ciclistas. Também como já foi dito em quase todo lugar ciclistas são proibidos de andar nas marginais, assim como pedestres — ou seja, a justificativa não faz sentido para dizer o mínimo. E ainda que fosse válido, a velocidade nas faixas da direita nas pistas locais, portanto aquelas mais próximas de onde ciclistas e pedestres poderiam estar (não nelas, claro está) continuará sendo 50 km/h. Ou seja, qual é o prejuízo para ciclistas e pedestres? Só se eles estiverem no meio das pistas, o que além de proibido por si só já deveria ser motivo de internação na ala psiquiátrica de algum hospital. Alguém não acredita em motivos políticos para impedir a volta às velocidades anteriores?
NG