Nunca foi tão fácil montar uma lista dos 10 mais, prática comum quando dois ou mais editores do AUTOentusiastas se encontram. A temporada de F-1 de 2015 terá, ao que tudo indica, dez carros, daí a tranqüilidade de trazer um grupo que não deixa ninguém de fora; verdade que esse grupo poderá sofrer baixa logo de saída, pois a Manor ainda batalha para disputar a prova. Como não se pode abusar da sorte, esta semana voltarei com mais listas, porém passando longe do limite da dezena básica: novas listas trarão os pilotos, circuitos e algumas curiosidades da temporada que inicia domingo, em Melbourne, onde se realiza o GP da Austrália.
Guia F1 2015-03-08
Parte 1 – Equipes
Mercedes AMG Petronas
Mercedes AMG W06 (Foto Mercedes-Benz)
Dos anos 1950 até o título de 2015, quando o inglês Lewis Hamilton levou a melhor sobre seu companheiro de equipe Nico Rosberg, a marca alemã percorreu uma longa estrada até voltar a dominar a F-1 e…quase que não sai. A bem sucedida associação com Peter Sauber nas provas de Esporte-Protótipos em torno do início dos anos 1990 levou à decisão de retornar ao mundo dos Grandes Prêmios em 1993; a crise econômica da época alterou o plano de vôo e só em 1994 o motor projetado por Mario Illien deixou de ser bastardo e ganhou o sobrenome da marca alemã. A associação pública com a Sauber durou apenas essa temporada — em 1995 a McLaren assumiu o posto e garantiu as primeiras vitórias desde a antológica temporada de 1954, quando Juan Manuel Fangio foi campeão.
Ao final de 2008 a Honda entregou sua equipe a Ross Brawn e os alemães não perderam a oportunidade de iniciar o projeto de uma equipe própria, equipe que em 2015 tem chances mais do que grandes de repetir as 11 dobradinhas e 16 vitórias nas 19 provas de 2014. Liderada por Toto Wolff e Paddy Lowe — com a consultoria de Niki Lauda —, a equipe alemã está instalada em Brackley, próximo a Silverstone, Inglaterra e em Stuttgart, Alemanha, onde são fabricados o chassi e o motor dos W06 Hybrid que serão usados por Lewis Hamilton (nº 44) e Nico Rosberg (nº 6) este ano. Pascal Wehrein, que se destacou no DTM, é o piloto-reserva.
Red Bull
Também conhecida como RBR por caprichos da TV Globo, a estrutura da Red Bull é o correspondente ao mundo os parques temáticos de Orlando — não há piloto que não sonhe em ter os logotipos do energético em seus macacão e capacete desde suas primeiras voltas no kart. Afinal, a estrutura liderada por Christian Horner se dá ao luxo de ter Adrian Newey como bam-bam-bam técnico, uma equipe B na F-1 (a Toro Rosso), equipes disputando com destaque as principais categorias do automobilismo mundial e regional, etc e tal.
Após quatro títulos consecutivos de pilotos e construtores entre 2010 e 2013 com Sebastian Vettel e Renault, a equipe desandou em 2014. A mistura perdeu o ponto por causa dos problemas nos motores franceses, mas recuperou-se e graças às três vitórias de Daniel Ricciardo terminou em segundo entre os Construtores e terceiro entre os pilotos, sempre com o australiano. A saída não tão surpreendente de Vettel abriu espaço para o russo Daniil Kvyat; ele e o xará Ricciardo terão à disposição o modelo 010 equipado com o motor Renault Energy F1, bastante modificado em relação à unidade de potência usada no ano passado. Sebastien Buemi tem chances de fazer as vezes de piloto-reserva. A decisão de concentrar o fornecimento desse equipamento apenas à Red Bull e à Toro Rosso deve ajudar a extrair maior eficiência do V-6 francês.
Williams
Tal qual Fênix, a Williams renasceu das cinzas em 2014 e ganhou fôlego para vôos ainda mais altos nesta temporada. Não fosse a falta de sorte que perseguiu Felipe Massa em quase dois terços do campeonato, certamente a equipe de Grove poderia ter conquistado o vice-campeonato de Construtores. Decisões firmes em contratar gente de peso para tocar o barco — com destaque para Pat Symonds e Rob Smedley —, ajudaram nesse processo, tanto quanto a sábia e oportuna opção por deixar a Renault e associar-se à Mercedes no quesito motores.
O eficiente FW 36 mostrou sempre bons índices de velocidade máxima, obra de Ed Wood e Jason Somerville; o sucessor FW37 pré-temporada mostra que essas qualidades foram mantidas e aperfeiçoadas a ponto de permitir enxergar Felipe Massa e Valteri Bottas como arroz de festa nos pódios de 2015, possivelmente até mesmo no degrau mais alto. A escocesa Suzi Wolff é encarregada de testes da equipe e deverá participar de algumas sessões de treinos nas manhãs de sexta-feira.
Ferrari
Em mais uma de suas fases de resultados medíocres, a Ferrari promoveu uma verdadeira limpa em seu programa de F-1 em busca de reviver os períodos de vacas gordas em que o cavalinho reinou absoluto. Trata-se de tarefa árdua e cara: o orçamento da Ferrari é o maior da categoria e embora a Mercedes-Benz não meça esforços ou economize para ter a estrutura mais completa e eficiente, a equipe de Maranello é famosa por gastar muito.
A presença de Sergio Marchionne, o homem forte do grupo FCA — a holding formada no ano passado após a absorção da Chrysler pela Fiat —, deve acabar com a festa e cobrar resultados que valorizem as ações da marca. Se tal sistema vai funcionar num contexto tão peculiar quanto a F-1, diria o árbitro, há controvérsias. Sebastian Vettel e Kimi Räikönnen vão usar o chassi SF15-T, bem diferente do usado em 2014, a começar pelo motor mais leve e confiável. A presença do mexicano Estebán Gutierrez como piloto de testes indica a aproximação com um patrocinador de peso, o grupo de Carlos Slim. Jean-Eric Vegne complementa a retaguarda.
McLaren
Ron Dennis, o todo-poderoso mentor intelectual e executivo responsável pela consolidação da McLaren em uma grife de alta tecnologia, já declarou várias vezes: “Mais difícil do que chegar ao topo é manter-se nele”. Isso dá uma idéia da tortuosa e desnivelada estrada que a equipe que conquistou quatro dos seus títulos mundiais com Emerson Fittipaldi (1974) e Ayrton Senna (1988/90/91) tem que percorrer para recuperar a condição de referência da categoria.
É sempre bom lembrar que os carros da F-1 são pensados, projetados e construídos para operar em pisos tipo mesa de bilhar — não importa se em pistas construídas por belgas de Spa-Franchorchamps, brasileiros de Interlagos ou idealizadas por neófitos como Hermann Tilke. A renovada relação com a Honda, parceria que dominou a F-1 em torno do final da década de 1990, parece predestinada a percorrer vias dignas do asfalto que a Prefeitura de São Paulo brinda a seus contribuintes. Em poucas palavras, Jenson Button, Kevin Magnussen e Fernando Alonso terão um ano dos mais difíceis com o MP4-30/Honda. Quanto a Alonso, que não corre na Austrália, muitos acreditam que seu copo vazio está cheio de ar.
Force India
Vale mais a pena ser rabo de tubarão ou cabeça de sardinha?, perguntaria o filósofo e engenheiro mecânico Vinicius Losacco. A dúvida cabe muito bem à Force India, equipe mantida pelo milionário Vijay Mallia, que mantém clubes de críquete e futebol na Índia, além de uma empresa de aviação, cervejarias e outros negócios de porte. Com um orçamento que, segundo fontes confiáveis, não ultrapassa 30% do valor gasto pelas top 5, a equipe deu calor na McLaren e nas primeiras provas da temporada de 2013 chegou a se manter entre os três melhores construtores.
Para 2015 a equipe, que tem Andrew Green na direção técnica, amargou atrasos ao construir o VJM08, conseqüência de fluxo de caixa inadequado à demanda, ou seja, pura falta de grana. A luz no fim do túnel já foi identificada e, tal qual clubes de futebol que vivem de adiantamentos disto e daquilo, Mallia — apoiado pelos seus pares da Lotus e da Sauber —, conseguiu a duras penas convencer Bernie Ecclestone a emprestar uns bons trocados para não ficar fora do grid e deixar o mexicano Sérgio Pérez e o alemão Nico Hulkenberg a pé. Verdade que a Mercedes também entrou nessa vaquinha e, em troca de perdoar alguns papagaios vencidos a equipe baseada em Silverstone abriu espaço para Pascal Wehrlein, piloto de testes da estrela de três pontas na F-1 cumprir o mesmo papel na equipe indiana.
Toro Rosso
Montada em cima da saudosa e querida equipe Minardi, a Toro Rosso é a mais pura demonstração do poderio econômico da Red Bull. Para adicionar injúria ao insulto, a equipe que tem Franz Tost como diretor técnico e James Key como mentor técnico, inicia a temporada com dois pilotos estreantes, um deles o holandês Max Verstappen, a completar 18 anos na altura do GP da Itália, outro, Carlos Sainz Jr, que já tem 20 anos, formam a linha de pilotos, tradução livre do que os ingleses chamam de “drivers line-up”.
Após um bom período com motores Ferrari, no ano passado a equipe aderiu ao Renault, que segue equipando do STR 10, o que torna a parceria com a “Régie” mais promissora e também aumenta o risco em caso de um segundo fracasso; outra coisa que pode influenciar o futuro desse relacionamento é o interesse da Renault em voltar a ter sua própria equipe, forma de aumentar seus lucros com o programa de F-1.
Lotus
Longe vão os tempos em que a marca Lotus era sinônimo incontestável de inovação e… fragilidade. O valor que esse nome agregava chegou a ser tamanho que durante algumas temporadas houve até mesmo duas equipes que usavam esse nome. Instalada em uma fábrica relativamente moderna e construída para a Benetton, a Lotus de hoje destacou-se na temporada de 2013 e a falta de recursos para manter uma equipe de grande capacidade gerou uma debandada que desestruturou um esquema potencialmente vencedor. O francês Gérard Lopez ainda conseguiu manter o moral da equipe minimamente elevado e, tão importante quanto, conseguir o fornecimento de motores Mercedes após uma sofrida temporada.
Nesse processo o argentino Federico Gstaldi foi peça importante e muito provavelmente seu conhecimento de América Latina foi essencial para manter o apoio da venezuelana PDVSA. Verdade que isso implica em uma conta alta: se o francês Romain Grosjean sossegou o facho, o venezuelano continua com altos rompantes de rebeldia bolivariana. Na parte técnica, Nick Chester é quem assina o projeto do E-23 Hybrid e as maiores mudanças em relação ao seu antecessor estão no assoalho traseiro e no arrefecimento, que eliminou os intercoolers por radiadores que trocam o calor somente através do fluxo de ar. Jolian Palmer e Marta Jorda são indicados como pilotos de testes.
Sauber
Embora tenha terminado atrás da Marussia no ano passado, quando experimentou uma queda digna de despencar do topo dos Alpes suíços para as profundezas do Lago Leman, a Sauber está garantida na temporada de 2015, ao contrário da equipe inglesa. Monisha Kaltenborn, na parte executiva, e Eric Gandelin, na parte técnica, assumiram o comando da equipe de Peter Sauber e tem experimentado enormes dificuldades para levar o projeto adiante.
A chegada de apoiadores suecos e do Banco do Brasil, o que implica na presença de Marcus Ericsson e Felipe Nasr, deram algum fôlego à turma de Hinwill, cidade situada nos arredores de Zurique. Nasr demonstrou que está mais apto a aproveitar a mecânica Ferrari de nova geração instalada no chassi C34, o que pode implicar positivamente até mesmo no destaque da F-1 junto à torcida brasileira.
Manor
Vítima dos problemas econômicos que assolaram seus investidores russos e sem condições de construir um carro minimamente competitivo, a Marussia terminou o ano sem se apresentar nas ultimas provas de 2014, Brasil incluído, e amargando as conseqüências diretas e indiretas do acidente que deixou Jules Bianchi em estado grave após o choque do seu carro contra uma grua. A partir deste ano a equipe passa a ser conhecida como Manor.
Com um crédito de 30 milhões de dólares para receber na metade da temporada, graças aos dois pontos marcados por Bianchi em Mônaco, os responsáveis pela equipe estão naquela situação que o matuto brasileiro descreve como “fazer, das tripas, coração”. A proposta de disputar o ano com o carro de 2014 foi vetada por algumas equipes e a solução mais próxima de acontecer pode ser mudar um modelo 100% intermediário nas quatro ou cinco provas iniciais e depois passar para um modelo s50% intermediário: o Manor MNR1, que vai usar os motores Ferrari do ano passado. O britânico Will Stevens (já confirmado) e o espanhol Roberto Mehri são os nomes mais próximos de passar o ano passeando nos circuitos de F-1.
WG