Alguns dias atrás escrevi (https://www.autoentusiastas.com.br/ae/2014/11/meu-segundo-fiat-147/) sobre o meu segundo Fiat 147, um coitado que só levou bucha, e no meio dessa conversa contei que meu primeiro 147, que era vermelho, tinha sido envenenado com carburador duplo Weber e cabeçote trabalhado. Ele ficou com uma boa pegada, para a época, e isso aliado ao bom chão, para a época, o transformou num gostosinho hot hatch. Logo vários leitores vieram pedindo mais detalhes sobre esse 147 bravinho, sinal de que há muitos que também adoram esse tipo de carro pequeno, leve, despojado, ágil, um carro com espírito, e sinal de que em breve vou revirar a lagoa plácida que é o meu cérebro e no lodo da memória, verei se encontro alguns dos prazeres que esse carrinho me deu. Uma das coisas que recordo é que esse 147 me lembrava o ratinho mexicano de um antigo desenho animado, o ultra-rápido Speedy Gonzalez, que gritava “Arriba! Arriba” e partia feito uma bala levantando poeira e dando nó em todo mundo.
Mas o que motiva este post é falar sobre qual atualmente seria um hot hatch similar a esse 147 que tive há quase quarenta anos. Depois de matutar um pouco, concluí que o modelo que mais se assemelharia seria um VW up! envenenado. Vale lembrar que o up! oficialmente envenenado está em vias de ser fabricado na Europa e já tem nome: GT up!. Eu preferiria o nome Hot up! ou algo parecido, já que de grã-turismo ele não tem nada, como bem sabe quem leu este post aqui: https://www.autoentusiastas.com.br/ae/2014/08/os-gran-turismo/ , e quem não leu mas já sabia. Hot up!, então, seria o up! quente no qual estou pensando. Esse seria o up! divertido para darmos gritos de Arriba! Arriba! e desaparecer de vista.
Primeiro seria melhor explicar a escolha do up! para o envenenamento. Porque ele é moderno em todos os sentidos, com tecnologia atualizada, seu motor tem o comando de válvulas de admissão (são dois comandos) com variador de fase, o que ajuda muito na pegada em baixa. Ele tem design simpático e atual, é bem compacto e, principalmente, está entre os mais baratos do mercado. Um outro pequeno hatch que atende a quase todas essas premissas é o Fiat 500, mas o que o esbarra na seleção é o seu preço, que começa em R$ 47.390,00. Isso representa ao redor de R$ 15.000,00 a R$ 20.000, 00 a mais que um up!, o que acho muita coisa para um carro cuja proposta é diversão sem frescuras.
Há poucos meses testei o up! i-Motion e fiquei encantado com o carro. Não com o gerenciamento do câmbio, mas com o carro. Bem compacto, e gostei muito do chão que ele tem. Viaja que é uma beleza e faz curva feito gente grande, mesmo tendo sua suspensão bem erguida (20 mm) em relação ao modelo europeu. E o acho chique. Um chique sem dar uma de grã-fino, tal qual era a imagem do 147 quando foi aqui lançado. Acredite, o 147 já foi chique, cool.
Então, que a VW faça o GT up! e que ele seja muito bem-vindo! Ainda mais que a VW na certa está fazendo tão bom trabalho quanto fez com os Golf GTI e Highline, ambos já testados pelo Ae. A injeção de combustível deles é direta e as informações são que a VW também a está adotando no EA211 de 3 cilindros do GT up!. As informações chegam também dizendo que esse mesmo motor terá dois ou mais níveis de potência máxima, que irão de 100 a 130 cv, como faz a BMW em seus motores, mesma cilindrada, mas com diferentes potências. Assim esse mesmo motor não só equipará o GT up! como também outros modelos da VW, o que ajuda a baratear seu processo de fabricação, pois aumenta sua economia de escala. Bem bolado. Tendência atual.
Bom, mas deixemos um pouco o ideal GT up! de lado, já que não raro se fica a ver navios de tanto esperar o ideal. Deixemo-lo um pouco de lado, também porque imagino que, merecidamente, esse GT up! não deva sair nada barato. Na certa, além do desejado motor de 1 litro, 3 cilindros, turbo, injeção direta, ideal, desenvolvido pela VW alemã, irão incrementá-lo com inúmeros recursos e requintes que podemos não estar interessados. Na certa colocarão freios a disco também na traseira, ótimo! Controle de tração, ótimo! Outras coisas, ótimo! Mas, como disse, não vamos complicar e muito menos encarecer a brincadeira, senão na hora de orçar a conta pode estourar a verba e daí foi-se o sonho. Por ora só queremos um up! envenenadinho e nada mais. Algo caseiro e bem servido, e feito por bons preparadores aqui da terra, tal qual nós, os autoentusiastas, costumávamos fazer anos atrás.
Não seria nada difícil e nada estressante para o motor EA211 produzir 100 cv de potência máxima com a colocação de um turbo. Ele originalmente desenvolve 82 cv a 6.250 rpm (álcool) e 10,4 m?kgf entre 3.000 a 3.800 rpm, portanto, com pouca pressão de sobrealimentação ele chegaria fácil aos 100 cv. Mas o maior ganho não seria na potência máxima — que é um aumento de de 22 % — mas sim um grande aumento no torque e na ampliação da sua faixa, o que na prática seria ele disponibilizar maior potência em giro baixo, ou seja, ele passaria a ter uma tremenda pegada em baixa, algo muito desejável para um hot hatch, um tipo de carro que primordialmente visa ser muito ágil (Arriba! Arriba!).
O motor 1,4 TSI do Golf Highline produz 140 cv entre 4.500 e 6.000 rpm e 25,5 m?kgf entre 1.500 a 3.500 rpm. Sendo assim, com o turbo não seria difícil o 3-cilindros de 1 litro render 100 cv e, o mais importante, uns 18 m?kgf entre 1.700 e 3.500 rpm. Haveria um ganho de ao redor de 70% no torque máximo, além de ter sua faixa começando logo em baixa rotação e também muito ampliada.
A velocidade máxima aumentaria de 168 km/h para algo em torno de 180 km/h, o que já basta, pois não mudaríamos a relação da transmissão, e ela seria atingida em 5ª marcha a 6.000 rpm. A aceleração de 0 a 100 km/h baixaria de 12,8 segundos para algo na casa dos 9 segundos, e a diferença mais sensível seria na retomada de 80 a 120 km/h (em 5ª marcha), que de 16,4 segundos baixaria para menos de 10 segundos. São estimativas, só estimativas com base em cálculos e alguma experiência.
De resto, fora rodas originais de aro 15 (ele também pode vir com aro 13 ou 14, dependendo da versão), só uma pequena rebaixada. Seria só trazê-lo para a altura do up! alemão, não só para haver um ganho no comportamento, já que ele ficará um carro bem mais rápido, mas também um ganho na aerodinâmica pela menor área frontal e, por que não, na estética. Devo esclarecer que tenho repúdio a carros rebaixados, assim como também não gosto de carros erguidos. Cada carro tem a sua altura e ponto. Nós é que acabamos por nos acostumar a distorções.
Um claro exemplo do aspecto da altura certa foi um Novo Uno Sporting que vi no estande da Fiat neste recente Salão do Automóvel. Já de longe algo nele me chamou a atenção e para ele fui. O achei bonito, esportivo, um típico hot hatch. Notei que ele estava um pouco mais baixo, o que me levou a me agachar para verificar sua suspensão. Pois não é que seus braços estavam na horizontal? Fiquei animado e fui perguntar ao atendente que carro era aquele, se agora o Sporting sairia assim da fábrica, mais baixo. Pena, era só um carro incrementado para expor no Salão. E logo ali perto estava o “Sporting” de venda; altinho, como sempre. Uma pena. Note, caro leitor, nas fotos que seguem, e veja a diferença que dá.
Com informações que obtive de um amigo preparador, essa colocação de turbo num up! e uma leve rebaixada não custaria mais que R$ 8.000, o que ainda deixaria esse hot hatch pronto por menos de R$ 40.000, desde que não se opte por comprar a versão mais cara do modelo.
Bom, isso é o que eu tinha a falar ao jovem que tem saudade de um tempo em que ele não viveu. Os tempos hoje são outros, os carros são outros, as preparações são outras, mas os corações são os mesmos. Na época do 147 fiz o meu hot hatch. Agora, na época dos up! que façam os seus hot hatches e Arriba! Arriba!!!!, saiam em busca de suas saudáveis aventuras. E que não se esqueçam de sobreviver a elas, porque o bacana é se aventurar e sobreviver para contar. Se estropiar no meio do caminho qualquer tonto é capaz.
AK