Como jornalista no batente há tantos anos já vivi e ouvi todo tipo de história. Mas sempre tem alguma que acaba nos fazendo sorrir quando lembramos dela, mesmo que tenha acontecido há muito tempo. Esta é uma delas, pois embora trate de um item que faz parte dos papiros da indústria automobilística, todo autoentusiasta já ouviu falar deste componente. E ainda tem muito carro assim.
Mas vamos lá. Era a Volkswagen, e nos Estados Unidos na década de 1950, que recebeu uma carta de uma consumidora furiosa com seu Beetle zero-quilômetro. A mulher reclamava que o veículo bebia muito combustível, mais do dobro do que deveria. Ela já havia contatado a concessionária onde havia feito a compra e o carro havia sido revisado diversas vezes sem que os mecânicos encontrassem o menor indício de que o consumo era elevado.
E ele realmente havia sido checado e praticamente desmontado em várias oportunidades e nada de se encontrar o defeito. Toda vez o carro era devolvido à cliente em perfeitas condições para logo em seguida voltar à oficina com a mesma queixa. Os mecânicos já não sabiam o que fazer e os nervos de ambas as partes já estava à flor da pele. Na verdade, a situação havia ultrapassado o limite do deus-me-livre. Ao que parece, a senhora já havia esgotado toda sua paciência reclamando com a concessionária e como não se sentiu atendida enviou uma carta a um jornal expondo seu problema. Ela queria realmente “escalar” a questão, como se diz no ambiente corporativo. Como sempre, o jornal enviou a carta à assessoria de imprensa da fabricante para pedir uma solução para o problema.
Mesmo que um pouco desacreditada hoje, a mídia impunha respeito naquela época e a maioria das empresas não queria ver seu nome envolvido em reclamações. Naquele tempo pré Facebook, Reclame Aqui e outros, menos ainda.
Os jornalistas da assessoria então contataram a oficina que disse que já havia feito absolutamente de tudo, mas não encontrava nenhum defeito que fizesse com que se elevasse o consumo de combustível. Eles haviam circulado inclusive pelo bairro para simular as condições de condução, o volume de trânsito, tudo. Aí alguém teve a idéia de convidar a senhora para que ela mesma dirigisse o veículo, acompanhada de um mecânico. Pura falta de idéia sobre o que mais fazer. Quem sabe ela acelerava exageradamente? Ou tinha algum vício de direção? Mesmo assim, o que poderia elevar tanto o consumo?
No dia marcado, entra o mecânico no banco do carona e a senhora no do motorista. Ato seguido, puxa o afogador (sim, aquela peça que ajudava a dar partida no motor em épocas pré-injeção eletrônica) e… pendura a bolsa! Pronto, nem precisaram continuar quebrando a cabeça. Mataram a charada. A motorista rodava o tempo todo com o afogador puxado. Curioso, o mecânico perguntou educadamente por que ela fazia isso. Resposta? “Ué, não é para isso que serve este pininho?”
Sim, já sei, alguém vai achar que é puro preconceito machista, mas como várias fontes seguras já me contaram essa história, não tenho por que duvidar. E tenho uma amiga que com mais de 20 anos de carteira acaba de descobrir que não se deve dirigir com o pé apoiado na embreagem. Ela só soube disso quando o marido reclamou pelas constantes idas à oficina para consertar justamente a embreagem. A explicação era algo como ser mais cômodo andar assim e que como não diminuía nem aumentava a velocidade, ela achou que não fazia mal nenhum… Maus motoristas sempre me surpreendem não apenas com suas bobagens mas principalmente com suas desculpas. Tem cada uma!
Mudando de assunto: Relendo os textos do Audi Day do AUTOentusiastas fica clara minha paixão não somente pelos carros mas pelo som deles. Nos nossos testes, até o PK se divertiu me vendo trocar constantemente as marchas para ouvir as reduções do motor V-8 do Audi RS 5. A estrada sinuosa, com subidas e descidas, pedia reduções constantes e eu, prontamente, atendia. E ainda fui premiada com uma distância maior de rodagem, pois não voltei para São Paulo. Devo dizer que os editores do AUTOentusiastas são verdadeiros cavalheiros e mais de um se prontificou a rodar mais 100 quilômetros para me levar até Sorocaba, mas desconfio que não foi apenas pela minha companhia…
NG
Fotos: abertura, huffingtonpost.com; Fusca, diymobileaudio.com
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