Dois começos, do Ford Maverick no Brasil e meu como jornalista de veículos. A data estampada na capa diz quando. O Maverick havia sido apresentado à imprensa no mês anterior e as duas únicas revistas de automóveis da época, Quatro Rodas e Autoesporte, receberam o carro da Ford para o primeiro teste.
O diretor de redação da Autoesporte era o inesquecível Mauro Forjaz. A editora carioca, a Efecê, já estava sediada em São Paulo na ocasião, e como Ford fizesse o lançamento no Rio de Janeiro, na cidade-estado da Guanabara (1960–1975), o Mauro resolveu que o teste seria feito lá mesmo. Como ele e eu já tínhamos um bom relacionamento, resolveu me convidar para ajudá-lo no teste por saber que eu era enfronhado nos assuntos de técnica veicular.
Abrindo um parêntese, esse assunto de cidade-estado etc. me colocou numa situação curiosa, a de ser natural de três estados ao longo da minha vida: nasci na cidade do Rio de Janeiro, mas primeiro no Distrito Federal, depois Estado da Guanabara e, hoje, Estado do Rio de Janeiro… Coisa de Europa, como checoeslovacos hoje serem checos e eslovacos, de nacionalidades diferentes, da República Checa e da Eslováquia após as mudanças geopolíticas na região em 1993.
Quando o Mauro me convidou, conversei com meus sócios na concessionária Volkswagen, pois em princípio achamos estranho eu ser estreitamente ligado a uma marca atuar num veículo de imprensa, porém era uma questão de ética com que a revista devia se preocupar, não nós. Assim, os sócios, de comum acordo, acharam que não haveria problema para a imagem da concessionária e tampouco seria capaz de abalar nosso relacionamento comercial com a Volkswagen do Brasil.
Primeira pagina da matéria, meu nome está
no crédito junto com o do Mauro Forjaz
Foi assim que o Maverick começou sua vida no Brasil e eu, minha carreira de jornalista automobilístico aos 30 anos, embora não o fizesse de modo contínuo. Tive um breve período em 1982 e 1983, outro maior de 1988 a 1997, e finalmente de 2003 até hoje. Os hiatos foram trabalhos longos na Fiat, Volkswagen, General Motors e Embraer, bem como outros menores, na Gurgel, Lada e Stuttgart Sportcar (importador Porsche).
Participar de um teste feito por revista foi uma experiência nova e aprendi muita coisa com o Mauro Forjaz, muitas da quais me norteiam até hoje. Mas em contrapartida passei muita técnica, muitos conceitos para o Mauro, afinal havia sido para isso que ele havia me convidado, de modo que a troca foi benéfica para ambos.
Quem dirigia nesse momento da foto era o Heitor Feitosa, da Autoesporte
Houve uma segunda “requisição” de órgão de imprensa para eu acompanhá-los, tão importante quanto do lançamento do Maverick, que foi o editor do caderno de veículos do jornal O Globo, Fernando Mariano, ter-me convidado para juntos irmos ao lançamento do Fiat 147, em setembro de 1976. Nesse caso para mim foi muito útil, pois se tratava de um produto concorrente do que representávamos — quanto mais se conhecer um concorrente, melhor.
O evento de lançamento consistiu de ir da Pampulha, em Belo Horizonte, a Ouro Preto, percurso de 96 quilômetros.
Em Ouro Preto (foto antigosverdeeamarelo.blogspot.com)
Na viagem, logo vi que teríamos pela frente um forte concorrente. Houve uma momento em que avistei uma subida de terra, fora da estrada Belo-Horizonte–Ouro Preto, a BR-356, e eu quis vez como seria um carro de tração dianteira com entreeixos de 2.220 mm naquela situação, pois eu já conhecia a boa aptidão do Passat para isso. O 147 foi bem — mas foi um alvoroço só em meio ao pessoal da Fiat, um carro de teste ter “sumido”. Depois expliquei e ficou tudo certo…
E assim, co-assinei mais uma matéria — mal sabendo o que o futuro me reservava.
BS