Desenhar um automóvel que caia no gosto popular é uma tarefa realmente difícil. Os designers consciente ou inconscientemente desenham os novos veículos seguindo a tendência dos existentes no mercado e poucos foram os projetos realmente inovadores, saindo da mesmice. Em minha opinião, um bom exemplo de criatividade foi o Renault Twingo.
A história do Twingo tem um pé na Polônia. Foi em 1981 que a fábrica polonesa de automóveis FSM-Bosmal projetou e patenteou o mini-monovolume Beskid 106, desenhado por K. Meissner na Academia de Belas Artes de Varsóvia. A FSM tinha uma ligação forte com a Fiat, que já produzia o seu modelo 126 na Polônia, em Tychy, sendo o Beskid 106 a alternativa para substitui-lo. Somente para firmar o conceito, veículo monovolume é caracterizado pela pouca separação visual entre o capô do motor, o porta-malas e a cabine em seu habitáculo.
Embora tenham sido construídos sete protótipos funcionais, o Beskid 106 nunca entrou em produção. A FSM, mal das pernas, não viabilizou o projeto e nem mesmo conseguiu garantir a validade de sua patente.
E foi em 1993 que o francês Renault Twingo foi lançado na Europa incorporando sem arrependimentos as linhas básicas do pequeno Beskid 106. O nome Twingo foi composto pelos nomes twist, swing e tango que são ritmos musicais alegres como o seu conceito.
Abrindo um parêntese, os estudiosos afirmam que o DKW F-89L Schnellaster (transportador rápido em alemão) foi a mãe de todos os monovolumes, sendo o Beskid 106 e o Renault Twingo apenas mais dois de seus filhos. Esse DKW foi lançado no final de 1949, enquanto o VW Transporter (Kombi) surgiu em março de 1950.
Independentemente da história, o monovolume Twingo se destacou por suas características inovadoras, associando conforto e espaço interno em um veículo pequeno, de apenas 3.433 mm de comprimento. Leve, com 790 kg distribuídos em seus 2.347 mm de distância entre eixos, foi um exemplo de aproveitamento de habitáculo.
Em seus detalhes construtivos estão os bancos em espuma de poliuretano moldados em estrutura tipo concha que, totalmente rebatíveis, se transformavam literalmente em uma cama. O banco traseiro com regulagem longitudinal aumentava e diminuía o volume do porta-malas conforme necessidade, e na posição toda recuada proporcionava espaço de limusine para os dois ocupantes — o Twingo, como o primeiro Ka, era homologado para quatro passageiros — e ainda restavam 195 litros de capacidade do porta-malas.
Sua grande área envidraçada, sem pontos cegos. tinha o destaque do limpador de pára-brisa pantográfico e de única palheta, silencioso e eficiente, garantindo a visibilidade frontal com qualidade. O painel simples com conceito monobloco tinha, no centro, o mostrador dos instrumentos digital, com velocímetro, nível do tanque de combustível, hodômetro total e parcial e relógio. As outras funções eram por uma fileira de lâmpadas de alerta na horizontal e ficavam diretamente à frente do motorista. O interior do Twingo era bem colorido, destacando-se na multidão.
O seu motor de 1.239 cm³ (74 x 72 mm) com comando no bloco e válvulas acionadas por varetas e balancins não era condizente com a modernidade do Twingo, porém seus 55 cv davam conta do recado em termos de desempenho e economia de combustível. Acelerava de o a 100 km/h em 14,5 segundos, a velocidade máxima era de 150 km/h, e o consumo, 11 km/l na cidade e 15 km/l na estrada.
Meu primeiro contato com o Renault Twingo foi em minha própria casa, quando minha esposa me falou ao pé do ouvido que achava o carrinho uma graça e gostaria de ter um. Mesmo contrário à idéia, as mulheres sempre vencem e acabamos dividindo nossa garagem com um francês, um Twingo 1994 verde “cheguei”, 0-km. Minha filha, com seus 20 anos, vibrava de alegria falando que o pequeno Renault parecia um bichinho de desenho animado. E eu invocado, falava para as duas que o Twingo iria desmanchar nas ruas da cidade de São Paulo, com a buraqueira, lombadas e valetas de montão, além das enchentes. Mas não é que o Twingo se comportou bem? Resistente e econômico, chamava a atenção por onde passava.
Para encurtar a história, acabamos preservando o Twingo que, com seus 20 anos de idade, divide espaço em nossa garagem na cidade de Tatuí (SP). Veja o leitor algumas imagens do nosso Twingo sem tomar banho… (risos)
Com a imagem diária do Twingo, fiquei pensando com os meus botões a sua incrível semelhança com o Volkswagen up!. Será que a VW incorporou as formas do pequeno Renault em seu recém-lançado monovolume? — eu me perguntava.
E veio a idéia de comparar, em termos práticos, o Twingo com o up!. Com a ajuda de um amigo também engenheiro, sobrepusemos no papel os dois veículos mostrando a incrível semelhança entre as duas formas. Mesmo com a pouca precisão do processo em escala feito em planilha Excel, os dois monovolumes se mostraram muito parecidos, evidenciando a mesma inclinação dos pára-brisas. Até a posição dos emblemas no capô são semelhantes.
Semelhanças à parte, o VW up! é um projeto muito interessante, que vai ao encontro das qualidades que eu admiro em um automóvel citadino: simplicidade, leveza, espaço interno, economia de combustível associada a um bom desempenho e um bom custo-benefício.
Creio que o sucesso do VW up! será crescente e inevitável, alicerçado em suas formas simples e funcionais.
CM