Ao lançar o Voyage 2015 a Volkswagen redefiniu as versões e seus nomes. Antes Voyage básico e Comfortline, agora a nomenclatura segue o padrão mundial da marca com Trendline, Comfortline e Highline, mais uma nova versão-topo chamada Evidence. Esta se diferencia das demais pelo acabamento interno mais elaborado, como o painel em tonalidade cinza, revestimento do bancos em alcantara (tecido composto de poliéster e poliuretano, de aspecto e toque agradável, de 1/3 do peso do couro), frisos cromados na parte inferior das laterais e rodas de 16 pol. com pneus 195/50R16V. Pode vir tanto com câmbio manual quanto robotizado, o I-Motion, ambos de cinco marchas. Foi essa versão que o Ae testou e utilizou durante uma semana, na cidade e na estrada.
O Voyage é um carro para lá de conhecido. Foi o primeiro modelo derivado do Gol e surgiu em julho de 1981. Não teve segunda geração como o Gol (o “bolinha”), saindo de produção em 1994, não sem antes ter sido objeto de ambicioso programa de exportação para os EUA e Canadá, em 1987, com o nome de Fox, atingindo o expressivo número de 170.000 unidades exportadas. Só voltou a ser produzido em agosto de 2008, acompanhando a 5ª geração do Gol lançada um mês antes, marcada pelo motor transversal. Desta vez, só com quatro portas.
O Evidence de câmbio manual custa R$ 52.150 e o I-Motion, R$ 56.180. São poucos os opcionais: pintura metálica, R$ 1.144 (como a nova azul Night do carro testado); o S.A.V.E. (sistema de piso elevado para o porta-malas), R$ 535; o encosto do banco traseiro dividido ½ a ½, R$ 318 (que nosso carro não tinha); e o pacote Tecnologia, R$ 771, que consiste de controle de cruzeiro, espelho interno fotocrômico e sensores crepuscular e de chuva.
Fora o motor transversal, é o mesmo e bom Voyage, um sedã compacto que se aproxima de médio medindo 4.215 x 1.656 x 1.462 mm (comprimento x largura sem espelho x altura) com entreeixos de 2.465 mm. Bom espaço interno, razoável espaço para quem se senta atrás e bom porta-malas de 480 litros, com encosto do banco rebatível. São três apoios de cabeça nesse banco, mas o cinto central permanece subabdominal.
A família Gol sempre foi boa de curva e ficou ainda melhor com motor transversal, proporcionando um apontar de curva mais rápido. Os parâmetros de suspensão do Voyage conciliam capacidade de curva e conforto, combinados com a direção rápida de 14,9:1 de relação e 3 voltas entre batentes do volante de Ø 370 mm ajustável em altura e distância.
O motor 1,6-l deste Evidence continua o EA111, infelizmente. A versão bem merecia o novo EA211, que por enquanto só vem no Gol Rallye e na Saveiro Cross. Não que o antigo seja ruim, pelo contrário, mas o fato é que novo é bem superior, tem um brilho próprio maior fora a evidente maior potência.
O EA111 desenvolve apenas 101/104 cv a 5.250 rpm com 15,4/15,6 m·kgf a 2.500 rpm. Pouco, em números absolutos, mas tem aquela velha história dos cavalos alemães parecerem ser mais, ajudada pelo peso relativamente baixo de 1.043 kg. Tanto que pelos dados oficiais o Evidence, mesmo com o câmbio I-Motion de velocidade de troca de marchas maior que o manual, acelera de 0 a 100 km/h abaixo de 11 segundos (10,8/10,6 s) e chega a 188/190 km/h. Contribuem, claro, o Cx 0,313 com 2,03 m² de área frontal e a v/1000 em 5ª de 35,5 km/h que deixa o motor ultrapassar em 100 rpm a rotação de potência máxima de 5.250 rpm. Mesmo assim a 120 km/h a rotação é relativamente contida, 3.380 rpm. Portanto, nada de decepção com desempenho.
É claro que se pode esperar bem mais com o EA211 de 110/120 cv a 5.750 rpm e 15,8/16,8 m·kgf a 4.000 rpm, e torcer para que substitua o EA111 o mais rapidamente possível em toda a linha de 1,6 litro. Mesmo porque o novo recebeu denominação MSI e o antigo acabou herdando-a, ficando dois motores mercadologicamente com a mesma identidade, o que é impróprio.
A Volkswagen havia informado atualização no software do câmbio ASG (automated shift gearbox), sua denominação interna, por ocasião da apresentação do Gol Rallye 2015, mas tudo indica que este do Evidence testado incorpora a modificação. As trocas ascendentes estão totalmente “normais” no sentido de não haver praticamente interrupção de potência, a conhecida “cabeçada”, sendo bastante agradável no uso normal mesmo sem usar o modo S. Foi aí que veio a grande surpresa.
Num trecho de aproximadamente 30 quilômetros entre a BR-116 Via Dutra e Bananal (SP), sinuoso e de bom asfalto, experimentei um ritmo mais forte com o câmbio em D e vi que mesmo nesse tipo de uso as trocas ocorriam da maneira que eu faria com uma caixa manual. Fiquei impressionado com as trocas rápidas e, principalmente, com as reduções automáticas nas aproximações de curva — com a devida aceleração interina, claro. Veio-me a certeza de que quem fez a calibração sabe o que é dirigir rápido.
Tudo isso, toda essa vantagem, com outra: trânsito engarrafou, nada de pedal de embreagem, engata, anda, pára, desengata. Muito conveniente realmente para o nosso tempo. Aproveito para dar a mão à palmatória a VW, que não aplicou o creeping (avanço lento) ao câmbio, do que já reclamei aqui no Ae. A fábrica sempre justificou a ausência da função como medida de preservação da embreagem.
Deduzi que a VW está certa um dia quando eu e o Paulo Keller estávamos no carro, paramos num semáforo e o carro começou a recuar lentamente: se tivesse creeping a rotação de marcha-lenta seria suficiente para manter o carro imobilizado — e tome embreagem. Além disso, a calibração do acelerador elétrico é tal que o próprio motorista pode dar o avanço lento sem nenhuma dificuldade, basta encostar o pé no pedal do acelerador.
Tudo isso sintetiza o título desta avaliação, a evidência, o destaque do Voyage Evidence, um carro de atributos conhecidos e comprovados, de visual agradável, prático, com bom porta-malas (480 l), razoavelmente rápido e econômico. O controle de cruzeiro é um algo a mais que vale a pena, verdadeiro amigo do motorista, bem como a leitura de velocidade digital que faz parte do I-System, que inclui o computador de bordo.
O Voyage pode estar “velho” de linhas, afinal já fez seis anos, mas preenche todas as necessidade de quem procura um sedã e usa a razão em vez da emoção na hora de escolher o que comprar. Especialmente o Evidence.
BS
Veja o vídeo:
FICHA TÉCNICA VW VOYAGE EVIDENCE | ||
MOTOR | ||
Instalação | Dianteiro, transversal | |
Material do bloco/cabeçote | Ferro fundido/alumínio | |
Configuração / N° de cilindros | Em linha / 4 | |
Diâmetro x curso | 76,5 x 86,9 mm | |
Cilindrada | 1.598 cm³ | |
Taxa de compressão | 12,1:1 | |
Potência máxima | 101 cv (G), 104 cv (A) a 5.250 rpm | |
Torque máximo | 15,4 m·kgf (G), 15,6 m·kgf (G) a 2.500 rpm | |
N° de válvulas por cilindro | Duas, atuação indireta por alavanca-dedo | |
N° de comandos de válvulas / localização | Um, correia dentada / cabeçote | |
Formação de mistura | Injeção eletrônica multiponto no duto | |
Gerenciamento do motor | Magneti Marelli 9GV | |
Combustível | Gasolina comum e/ou álcool | |
TRANSMISSÃO | ||
Rodas motrizes / câmbio | Dianteiras / robotizado | |
Número de marchas | 5 à frente + ré | |
Relações de transmissão | 1ª 3,455:1; 2ª 2,250:1; 3ª 1,517:1; 4ª 1,026:1; 5ª 0,740:1; ré 3,182:1 | |
Relação do diferencial | 4,188:1 | |
SUSPENSÃO | ||
Dianteira | Independente, McPherson, mola helicoidal, amortecedor pressurizado e barra estabilizadora de Ø 20 mm | |
Traseira | Eixo de torção, mola helicoidal e amortecedor pressurizado | |
DIREÇÃO | ||
Tipo | Pinhão e cremalheira, assistência hidráulica | |
Diâmetro mín. de curva | 10,8 m | |
Relação de direção | 14,9:1 | |
N° de voltas entre batentes | 3 | |
FREIOS | ||
De serviço | Hidráulico, duplo-circuito em diagonal, servoassistido | |
Dianteiros | Disco ventilado de 256 mm Ø | |
Traseiros | Tambor de 200 mm Ø | |
RODAS E PNEUS | ||
Rodas | Alumínio 6Jx16 | |
Pneus | 195/50R16V (Pirelli P7) | |
PESOS | ||
Em ordem de marcha | 1.043 kg | |
Carga máxima | 437 kg | |
CONSTRUÇÃO | ||
Tipo | Monobloco em aço, hatchback 4 portas, 5 lugares, subchassi dianteiro | |
AERODINÂMICA | ||
Coeficiente de arrasto | 0,313 | |
Área frontal (m²) | 2,03 | |
Área frontal corrigida (m²) | 0,635 | |
DIMENSÕES EXTERNAS | ||
Comprimento | 4.215 mm | |
Largura sem/com espelhos | 1.656 / 1.898 mm | |
Altura | 1.463 mm | |
Distância entre eixos | 2.465 mm | |
Bitola dianteira/traseira | 1.426/1.429 mm | |
Vão livre do solo | 161 mm (carregado 120 mm) | |
CAPACIDADES | ||
Porta-malas | 480 L | |
Tanque de combustível | 55 L | |
DESEMPENHO | ||
Aceleração 0-100 km/h | 10,8 s (G) e 10,6 s (A) | |
Retomada 80-120 km/h, 5ª | 13,8 s (G) e 13,6 s (A); | |
Velocidade máxima | 188 km/h (G), 190 km/h (A) | |
CONSUMO | ||
Cidade (Inmetro) | 9,5 km/l (G), 7,3 km/l (A) | |
Estrada (Inmetro) | 13,6 km/l (G), 9,5 km/l (A) | |
CÁLCULOS DE CÂMBIO | ||
v/1000 em 5ª | 35,5 km/h | |
Rotação em 5ª a 120 km/h | 3.380 rpm | |
Rotação em vel. máx., 5ª | 5.350 rpm |
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