Não posso negar que admiro muito a Fiat como empresa. Quando eu estava na faculdade, no comecinho, conheci um cara que se tornou o meu melhor amigo, o Waldir Luiz. E o que ele faz aqui nesse post? O cara é um visionário? Certo dia estávamos falando sobre as marcas de carros, numa época em que a Fiat ainda tinha aquela fama que todos sabemos, e o Waldir soltou a pérola: a Fiat vai ser líder de mercado. Ele não soube me explicar muito bem de onde tinha tirado essa idéia e é claro que eu a rejeitei. Anos mais tarde a profecia dele se concretizou.
E a meu ver a principal razão para isso é que a Fiat sabe muito bem entender o mercado e se mexer para apresentar aquilo que o povo gosta, não necessariamente sendo o melhor. E aqui vou defender um conceito mais amplo de qualidade.
Enquanto uns defendem que qualidade é a perfeição técnica, outros, incluindo a Fiat, a entendem como fazer aquilo que o consumidor quer. Nem mais, nem menos. E o que a grande massa de consumidores, que tornou a Fiat líder, quer? Carros minimamente interessantes, com um bom nível de equipamentos e, principalmente, compráveis (seja com preços atraentes ou com agressividade nas negociações). Isso é fácil de ver quando se fala com consumidores “genéricos” (sem nenhuma conotação pejorativa), que apenas precisam de um transporte e não estão nem aí com o resto. Tá cheio de gente que não sente prazer em dirigir ou que prefere mais equipamentos do que desempenho, que nem repara se o gap entre os componentes da carroceria é menor ou maior, e assim vai. Fazer um carro perfeito custa dinheiro, então é melhor gastar onde o consumidor dá mais importância.
A Fiat também sempre soube trabalhar muito bem com inovações e tem uma série de pioneirismos no nosso mercado. São tantas coisas bacanas como o Tempra 16V, Uno Turbo, Tempra Weekend, Marea Turbo, Punto T-Jet, linha Adventure, o próprio Palio no seu lançamento, a Strada cabine dupla 3-portas, a lista é bem grande. Ainda que os carros topo de linha e superequipados sejam moscas brancas, a cada lançamento a Fiat surpreende com algo novo e alimenta o desejo de uma multidão de simpatizantes.
Eu adorei esse novo Uno desde o seu lançamento em 2010. Achei um carro com um apelo bem jovem, com um desenho muito simpático, feito realmente para agradar quem compra e não quem fabrica, com várias opções de de cores legais, versões e equipamentos. Sucesso de vendas imediato. Particularmente eu me interesso muito pelo Sporting, pois cada vez mais, morando em São Paulo, sou adepto de carros pequenos, mas com personalidade. E o Way de segunda geração também ficou muito simpático.
Para dar uma idéia de volumes, a Fiat está emplacando uma média de 9.600 Unos por mês neste ano e 14.500 Palios, enquanto a Volkswagen está em 6.200 up! e 14.700 Gols. E a Fiat segue firme e forte na liderança com 576.238 unidades emplacadas e 21,38% de participação de mercado até outubro contra 471.642 unidades e 17,5% da VW, a segunda colocada. A diferença é muito grande! E isso só reforça a minha tese de que qualidade é mais do que um produto perfeito.
A primeira impressão do Way foi um pouco estranha. No meu imaginário eu tinha certeza que o Way era 1,4. Nem atentei de que há o Way 1,0. Saí com o carro no trânsito ruim de São Paulo e logo pensei: bonitinho mas extremamente comportado. O carro testado é super-completo e nunca imaginaria um 1,0 assim. Aí resolvi olhar o documento e constatei que estava com o Way “de entrada”. Aos poucos fui me familiarizando com o mostrador multifunção no centro do painel, comandos no volante, sistema de áudio com Bluetooth, câmera de ré no espelho retrovisor interno, descansa-braço no banco dianteiro e mais um monte de coisas. Logo pensei que o preço fosse perto dos 50 mil reais.
Bem, fui olhar a lista de preços e esse Uno Way 1,0 básico sai por R$ 31.960 e com todos os opcionais da versão testada, R$ 40.937. Tá certo que dá para comprar muita coisa boa com essa grana, mas acho difícil encontrar outro carro com todo esse conjunto de visual e conforto. Para ser mais completo falta apenas pular para o 1,4 com o câmbio robotizado Dualogic, o que elevaria o seu preço para R$ 47.115, R$ 6.142 a mais. Talvez essa opção seja bem mais interessante.
Feito o ajuste de expectativas para a motorização 1,0, o comportamento pacato fez mais sentido. O motor Fire de 73/75 cv (gasolina/álcool) a 6.250 rpm e 9,5/9,9 m·kgf no papel vai bem em comparação com o up!, por exemplo. Porém o comportamento é totalmente diferente. A caixa manual também não ajuda em nada. O curso da alavanca é enorme, praticamente um palmo de um extremo a outro (de 1ª a 5ª) e apesar de marchas curtas o motor não dá conta — claro que considerando pretensões entusiastas.
O acelerador eletrônico foi ajustado para uma queda de rotação suave demais quando se tira o pé, parte da estratégia para manter as emissões de óxidos de nitrogênio (NOx) nos limites legais e com isso o giro fica sempre alto nas trocas de marchas, que são lentas devido ao curso da alavanca. Mas na prática isso é ruim, pois quando eu tiro o pé do acelerador eu quero que o carro reduza, e em algumas situações ele parece continuar a acelerar um pouco. E na estrada, a 120 km/h, o ponteiro do conta-giros marcava 4.000 rpm (é mais a 120 km/h reais, 4.255 rpm). Aumentei mais o som e tentei esquecer o ponteiro. Mas muitas vezes fui à alavanca procurar a última marcha para constatar que já estava nela. Um câmbio de seis marchas ia bem.
Com altura do solo de 183 mm, 18 mm a mais que a versão Attractive, que leva a altura total do carro a 1.548 mm (pouco acima do limite “quase morri”…) e um ajuste de suspensão claramente mais voltado ao conforto, sente-se muito a movimentação da carroceria e, conseqüentemente, do tronco e cabeça dos ocupantes. Fiquei pensando muito se a maioria das pessoas notaria isso, mas eu notei. Está certo que também gostei do conforto que é complementado pelos bancos macios. Outro ponto que contribui para a falta de prazer é a caixa de direção, que também é totalmente voltada para o conforto. Como eu sempre digo, adoro carros pequenos, mas eles têm que ser ágeis!
Ao me acomodar da primeira vez em que sentei ao volante não encontrei uma boa posição e mesmo no máximo do ajuste de distância do banco minhas pernas ficaram encolhidas. Logo lembrei dos limitadores no trilho. Coloquei o banco um pouco para frente e com o braço direito pude alcançar o limitador que deve ter algo em torno de 3 cm. Eu sou capaz de acreditar que tem gente dirigindo com as pernas encolhidas por não saber desse limitador, por isso o estou mencionando aqui. E na verdade, ele não faz o menor sentido, pois quem precisa de mais curso com certeza vai removê-lo e quem não precisa vai deixar algum espaço para o passageiro de trás. Na verdade, com apenas 3.811 mm de comprimento e 2.376 mm de entreeixos não é possível fazer milagres e o banco traseiro é apenas razoável. Com certeza se eu levasse alguém atrás de mim eu teria que encolher um pouco as pernas. Mas isso acontece em muitos outros carros.
O porta-malas tem capacidade de 280 l e sobre o estepe, que é levemente mais alto que o assoalho, há apenas uma cobertura de carpete, que deixa a superfície irregular. Em compensação o banco traseiro é rebatível e bipartido, coisa que nem o Corolla GLi tem!
Ao volante, o mostrador digital no centro do velocímetro é digno de carros de ao menos duas categorias acima! Há uma série de ajustes e informações possíveis além do computador de bordo, como velocidade, temperatura do líquido de arrefecimento com escala, e quantidade de horas de uso do motor. O que vão fazer com essa última eu não sei. O comando é no volante, porém não é intuitivo e há a necessidade de ficar navegando por menus para acessar mesmo as informações básicas, como o velocímetro.
Outra coisa que me chamou a atenção é o esguicho do pára-brisa. Quando acionado manda os jatos direto na haste do limpador. Se foi intencional para “esparramar” a água, dá um aspecto horrível. E pelo que notei não é uma questão de ajuste dos “brucutus”. As palhetas agora são planas e melhores, mas as hastes ainda são salientes.
A qualidade do áudio melhorou muito com alto-falantes melhores. A unidade de áudio tem conectividade total, com USB, auxiliar e Bluetooth. E finalmente eliminaram o tocador de CDs. Eu, mesmo tendo uma coleção enorme de CDs, nunca entendi por que ainda não eliminaram de vez isso. Não consigo me imaginar carregando CDs pra lá e pra cá. Aí minha filha entrou em cena dizendo: “Pai, o dia que algum carro tiver um som que conecte o meu telefone facilmente e sem complicações, esse será o meu carro.” De fato, isso ainda precisa melhorar. Por exemplo, o Bluetooth não encontrou o meu telefone. Então usei o iPod pela porta USB, que algumas vezes não quis ler o meu dispositivo. O botão do áudio onde fazemos a seleção das opções dos menus é muito sensível e pula as opções. Poderia ser melhor.
O consumo com álcool até que foi bom, fez 8,2 de média incluindo 150 km de cidade e 200 de estrada com trânsito.
Depois de uma semana com o Way eu acabei ficando mais comportado, me consolando que andando mais devagar e com mais conforto eu poderia curtir meu iPod por mais tempo. Continuei achando o Way muito simpático e refletindo muito sobre o conceito de qualidade. Mesmo desejando algumas melhorias eu sou capaz de entender por que a Fiat faz sucesso. Eu mesmo, nesse exato momento, estou num duelo entre razão e emoção. E a razão está sendo vencida pela emoção. E se eu tentar combiná-las o mais correto seria comprar o 1,4 com um pouco menos opcionais como pintura metálica, rodas de liga leve e kit conforto (somados correspondem a R$ 2.700), que sairia por R$ 41.265 (uma diferença de apenas R$ 328).
Vídeo:
PK
Fotos: autor
FICHA TÉCNICA UNO WAY 1,0 | |
MOTOR | |
Tipo | 4 cilindros em linha, comando no cabeçote, 2 válvulas por cilindro |
Diâmetro x curso (mm) | 70 x 64,9 |
Cilindrada (cm³) | 999 |
Material do bloco/cabeçote | Ferro fundido e alumínio |
Taxa de compressão | 12,1:1 |
Potência máxima G/A, cv/rpm | 73/75 a 6.250 |
Torque máximo (G/A, m·kgf/rpm) | 9,5/9,9 a 3.850 |
Formação de mistura | Injeção no duto |
TRANSMISSÃO | |
Tração | Dianteira |
Embreagem | Monodisco a seco, comando a cabo |
Câmbio | Transeixo de 5 marchas manuais |
Relações das marchas (:1) | 1ª 4,27; 2ª 2,23; 3ª 1,52; 4ª 1,152; 5ª 0,87:1; ré 3,91 |
Relação do diferencial | 4,35:1 |
SUSPENSÃO | |
Dianteira | Independente, McPherson, mola helicoidal, amortecedor pressurizado e barra estabilizadora |
Traseira | Eixo de torção, mola helicoidal e amortecedor pressurizado |
DIREÇÃO | |
Caixa de direção | Pinhão e cremalheira, assistência hidráulica |
Diâmetro mínimo de curva (m) | 9,8 |
FREIOS | |
Dianteiros (Ø, mm) | A disco, 257 |
Traseiros (Ø, mm) | A tambor, 203 |
Controle | ABS, EBD |
RODAS E PNEUS | |
Rodas | Aço, 5,5Jx14 |
Pneus | 175/65R14H |
CONSTRUÇÃO | |
Arquitetura | Monobloco em aço, 4-portas, 5 lugares |
DIMENSÕES | |
Comprimento (mm) | 3.811 |
Largura (mm) | 1.656 |
Altura (mm) | 1.548 |
Entreeixos (mm) | 2.376 |
Distância mínima do solo (mm) | 186 |
CAPACIDADES E PESOS | |
Porta-malas (L) | 280 |
Tanque (L) | 48 |
Peso em ordem de marcha (kg) | 980 |
DESEMPENHO | |
Velocidade máxima (km/h, G/A) | 149/151 |
Aceleração 0-100 km/h (s, G/A) | 16,8/15,9 |
CONSUMO DE COMBUSTÍVEL INMETRO/PBEV | |
Cidade (km/l, G/A) | 11,5/8,0 |
Estrada (km/l, G/A) | 13,9/9,1 |
CALCULOS DE CÂMBIO | |
v/1000 em 5ª (km/h) | 28,2 |
Rotação a 120 km/h em 5ª (rpm) | 4.255 |
Rotação à vel. máxima, 5ª (rpm) | 5.350 |
EQUIPAMENTOS DE SÉRIE DO NOVO UNO WAY 1,0 | |
Ajuste interno dos espelho externos | |
Alça de teto dianteira lado passageiro | |
Alças de teto traseiras retráteis | |
Alerta de limite de velocidade e manutenção programada | |
Apoio de pé esquerdo do motorista | |
Banco traseiro rebatível com duas posições do encosto | |
Bancos dianteiros com mecanismo de acesso ao traseiro com memória mecânica | |
Bancos dianteiros reclináveis | |
Bancos revestidos em tecido | |
Barras longitudinais no teto | |
Bolsa porta-objetos nas portas | |
Bolsa porta-revistas encosto dos bancos dianteiros | |
Calota integrais | |
Chave-canivete | |
Checagem de instrumentos (varrida dos ponteiros) | |
Cintos 3-pontos atrás (2), central subadominal | |
Comando interno da portinhola do tanque de combustível e porta-malas | |
Computador de bordo (distância percorrida, consumo médio/instantâneo, autonomia, velocidade média e tempo de percurso) | |
Computador de bordo B (distância B, consumo médio B, velocidade média B e tempo de percurso B) | |
Console central parcial com porta-copos | |
Conta-giros | |
Desembaçador do vidro traseiro | |
Detalhe estético inferior cinza nos pára-choques | |
Detalhes internos na cor prata | |
Direção assistida hidráulica | |
Econômetro | |
Espelho no pára-sol direito | |
Faixa horizontal no painel com tecnologia Soft Coat tema Linio | |
Faróis com máscara negra | |
Frisos laterais das portas com inscrição Way | |
Ganchos para fixação de carga no porta-malas | |
Grade dianteira cor preto brilhante com anéis prata | |
Iluminação no porta-luvas | |
Imobilizador de motor | |
Indicador de troca de marcha subir/reduzir | |
Indicador digital do nível de combustível | |
Interruptor da luz de leitura na porta do motorista | |
Limpador e lavador do vidro traseiro | |
Luz de acompanhamento à porta de casa | |
Luzes leitura dianteira com reostato | |
Maçanetas e carcaças espelhos cor carroceria | |
Molduras cinza nos arcos dos pára-lamas | |
Mostrador LCD no quadro de instrumentos | |
Palhetas do limpador de pára-brisa planas | |
Pára-choques na cor do veículo | |
Pisca-5 | |
Porta-óculos | |
Pré-disposição para rádio (2 alto-falantes no painel, 2 alto-falantes nas portas) | |
Quadro de instrumentos com iluminaçào branca | |
Quadro de instrumentios com mostrador LCD com computador de bordo comandado por teclas no volante | |
Rádio/USB/MP3/WMA com RDS | |
Relógio digital | |
Repetidoras de setas nos espelhos | |
Revestimento do porta-malas completo | |
Rodas de aço 5,5Jx14 com pneus 175/65R14 de baixa resistência ao rolamento | |
Sinalização de frenagem de emergência | |
Termômetro do líquido de arrefecimento | |
Vdro traseiro térmico temporizado | |
Vidros esverdeados | |
Volante com detalhe na cor grafite | |
OPCIONAIS | |
– Kit Celebration | |
Adesivos Celebration | R$ 3.908 |
Ar-condicionado + pára-brisa degradê | |
Faróis de neblina | |
Predisposição para rádio (2 alto-falantes dianteiros, 2 alto-falantes traseiros, 2 tweeters e antena) | |
Quadro de instrumentos iluminado com mostrador LCD de alta resolução equipado com computador de bordo comandado por teclas no volante | |
Travas elétricas + travamento automático das portas a 20 km/h | |
Vidros elétricos dianteiros um-toque e com antiesmagamento | |
– Kit Control | |
Alarme antifurto | R$ 995 |
Chave-canivete com telecomando para abertura e fechamento das portas | |
Vidros elétricos traseiros um-toque e com antiesmagamento | |
– Kit Comfort | |
Terceiro apoio de cabeça traseiro rebaixado | R$ 1.005 |
Alças de segurança traseiras retráteis | |
Apóia-braço central no banco do motorista | |
Apóia-pé esquerdo para o motorista | |
Banco do motorista com regulagem de altura | |
Banco traseiro bipartido | |
Cinto de segurança traseiro central retrátil de 3 pontos | |
Comando interno de abertura do porta-malas e da tampa do tanque de combustível | |
Console porta-objetos no teto | |
Espelho no pára-sol lado motorista | |
Porta-objetos para smartphone | |
Porta-óculos | |
Revestimento interno da soleira das portas | |
Volante com regulagem de altura | |
– Kit Evolution | |
Rádio Connect integrado ao painel com RDS, entrada USB/AUX, Viva-voz Bluetooth® e função Audio Streaming – inclui volante com comandos do rádio e telefone | R$ 1.380 |
Retrovisores externos elétricos com função Tilt Down (abaixamento automático do retrovisor direito ao engatar a ré) | |
– Rodas de alumínio | R$ 743 |
– Pintura metálica | R$ 926 |