Como meus caríssimos leitores já devem ter percebido, não sou de fugir de uma boa discussão. Mas hoje resolvi encarar não apenas um assunto delicado para as mulheres em geral, mas também para mim mesma. Será uma coluna meio catártica, talvez. Vamos lá, coragem, Nora, você consegue. Está na hora de enfrentar: mulher tem dificuldades com noção de espaço? E aqui não estou sendo sarcástica com aquela folgada que força a barra para que o gentil cavalheiro tire o pé e lhe dê passagem, não. Refiro-me à briga com volumetria, mesmo. E serei direta na resposta. Na maioria dos casos, mulher tem dificuldade com espaço, sim.
Vocês já devem ter percebido que sou deveras cética quanto a pesquisas e outros levantamentos – não porque sim, mas porque muitas vezes são feitos de forma descuidada ou inacurada. E já me defendo com dois dados que tirei do fundo do baú, a título de desculpa antecipada, ou habeas corpus preventivo, como gostam de dizer os advogados.
A BBC Brasil publicou há alguns anos uma pesquisa da revista acadêmica Intelligence na qual cientistas da universidade de Giessen, na Alemanha, descobriram que a falta de testosterona afeta a noção de espaço das pessoas. Sabidamente, as mulheres têm menos testosterona do que os homens, o que também tem lá as suas vantagens — mas pelo visto não na hora de estacionar. Oba, já está explicado porque a dona Maria sobe a roda na guia quando vai fazer a baliza.
No campo da ciência de verdade com a literatura de almanaque, a pesquisadora Anne Moir, neuropsicóloga da Universidade de Oxford, na Inglaterra, alega que durante a evolução humana, devido à necessidade de caçar, sobreviver e garantir a existência de sua prole, a mente dos homens desenvolveu habilidades manuais, visuais e de coordenação para construir ferramentas. Por isso, um cérebro masculino tem mais habilidades funcionais. Já as mulheres preparavam os alimentos e cuidavam das crianças. E assim a mente dos homens tende a ter mais habilidade na sistematização e maior habilidade nas ciências exatas e na orientação espacial do que a das mulheres, que cuidavam mais do campo visual mais próximo. E ela explica isso no livro Porque os homens fazem sexo e as mulheres fazem amor.
Já vi também outras pesquisas mais ou menos científicas sobre o assunto, algumas inclusive envolvendo hipopótamos – não, acho que era hipotálamo – mas confesso que não consegui achá-las agora que preciso delas. Mas sou a prova viva de que isso é verdade. Minha noção de espaço é igual a zero, zerinho. Mas garanto que até este momento ninguém sabia. E por quê? Porque sabedora disso sempre me preocupei em superar essa dificuldade. Em primeiro lugar, ao trocar de carro, dou a volta toda nele várias vezes. Olho em volta, tiro referências. Onde termina? Na minha garagem, até onde vai o porta-malas? Qual a largura do carro? Qual a distância que sobra quando desço a rampa? E entre as colunas? Tateio, mesmo, como se fosse cega. Bom, em termos de terceira dimensão, sou mesmo. Gravo mentalmente distâncias. E enquanto dirijo faço a mesma coisa constantemente nos três retrovisores. E baliza? Sou craque. Mas craque MESMO. Como não consigo criar uma noção de espaço que não tenho, use meus bits de inteligência para decorar fórmulas. O segredo? De novo, meu tio César ensinou: primeiro, óbvio, certifique-se de que o carro cabe na vaga, passando por ela. Cabe? OK. Para esta manobra só precisa de uma folga de uns 40 cm. Emparelhe o carro com o da frente, mas bem certinho e a cerca de um palmo de distância (cuidado, aqui sim precisa noção de espaço), retrovisor externo com retrovisor externo. Dê uma ligeira ré até que você, motorista, fique um pouquinho atrás do banco do condutor do outro carro. Vire todo o volante na direção da guia e dê ré. Quando o pneu dianteiro do seu carro chegar na altura do pneu traseiro do carro estacionado, comece a virar o volante no sentido contrário, dando ré. Se estiver tudo OK, aí é só dar uma ligeira avançada no carro e pronto.
Se vocês acharam esta dica difícil de decorar, podem tentar a fórmula do matemático inglês Simon R. Blackburn para estacionar um veículo. O resultado é o mínimo de espaço adicional que precisa ter o estacionamento, além da largura do próprio carro que se deseja estacionar.
Onde:
r = raio da menor curva que o veículo é capaz de fazer sem que as rodas da frente subam no meio-fio
l = a distância entre os centros da roda da frente e de sua correspondente traseira
k = a distância do centro da roda dianteira à frente do seu carro
w = a largura do carro estacionado a sua frente
Não, não estou brincando. O sujeito realmente dedicou um tempo enorme para criar esta fórmula, mas como não vi as rodas do carro dele, não aposto uma libra esterlina em que vá funcionar. E tem mais. Raiz quadrada nunca foi meu forte na escola. Pois bem, por tudo isso, prefiro a dica do meu tio, mas se dinheiro e acesso a modelos importados não é problema, já há opções para quem simplesmente desistiu de fazer baliza por conta própria.
Ajuda externa – A Audi tem o zFas, um computador pequeno que, instalado no porta-malas do carro, identifica o espaço de uma vaga e estaciona sozinho o veículo. O Volkswagen CC tem o Park Assist, facílimo de utilizar: basta sinalizar com a seta o lado para o qual se pretende estacionar que sensores externos fazem a leitura dos espaços disponíveis e identificam a vagam na qual caberá o veículo. Aí uma mensagem no painel avisa o motorista e pede que ele leve o veículo até à frente da vaga — bom, algum trabalho o motorista tem de ter, não? Aí, é só engatar a ré e controlar o carro no pedal do freio que o sistema faz tudo sozinho. A mesma coisa para sair da vaga. E o sistema ainda serve para estacionar a 90 graus. No Brasil, os carro que têm essa opção são o Volkswagen Tiguan, o Ford Fusion, Range Rover Evoque, Volvo V40, entre outros.
Para os mortais como eu, que não temos acesso a essa tecnologia toda, sensor de estacionamento é uma bênção, sim, tanto na frente quanto atrás do carro e bastante acessível. Mas cuidado, pois ele vicia. Não façam como eu que a primeira vez que depois de muito tempo com veículo com sensor peguei um sem o dito-cujo e quase estampei a traseira do possante na parede da garagem, pois fiquei esperando o pi-pi-pi-pi….
Outras dimensões – Espaço tridimensional pelo que me lembro das minhas aulas de Exatas no Segundo Grau, é aquele que tem altura, largura e profundidade. Mas burrice parece não ter volume, ou pelo menos, não volume finito. Recentemente vi uma pseudo-famosa na televisão dizendo estar muito feliz por ter descoberto o sexo do filho que esperava ao fazer uma ultrassonografia em 4D. Caramba! O feto deve estar numa dimensão paralela e Einstein certamente está se virando no túmulo! Alguns cinemas, como o do shopping Iguatemi de Sorocaba, se superaram e prometem 6D — imagens tridimensionais, poltronas em movimento, efeito especial de água, vento e aroma. Ué, isso não são “sensações”, todas, aliás, de sentidos, especificamente o tato e o olfato? Desde quando aroma é dimensão? Não é só mulher que tem problema com as dimensões, não.
Mudando de assunto: Confuso e triste o GP do Japão de Fórmula 1. Confuso pela chuva, o safety car e as bandeiras amarelas e vermelhas, e triste pelo acidente com Jules Bianchi. Mas gostei de ver o “leão” Nigel Mansell no pódio. Aquele sujeito que eu amava odiar quando disputava corridas com meu ídolo Nélson Piquet. Até hoje acho que foi a força do meu pensamento que estourou o pneu da Williams dele na Austrália em 1986…
NG