Já faz mais ou menos uma hora que estou aqui pensando em que algum assunto para uma matéria rápido, que eu possa fazer em uma tacada só, de supetão.
A recente matéria a respeito do Fiat Bravo, com tantos comentários e opiniões divergentes, assim como a opinião do Boris Feldman sobre suves e mais tantos comentários na matéria dobre o Honda HR-V me fizeram pensar no que eu acho importante em um carro.
Eu posso ser referência para algumas pessoas, mas o que eu acho está longe de ser uma unanimidade. De alguma forma eu tenho um mecanismo que tenta fugir do óbvio, do complicado, e me manter na essência daquilo que preciso. Algumas vezes esse jeito deixa as coisas um pouco cinza, sem muito sabor, sem cheiro e bem simples. Ah, uma vida simples. Deveria ser bem mais fácil. Mas infelizmente nessas horas entra o desejo, e assim tudo vai se complicando.
Eu já escrevi algumas vezes que teria um Smart ForTwo, um Toyota iQ, um Renault Twizy e outros carrinhos desse tipo. Pensando um pouco mais com a emoção escolhi o MINI Coupé como o meu carro favorito naquele escrito em que o MAO compilou os carros que os editores do Ae teriam. Esses carrinhos me atenderiam 85~90% das minhas necessidades de transporte e aposto que dependendo da versão escolhida poderiam também trazer uma boa dose de entusiasmo. Seriam opções bem racionais. E atenderiam muitíssimo bem às necessidades racionais de transporte de muita gente.
Mas o ser humano não é só racional. A parte emocional que nos habita nos torna bem complexos. E é essa parte que deve tomar conta do desejo e suas facetas. Vejam só que interessante a descoberta da Tata. Em 2009 eles tiveram a brilhante idéia de lançar o carro mais racional do mundo, e por um preço equivalente a 2.500 dólares. Assim os indianos poderiam abandonar suas motos e proporcionar um pouco mais de conforto e segurança para suas famílias. O plano original era fabricar e vender 250.000 unidades por ano.
A Tata criou um mecanismo especial de pedidos para controlar a fila de espera. Mas essa fila nunca aconteceu e o volume não passou de 75.000 unidades por ano. Segundo a Tata o fracasso em atingir o plano inicial se deve, entre outros fatores, devido à comunicação do Nano ter sido toda feita sob o fato do modelo ser o carro mais barato do mundo. E isso rendeu ao Nano uma percepção ruim, do tipo “Eu não quero ser visto no carro mais barato do mundo pois as pessoas vão pensar que eu não tenho dinheiro”.
Incrível como percepção é mais importante que realidade. Fulano não tem grana mas não compra um Nano para os outros não saberem que ele não tem grana. E isso num país de enorme pobreza como a Índia! Essa é só uma parte da história. Outro fator é que muitos indianos ainda preferem a flexibilidade proporcionada pelas motos em um trânsito muito, mas muito mesmo, pior que o nosso. Eu estive na India e vi por mim mesmo. Voltei para o Brasil achando que estava no paraíso. Agora, a Tata está mexendo no Nano e vai posicioná-lo como o carro com melhor custo-benefício do mercado, além de incluir algumas melhorias. Custo-benefício é bem mais interessante, mas ainda não nos toca na emoção.
Eu canso de ver gente procurando razões racionais (será que isso é um pleonasmo?) para justificar uma troca de carros. Procurando razão para aplacar desejos que pouco tem a ver com a razão. Gente se endividando com a desculpa de que precisa de mais espaço por exemplo. A necessidade de espaço depende de quanto você precisa carregar, e não que quanto você quer carregar. Mas muitos confundem querer com precisar, e ai a coisa embola. O contrário também acontece.
Hoje eu estava numa concessionária e um amigo ficou impressionado com um modelo a ponto de desejá-lo. Mas aí abri o porta-malas, que é bem grande, e ele me disse ser pequeno para suas necessidades. Retruquei dizendo que ele deveria ter o carro que ele desejasse e ajustasse a necessidade de carregar tralhas, ou aprendesse a acomodar tudo com mais eficiência. Claro que ele discordou. Usou a razão para acabar com a emoção.
Aí vai uma listinha do que eu quero em um carro:
Que ele me leve de um ponto A ao B com um mínimo de conforto. Isso quer dizer “não destrua minha coluna e tenha ar-condicionado.
Que seja minimamente seguro. Tanto em termos de colisões como em confiabilidade. O carro pode ser simples, mas não desmontar.
Que seja o mais leve possível. Como dizia o o Colin Chapman, pode-se adicionar leveza o quanto quiser. Mas desde que não comprometa o item acima.
Poderia ser de dois ou três lugares. Basicamente um caro urbano, mas que quando necessário andasse bem nas estradas. Tem gente que precisa de mais lugares, aí não tem jeito.
O porta-malas poderia ter entre 150 e 300 litros dependendo da configuração dos bancos.
Como o carro seria leve, imagino que um carro de três lugares não deva ultrapassar 750~800 kg mais passageiros, então algo entre 80 e 100 cv estaria excelente.
Eu gosto de torque em baixa. Para mim a aceleração até os 80 km/h e a retomada de 40 a 80 km/h são importantes pois gosto de poder me desvencilhar das antas com facilidade. Largar na frente é importante para mim.
O motor então poderia ser um 3-cilindros turbo. E a caixa de seis marchas e com dupla embreagem. As primeiras marchas bem curtinhas. Apesar de gostar de um cambio manual, eu prefiro simplicidade. Então ficaria apenas com as borboletas. Nem precisaria de alavanca no console.
Assim^, o consumo também seria contido, algo entre 8 e 9 km/l na cidade já estaria excelente para mim. Mas com essa configuração eu sei que isso dependeria muito do meu pé direito.
A suspensão seria um pouco mais esportiva, mas sem perder o conforto e poderia ser de construção simples, desde que eficiente. Acho a combinação McPherson com eixo de torção bem adequada e robusta para o nosso tipo de piso. Mas se houver algo mais leve com a mesma robustez eu aceito.
As rodas seriam bem nas extremidades e quase sem balanços para ter a melhor dinâmica possível. O carro deveria ter no máximo 3,5 metros de comprimento. Menos deixaria um entreeixos muito pequeno, o que eu não gosto pois o comportamento dinâmico fica prejudicado.
Altura do solo de 140 mm, nem muito baixo e nem muito alto. E a altura do teto de no máximo 1,5 metro. Sua dinâmica seria impressionante.
Direção com assistência elétrica (talvez não fosse necessária pois os pneus seriam 195/50 R16), rápida, com relação no máximo 13:1 e no máximo 2,3 voltas de batente a batente. O diâmetro do volante (de três raios) não passaria de 370 mm.
Não tenho necessidade do estepe, apenas um compressor e o kit de selante. Mas de qualidade e fácil operação.
O desenho da carroceria seria o mais funcional possível, mas com algum toque de esportividade. Imagino algo como um up! esportivado. A qualidade deveria ser perfeita. Seria prata não pela revenda, mas pela praticidade de esconder um pouco mais riscos e sujeira.
Não há necessidade de muitas coberturas internas sendo a carroceria exposta onde possível. Eu adorava o Ka Mk1!
Peças mais vulneráveis devem ser descartáveis. Estragou, troca logo por uma nova de maneira fácil.
O painel seria minimalista. Teria apena velocímetro digital e conta-giros em um único mostrador. Teria marcador de combustível e um pequeno indicador de consumo médio e autonomia sempre visíveis. Apenas um botão para zerar o consumo. Tudo bem simples. Mas com materiais de qualidade, como referência os interiores dos carros japoneses.
O áudio seria composto de um radio AM/FM e dois alto-falantes potentes e um pequeno subwoofer, de qualidade, com uma entrada USB e uma entrada P2.
Nada de navegador, câmera de ré, sensor de estacionamento, ar-condicionado de duas zonas, e o mínimo possível de botões. Apenas um bom apoio para o meu smartphone.
Acho que os vidros poderiam ser com acionamento manual, mas com uma alavanca leve e mecanismo bem feito e sem jogo. Apenas o retrovisor externo do lado direito teria ajuste elétrico.
O interior deveria ser muito silencioso no isolamento do barulho externo, das vibrações e ruídos do próprio carro e de peças mal fixadas. Essa condição deveria durar para sempre.
Óleo de motor o melhor possível, para durar o máximo possível. Intervalo de revisões de no mínimo 30.000 km. E que tudo fosse feito para eu nunca ter que ir a uma concessionária.
De bate-pronto são esses os pontos essenciais. Tenho certeza que vão chover contra-argumentos e outras sugestões.
PK