As décadas de 1950 e 1960 marcaram pela riqueza e pelo poder econômico dos Estados Unidos da América. Com crescente progresso a partir do fim da Segunda Guerra Mundial em 1945, foram seus anos dourados em todos os setores incluindo a indústria, particularmente a automobilística. Os automóveis ganharam em tecnologia, luxo e conforto, com muitos cromados nos pára-choques, grades e frisos. A gasolina barata impulsionou o uso de motores enormes em veículos igualmente enormes e pesados sem qualquer arrependimento por parte das fábricas de automóveis.
A Ford também fazia carrões e em 1959 lançou a versão mais luxuosa do Fairlane 500 denominada Galaxie, marcando o nome de um novo veículo que viria a seguir em 1960.
Particularmente, o ano de 1963 marcou o mais bonito Galaxie em minha opinião, com aquelas lanternas traseiras circulares adornando a carroceria “clean” e os quatro faróis horizontais complementando a grade enorme cromada com o emblema Ford no centro. Em três versões, Standard, 500 e 500 SL, incluía também um maravilhoso modelo conversível de fazer babar!
A Ford sempre disponibilizou vários motores para uma mesma aplicação veicular, mostrando a força da dinheirama investida em desenvolvimento de novos produtos.
O grande destaque para o Galaxie 1963 foi o motor 427 (7 litros), um marco histórico na linha dos V-8 de grande cilindrada e potência que equipava o modelo 500 XL. Com carburador Holley 4150 (4 corpos) gerava 415 cv a 5.600 rpm e com dois Holley 4160 quádruplos atingia robustos 430 cv a 6.000 rpm.
Vale salientar estas potências e as demais dessa matéria eram brutas SAE e hoje todas as potências informadas pelos fabricantes são líquidas, o resulta em números de 25% a 30% menores.
O 427 ficou na história como um dos melhores, se não o melhor motor V-8 produzido pela Ford nos Estados Unidos.
No Brasil, o Ford Galaxie veio em 1967 baseado no modelo norte-americano de 1966. Foi apresentado no V Salão do Automóvel, sendo muito bem recebido pelos endinheirados da época. Com um luxo exorbitante de hotel cinco-estrelas, o Galaxão deixou o público boquiaberto.
Foi para as concessionárias em 16 de fevereiro de 1967 e ficou marcado como o sedã mais luxuoso, confortável e espaçoso do Brasil, virando o sonho de consumo de quem tinha alto poder aquisitivo na época. Imponente com 5,33 m de comprimento e 3,03 m de distância entre eixos, daria literalmente para morar nele. Com três marchas e alavanca de câmbio na coluna, seus bancos inteiriços abrigavam o motorista e mais dois passageiros na frente e três passageiros atrás em espaço de primeira classe.
O Galaxie pesadão, com 1.730 kg, utilizava o motor 272 (4,5 litros) emprestado da picape F-100, suficiente para um desempenho apenas modesto: 0-100 km/h em 15 segundos e velocidade máxima de 150 km/h.
Em 1969 chega ao mercado o modelo LTD com câmbio automático e ar-condicionado de fábrica incrementando ainda mais o luxo do Galaxão. O motor 272 foi trocado pelo 292 (4,8 litros), melhorando a desempenho do veículo.
E foi então que a concorrência mostrou as suas garras, com a Chrysler lançando em 1969 o Dodge Dart sedâ.
O Dodge Dart era menos luxuoso que o Galaxie, porém apresentava dois diferenciadores relevantes, o seu motor V-8 318 de 5,2 litros e 198 cv a 4.600 rpm e as suas linhas mais joviais com traços marcantes de esportividade.
Em 1971 chegou o Dart cupê e depois, o Charger LS e o Charger RT que ainda hoje é considerado um ícone entre os “muscles cars”. Os motores destes desenvolviam, respectivamente, 205 e 215 cv.
Veja abaixo uma homenagem ao Dodge Dart com fotos de estúdio no departamento de estilo da Chrysler do Brasil.
A Ford respondeu em 1971 com o lançamento do LTD Landau com madeira jacarandá no painel e portas, teto com revestimento externo em vinil corrugado e bancos com acabamento ainda mais sofisticado.
Em 1976 a primeira modificação marcante com os faróis duplos passando para a posição horizontal e as lanternas traseiras modulares também na horizontal.
Em 1976 chegou também o motor V-8 302 (4,9 litros) com 199 cv, este sim com desempenho fazendo frente aos Dodge. E em 1979/1980 chegou o motor 302 movido a álcool com desempenho ainda melhor do que a versão a gasolina.
Vou dividir com o leitor dois episódios que marcaram o Galaxie na minha memória.
O primeiro é hilário. Um executivo da nossa engenharia tinha o Ford Galaxie como seu carro designado e sempre fazia o trajeto de sua casa ao Centro de Pesquisas (CPq) cruzando o bairro Nossa Senhora das Mercês com o famoso três tombos. Eram três subidas e três descidas consecutivas parecendo uma montanha-russa. Este senhor dirigia muito rápido e nas intersecções das descidas com as subidas, vira e mexe uma das calotas escapava e saia rodando no asfalto. Ele pacientemente parava o veículo, recolhia a calota voadora e chegando ao CPq a colocava na mesa do engenheiro responsável pelo desenvolvimento do projeto, com um bilhete malcriado pedindo a solução imediata para o problema. Na realidade a soltura das calotas permaneceu intermitente até que foi resolvida com uma fixação mais positiva na roda, em seu centro.
O segundo episódio que também incomodou bastante a nossa engenharia foi formação de goma nos motores V-8 302 a álcool. Deu um trabalho danado, sendo necessárias ações no sistema de arrefecimento do motor para diminuir o tempo de aquecimento dos cabeçotes. Outras ações referentes à melhoria da ventilação positiva do cárter também foram necessárias. A Ford participou ativamente no desenvolvimento de aditivos para o álcool e para o óleo lubrificante para evitar a formação de goma nos motores de maneira geral.
Finalizando, segue uma homenagem singela e merecida ao Ford Galaxie todo formoso no CPq da Ford em São Bernardo do Campo.
Em dois de abril de 1983 o ultimo Galaxão deu adeus à linha de montagem após 78.000 unidades vendidas !
O Landau 1982 serviu de veículo presidencial até 1991 pois não existia nenhum veículo que tivesse as suas características de espaço, conforto e silêncio ao rodar.
Hoje o Galaxão presidencial se encontra no Museu do Automóvel em Brasilia, curadoria do jornalista e colunista do Ae, Roberto Nasser.
CM