Recentemente, ao escrever a história de como pedi um autógrafo para o ex-piloto de Fórmula 1 Alessandro Nannini, aproveitei para rever meus álbuns de fotos. Sim, álbuns, pois entre as várias manias que tenho está a de tirar fotos e guardá-las caprichosamente em álbuns junto com cartões de restaurantes que gostei, ingressos de shows que vi nas viagens, enfim, lembranças de vários tipos. Devo ter sido bibliotecária em outra encarnação…
Gosto de imprimir as fotos, embora também guarde os arquivos digitais e curto muito vê-las em CDs e pen drives no televisor. Mas aí o problema é que não há observações ou descrições. Apenas fotos. Dá um trabalho danado conseguir álbuns que tenham espaço para escrever, mas localizei um fabricante que me manda pelo correio. E faço questão de incluir comentários, dados, informações. Adoro viajar e penso que quando ficar velhinha e não puder mais fazer isso terei todas essas recordações (também filmo e levo para editar os DVDs…) e por isso incluo o máximo de detalhes. Sei lá até quando vai durar minha fantástica memória?
Tenho uma foto minha num restaurante na Flórida onde pedi uma pizza de hambúrguer. Junto, o nome do restaurante e uma observação minha sobre a escolha: “Horrível. NUNCA, NUNCA mais pedir isto”. Hoje, anos depois, ao reler este texto, estava na cara que uma pizza de hambúrguer não podia ser uma boa opção gastronômica, não? Onde é que eu estava com a cabeça quando pedi isso?
Entre os anos de viagens e lembranças tinha alguns registros de carros que tivemos, alugamos ou apenas aparecem como cenário de fundo. E aí comecei a listar, mentalmente, algumas coisas e acessórios que talvez tenham feito sentido na época, outras que por serem objeto de desejo estavam colocados nos carros possíveis, porém errados e outras que nunca tiveram a menor lógica — como a minha pizza de hambúrguer. Fiz, então, uma pequena relação dessas geringonças:
– aerofólio gigante – entendo razoavelmente de Física e um pouco de aerodinâmica, mas aerofólio gigante em carro popular? Sempre soube que o objetivo (original, entenda-se bem) era dar estabilidade à traseira do carro em velocidades acima de 200 km/h. Mas, e quando ele tem uns 75 cavalos? Vai chegar aos 200 km/h? Talvez no meio de um tornado, mas aí quem se preocuparia com a estabilidade no solo? Aliás, nem tocaria o solo provavelmente.
– calhas nas janelas – essa nunca entendi. Um par de décadas atrás todos os carros no Brasil tinham essas calhas nos vidros. Hoje é cafona. Mas o Brasil continua sendo um país tropical, continua chovendo muito (exceto este ano em São Paulo) e ninguém mais coloca calhas. Será que todos os carros têm ar-condicionado?
– engate – supostamente este acessório seria para puxar outros veículos ou carga. Mas como fazer com que um carrinho 1,0 puxe algo além dele mesmo? E dada a fragilidade da maioria deles, podemos descartar transportar qualquer coisa além de um travesseiro de penas. Sim, já sei, muita gente o coloca para que o carro de trás não encoste ao estacionar, mas se olharmos um pouquinho a falta de capricho com que na maioria das vezes são instalados, é como se o dono do carro amassasse ele mesmo o próprio carro. E pela lei, o engate só pode ser usado em carros que tenham capacidade máxima de tração divulgada pelo fabricante do veículo e desde que seja realmente funcional – e para isso tem de ter tomada elétrica para o reboque e esfera de aço maciça.
– rebaixamento de suspensão – desde março deste ano, a legislação permite se o assoalho ou o para-choques não ficarem a menos de 10 cm de distância do chão e a alteração deve constar do documento do carro. Mas sem entrar na questão técnica de o quanto o rebaixamento interfere na dinâmica do veículo, com a buraqueira que são as ruas e estradas brasileiras me parece uma temeridade. Ah, mas esses são os motoristas que ao passar numa valeta entram nela totalmente de lado, achando que com isso “protegem” a suspensão. Conto para eles que o carro em linha reta sofre uma torção menor e que as molas e os amortecedores funcionarão ao mesmo tempo dos dois lados, o que não acontece quando se entra de lado na depressão?
– farol néon azul – além de ser irregular, pois o Conselho Nacional de Trânsito (Contran) nas resoluções 227/07 e 294/08 diz claramente (com perdão do trocadilho) que as lâmpadas devem emitir luz amarela ou branca, nunca azul ou de qualquer outra cor, não ilumina coisíssima nenhuma o caminho. Geralmente acompanham painel azul néon e luzinhas coloridas no lugar das luzes de posição — como combo de lanchonete. E o motorista costuma apagar as demais luzes do carro para ser mais, digamos, “admirado”.
– meia dúzia de conta-giros – está certo que tem painel original de carro novo com overdose de informações. Outros são um exemplo de sobriedade. Pessoalmente, gosto muito daquele do C4 Pallas Exclusive, enxuto, fácil de ler, mas ainda assim completo. Mas tem gente que cobre o painel com conta-giros e, sei, lá, talvez relógios com fusos horários de outros países. Será que tem alguma informação relevante lá? E outra, dá tempo de olhar todos eles?
– rodas gigantes – tem aquelas tipo Orbital, aro 22 e outras invenções que são colocadas até em Celta. A resolução 533/78 do Conselho Nacional de Trânsito diz que você pode trocar as rodas desde que o diâmetro total do conjunto pneu/aro tenha sido respeitado e a largura da roda não ultrapasse o limite do pára-lama. Mas convenhamos, Celta com roda aro 22 parece criança que coloca o sapato de salto alto da mãe. Sem falar no quanto afeta a suspensão.
A lista ainda poderia contemplar outras pérolas, mas resolvi ficar por aqui. O tempora, o mores.
Mudando de assunto – semana passada levei meu carro à concessionária para uma pré-revisão meio obrigatória de 5.000 km. Tudo OK, mas o devolveram mais sujo do que quando o deixei. Disseram que não estavam lavando carros por causa da estiagem em São Paulo. Eu mesma não tenho nem dado ducha no possante pelo mesmo motivo, mas não entendi por que todos os veículos à venda, novos e usados, brilhavam sem nem um pozinho. E não poderiam limpar o meu nem um tiquinho por dentro? Aspirador não tem a ver com chuva, né não? Eta desculpa esfarrapada!
NG