Não vou falar de política e nem de partido político, uma vez que este é um assunto suprapartidário e mundial. E embora possa parecer fora de tópico, não é, como veremos adiante.
A lei federal que obriga a esse desrespeito ao fumante e a quem por acaso veja um maço de cigarros, a exibição de fotos horripilantes como essa acima, é a de nº 9.294 de 15 de julho de 1996. Não conheço hipocrisia maior, pois se o Ministério da Saúde, subordinado ao Poder Executivo, afirma que “esse produto” é a causa de males como os citados abaixo da foto, então a fabricação e venda de cigarros tinha de ser proibida no país. Não o sendo, o responsável por aquele ministério, o titular da pasta, comete crime de prevaricação. Isso é muito sério, mais do que se pensa.
Como eu disse, esse crime, essa hipocrisia, não só aqui:
A foto do maço na abertura desta matéria é de uma imbecilidade hedionda. Senão, vejamos. Minha mulher também é fumante e fumou durante a gravidez dos nossos dois filhos, que nasceram perfeitos. Sempre viveram ambiente fumante e cresceram saudáveis, com um mínimo de resfriados, gripes. Nunca tiveram problema de obesidade e continuam saudáveis ao redor de 30 anos de idade. Então a foto de abertura não é só imbecil, é mentirosa e criminosa.
A foto seguinte, logo aí acima, contraria tudo o que eu disse no parágrafo anterior ao dizer que “fumar é prejudicial a você e outros à sua volta”. Nossa fiel empregada há 22 anos, que vive em ambiente fumante, tem ótima saúde e parece ter menos 20 anos de idade do que tem. Até nossa cadela beagle, a Magali, viveu 16 anos, bastante para o porte dela.
Concordo que fumaça de cigarro, para quem não fuma (80%) incomoda, mas para isso os bares e restaurantes tinham área fumante e não fumante. Quem não fumava e escolhia a sua área não tinha o menor problema de incômodo. Agora acabou, não se fuma mais “em ambientes fechados” porque a fumaça (dos 20% que fumam) fica no ar, dizem os imbecis, que não sabem (ou fingem não saber) que há renovação de ar mesmo em ambientes com ar-condicionado — se não houvesse renovação todos morreriam por falta de oxigênio, só respirariam o “ar velho”, o CO2, havendo ou não pessoas fumando no ambiente.
Por causa dessa imbecilidade foi-se o prazer de quem fuma de ir uma choperia ou restaurante. A troco de absolutamente nada.
E a contribuição com impostos? Cada lado, o a favor e o contra, divulga seus números referentes a arrecadação de impostos da indústria do fumo e o gastos de saúde relativos a doenças “causadas” pelo hábito de fumar, mas um número que tenho é R$ 7 bilhões em impostos ante R$ 2,5 bilhões com gastos hospitalares. Portanto, prejuízo ao tesouro não há, pelo contrário.
Acho que vale recomendar que as pessoas deixem o cigarro, mas o que se faz, publicar fotos horrorosas nos maços, repito, é um desrespeito a que tem um hábito que de ilegal não tem nada. Inclusive, contribui para o orçamento do governo.
Aliás, em 2005, na gestão de Max Mosley, a FIA baniu propaganda de cigarro em carros de corrida e o que se vê desde então é dificuldade financeira generalizada no automobilismo, especialmente a cara F-1. Que burro!
Outra foto horrorosa nos maços:
Depois de falar da grande hipocrisia do cigarro, vejamos agora a hipocrisia-tópico do Ae. Quando eu trabalhava na GM (1997-2000) recebemos uma circular do presidente mundial Jack Smith Jr. alertando sobre as restrições ao tráfego que estavam começando a surgir emanadas de grupos de ecologistas e de urbanistas e como isso poderia ser prejudicial aos negócios. Dito e feito.
Hoje o automóvel vendo sendo cada vez mais demonizado aqui e na Europa (EUA, não), como se fosse um inimigo. Até a imbecilidade do Dia Mundial Sem Carro inventaram. Dia desses conheci o namorado de uma prima-sobrinha, Pedro Mamede, e ele disse uma coisa muito certa: o melhor amigo do Homem é o automóvel, não o cão. Considerando apenas uma aspecto, utilidade, o que o Pedro disse está totalmente certo. Um cão não leva uma pessoa doente para hospital, leva? E tampouco transporta pessoas de uma cidade a outra.
A região da Grande São Paulo responde por cerca de 20% do total de vendas de automóveis no Brasil. Alguém tem alguma dúvida de que a demonização do automóvel por parte do atual prefeito de São Paulo não esteja influenciando a queda de vendas de veículos? É claro que está. E quando a indústria automobilística tem crise de vendas, como a atual, toda a economia é afetada. O ministro da Fazenda já disse que o país crescerá menos de 1% este ano.
Pois bem, uma grande hipocrisia é o automóvel ser forte gerador de impostos para o município (50% do IPVA) e, entretanto, cidadãos donos de automóveis serem obrigados a ouvir barbaridades tipo “as pessoas vão pensar duas vezes antes de tirar o carro da garagem”, com disse o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad há alguns meses aludindo às faixas exclusivas de ônibus. E quem só tem um carro ter de se sujeitar a restrição de circulação uma vez por semana em dois períodos do dia, uma “operação” que já dura 17 anos.
Essa e a dos maços de cigarros são ou não ótimas aulas de hipocrisia?
BS