O up! Track foi uma das novidades da Volkswagen no recente Salão do Automóvel de São Paulo. É baseado no move up!, seguindo a trilha do Fox Track e do Gol Track, e conta com diversos elementos de decoração externa, como molduras nos arcos dos para-lamas, rodas de liga leve e detalhes de efeito cromado nos para-choques. Seu preço público sugerido é R$ 46.903. Os opcionais são duas pinturas metálicas (cinza Platinum e prata Sirius, R$ 1.378) e rodas de alumínio, R$ 960. A cor do veículo testado, branco Cristal, e as duas outras disponíveis, preto Ninja e vermelho Flash, não têm custo adicional.
Os principais itens de série do up! Track são ar-condicionado, computador de bordo de 10 funções, chave-canivete com controle remoto, cintos dianteiros com pré-tensionador e limitador de carga, engates Isofix e fixação superior dos bancos de crianças, faróis e luz traseira de neblina, repetidoras de setas nos espelhos, pisca-3, alerta de frenagem de emergência, travamento central, acionamento elétrico dos vidros dianteiros, fechadura elétrica na porta de carga, e equipamento de áudio (rádio AM/FM, CD-player, Bluetooth, MP3 player e entradas USB / AUX-IN / IPod).
Após dirigir o up! TSI, o turbo, de 105 cv, eu temia que quando voltasse a dirigir o aspirado, o MPI, de 82 cv a 6.250 rpm (álcool, 75 cv a gasolina), o achasse um pouco lerdo e sem graça. Ledo engano. O up! é um carro atraente de qualquer jeito. Turbo ou aspirado, dirigindo devagar ou rápido, vazio ou com carga máxima, ele sempre é ligeiro, silencioso, macio e bem comportado. Não há quem não goste de guiá-lo. Por dentro ele é largo e espaçoso para quem vai na frente, e sua ampla área envidraçada lhe dá um interior claro e arejado. São características que lembram o saudoso Brasília — inclusive o desenho do velocímetro se parece com o primeiro que ele teve.
Se fosse para descrever o up! com uma só palavra, eu escolheria “dócil”. Um carro jeitoso, leve de guiar, bem fiel ao conceito do carro que deu origem e sucesso à Volkswagen, o Fusca. O up! parece ter nascido de uma decisão de fazerem uma versão moderna do Fusca, no qual manteriam fidelidade ao seu conceito e não às suas linhas. Então, acho que enumeraram as características do Fusca e trataram de segui-las, claro que sob os padrões modernos.
Vamos então descrever o que, para a sua época, era um Fusca. Pequeno, simples, descomplicado, confiável, econômico, leve, fácil de guiar, espaço interno só suficiente, robusto, valente, despretensioso, prático e… charmoso. O Fusca, para quem não viveu seu auge, não era só carro de polícia, de roça, ou táxi, ou, como diz o colega Josias, “carro com escada no teto”.
O Fusca tinha charme. Se feio ou bonito, não estou em condições de julgar, pois sendo um “fusqueiro” de nascença me digo suspeito; mas que era charmoso, era. Ninguém, fora aqueles metidos a grã-finos — tipinhos que sempre existiram — tinha vergonha de rodar com um Fusca, desde que fosse relativamente novo e bem cuidado. Ter Fusca era sinal de desapego em favor da praticidade. Era bacana, e ainda é.
Conheci gente que tinha um faustoso Landau e um Fusca, outro que tinha um elegante Mercedes cupê e um Fusca, outro um endiabrado Corvette e um Fusca — “envenenado”, claro —, isso só para citar alguns. O Fusca era ideal para o dia a dia na cidade e o “carrão” ficava para ocasiões mais especiais, tipo sair para jantar ou viajar.
Outra característica marcante do Fusca, que agora se repete no up!, é que tudo nele tinha que ser leve de manejar. Se estivesse duro para enfiar a chave na porta, tinha coisa errada. A chave tinha que escorregar num silencioso movimento para dentro. Virá-la para abrir, mesma coisa, tinha que virar livre. Em seguida, apertar o botão do trinco tinha que ser sem força. E pronto! Porta aberta. Se era para ajeitar a inclinação do encosto, com três posições, bastava aliviar as costas do encosto e virar com facilidade os ressaltos onde sua articulação se apoia.
A direção do Fusca, mesmo sem assistência, era leve e ao mesmo tempo rápida (relação 14,4:1), isso porque o peso do motor e do câmbio ia todo sobre o eixo traseiro. Os pedais eram para ser leves e bem-dispostos, particularmente o da embreagem. Na alavanca do câmbio, com curso curto e preciso, trocava-se marchas com as pontas dos dedos. Enfim, tudo nele tinha que ser fácil e leve. Se algo assim não estivesse, podia tratar de levá-lo ao mecânico que ali tinha coisa errada, fato que não acontecia com a maioria dos carros contemporâneos ao Fusca, que sempre tinham algo pesado a manejar, seja a direção, ou o comando do câmbio, o pedal da embreagem etc.
Trocar pneu de um Fusca era coisa de criança, serviço que meu esperto pai logo me ensinou para se ver livre dos esforços, um que era trocar pneu e outro que era o de me aguentar dando opinião. Para ele só sobrava o aperto final.
O leitor viu só quantas qualidades caracterizavam o Fusca? Reproduzi-las, todas, dentro dos padrões atuais, adicionando novas e eliminando defeitos — entre eles sua estabilidade um tanto traiçoeira —, não seria uma tarefa fácil.
Dirigindo à noite e debaixo de chuva, eu mudava as posições sem ter que olharBom, após conviver com o up! Track na cidade e na estrada, primeiro viajando com ele bem carregado e depois só com uma mochila flutuando no porta-malas, me parece que a VW conseguiu refazer sua fórmula de sucesso.
Alguns dirão que o Gol já cumpria esse papel. Acho que não, pois ao Gol falta algo importante, o charme, charme esse que o simpático up! esbanja. Nem sempre o mais caro é o mais charmoso. Por exemplo, dá para imaginar a Nicole Kidman descendo de um up! bacaninha, assim como de um Fiat 500, mas não de um Gol.
Viajando na base do passeio, tranquilo, com o ponteiro do grande velocímetro oscilando entre 110 e 120 km/h e gasolina no tanque, ele faz acima de 18 km/l. Viajando em ritmo forte faz ao redor de 15 km/l ou pouco mais; na cidade. algo em torno de 13 km/l (veja o consumo oficial Inmetro/PBVE na ficha técnica). Tendo tanque de 50 litros, logo se vê sua grande autonomia. A 120 km/h reais, com o velocímetro indicando 126 km/h, o giro fica em 4.000 rpm. Pode parecer alto, porém nesse ritmo o motor está girando suave e sem dramas, e o silêncio a bordo impressiona.
É realmente silencioso, incluindo aí ruídos de rodagem e aerodinâmicos. O motor tem boa potência em baixa, resultado do torque de 10,4 m·kgf a 3.000 rpm (álcool); é elástico apesar da baixa cilindrada. Corta limpo a 6.500 rpm, rotação que atinge com facilidade e sem escândalo.
O pedal da embreagem é bem leve e tem curso curto. O comando do câmbio, a cabo, recebe nota máxima, e o câmbio tem marchas razoavelmente bem escalonadas, embora tenha sido encurtado “para o gosto do brasileiro”, que pede marchas mais curtas. Ficou errado, pois não atinge velocidade máxima em quarta, como o up! alemão — o motor corta antes, a 6.500 rpm/156 km/h. Em quinta o motor fica a 5.450 rpm quando na velocidade máxima declarada de 165 km/h, bem abaixo da rotação de potência máxima (6.250 rpm). Com 4ª e 5ª marchas mais longas ele atingiria velocidade máxima maior (em 4ª) e a 5ª ficaria ainda melhor para velocidades de viagem, tal qual no up! alemão.
A VW divulga aceleração de 0 a 100 km/h em 12,4 segundos com álcool (12,6 s com gasolina).
O up! bem poderia viajar tranquilamente em velocidade de cruzeiro de 140 km/h reais, caso nossos legisladores atuais fossem tão esclarecidos quanto os de antanho, que há 49 anos estabeleceram 120 km/h para a rodovia Castello Branco (inaugurada em 1968) e nela rodavam carros bem menos estáveis e seguros que este pequeno up!, o Fusca inclusive.
O up! segue estável e firme nas retas, proporcionando uma viagem descansada ao motorista, que tem boa posição de dirigir, já que o banco — com regulagem de altura — apesar de firme é bem anatômico. O volante só tem regulagem de altura, mas está bem posicionado e tem boa pega. A assistência elétrica da direção é indexada à velocidade, mas eu, particularmente, preferiria o volante menos leve, embora entenda que seja como é já que a maioria prefere assim e, além disso, acostuma-se com isso facilmente.
É bom de curva, sem vícios ou surpresas. O comportamento é previsível, avisa com boa antecedência a proximidade de seus limites. Os freios, dianteiros a disco ventilado e traseiros a tambor, são eficazes.
Fiz uma viagem ao interior à noite e debaixo de chuva, sendo que em trechos ela vinha em torrentes. Viagem tranquila e segura, ajudada pelos bons faróis e limpadores, cuja segunda velocidade de varrida é realmente rápida, e pelo bom desembaçamento proporcionado pelo ar-condicionado. Os pneus Goodyear GPS Duraplus, 175/70R14 se mostraram bons em piso molhado, sem nenhuma aquaplangem mesmo sobre espessas lâminas d’água.
Boa posição de dirigir, ajudada pelo banco e volante com regulagem de alturaÉ desnecessário dizer que não tem lá grande espaço para malas (285 litros) e para quem vai no banco traseiro. Afinal, é um carro pequeno e, tal como o Fusca, tem espaço só suficiente. Mas na frente, cabe lembrar, é agradavelmente espaçoso.
Bom, após tantos elogios, um detalhe desagradável e incompreensível: é quase impossível fazer o punta-tacco. Se a VW dispôs os pedais do Gol tão bem, a ponto de o Bob utilizá-lo para fazer o vídeo onde explica tão útil manobra, por que não fazer o mesmo com o up!?
Prezada Volkswagen, não esqueça que fazer punta-tacco no Fusca sempre foi moleza.
AK
Nota: atualizado com vídeo em 28 de março de 2017.
FICHA TÉCNICA VOLKSWAGEN UP! TRACK | |
MOTOR | |
Instalação | Dianteiro, transversal, flex |
Material do bloco/cabeçote | Alumínio |
Configuração / N° de cilindros / n° de mancais | Em linha / 3 / 4 |
Diâmetro x curso (mm) | 74,5 x 76,4 |
Cilindrada (cm³) | 999 |
Aspiração | Atmosférica |
Taxa de compressão | 11,5:1 |
Potência máxima (cv/rpm, G/A) | 75/6.250 /82/6.250: |
Torque máximo (m·kgf/rpm, G/A) | 9,7/3.000~3.800/10,4/3.000~3.800 |
N° de válvulas por cilindro | Quatro |
N° de comandos de válvulas/acionamento | 2/correia dentada |
Formação de mistura | Injeção eletrônica multiponto no duto |
Gerenciamento do motor | Bosch ME 17.5.24 |
TRANSMISSÃO | |
Câmbio / rodas motrizes | Transeixo manual / dianteiras |
N° de marchas | 5 à frente e uma à ré |
Relações de transmissão (:1) | 1ª. 3,769; 2ª. 2,095; 3ª. 1,281; 4ª.0,927; 5ª. 0,740; ré 3,182 |
Relação do diferencial (:1) | 4,929 |
FREIOS | |
De serviço | Hidráulico, duplo circuito em diagonal, servoassistido, ABS |
Dianteiros (Ø mm) | Disco ventilado, 256 |
Traseiros (Ø mm) | Tambor, 200 |
SUSPENSÃO | |
Dianteira | Independente, McPherson com subchassi, mola helicoidal, amortecedor pressurizado e barra estabilizadora |
Traseira | Eixo de torção, mola helicoidal e amortecedor pressurizado |
DIREÇÃO | |
Tipo | Pinhão e cremalheira, assistência elétrica indexada à velocidade |
Diâmetro mínimo de curva (m) | 9,7 |
Relação de direção (:1) | 15,5 |
N° de voltas entre batentes | 2,9 |
RODAS E PNEUS | |
Rodas | Aço 5Jx14 (opcional alumínio 5,5Jx14) |
Pneus | 175/70R14 |
PESOS | |
Em ordem de marcha (kg) | 938 |
Carga máxima (kg) | 420 |
DIMENSÕES EXTERNAS (mm) | |
Comprimento | 3.605 |
Largura sem / com espelhos | 1.645/1.910 |
Altura | 1.500 |
Distância entre eixos | 2.421 |
Bitola dianteira/traseira | 1.423 / 1.424 |
AERODINÂMICA | |
Coeficiente de arrasto (Cx) | 0,36 |
Área frontal (m²) | 2,07 |
Área frontal corrigida (m²) | 0,747 |
CAPACIDADES (L) | |
Porta-malas | 285 |
Tanque de combustível | 50 |
DESEMPENHO | |
Velocidade máxima (km/h, G/A) | 163/165 |
Aceleração 0-100 km/h (s. G/A) | 12,6 (G) / 12,4 (A) |
Aceleração 0-1.000 m (s) | 34,6 (G) / 34,4 (A) |
Retomada 80-120 km/h, 5ª (s) | 18,9 (G) / 18,5 (A) |
CONSUMO DE COMBUSTÍVEL (INMETRO/PBVE) | |
Cidade (km/l, G/A) | 14,2/9,6 |
Estrada (km/l, G/A) | 15,3/10,6 |
CÁLCULOS DE CÂMBIO | |
v/1.000 rpm em 5ª (km/h) | 30,1 |
Rotação a 120 km/h em 5ª (rpm)) | 4.000 |
Rotação à velocidade máxima. 5ª (rpm) | 5.450 |
GARANTIA | |
Termo | 3 anos integral, 5 anos para perfuração de chapa |
MANUTENÇÃO | |
Revisões (km) | 10.000 |
Troca de óleo do motor (km/tempo) | 10.000 / 12 meses |