Conforto, aparência e função são condições inseparáveis quando se fala em habitabilidade, seja em sua residência, seja no escritório, ou andando de charrete ou em seu automóvel.
Dando um exemplo concreto, um aparelho de ar-condicionado pode ser super-eficiente cumprindo a função de manter o ambiente agradável, porém se for barulhento ou feio, será rejeitado certamente.
No automóvel, com suas várias interações, é normalmente complicado manter as características de conforto, aparência e função simultaneamente em um bom nível. A engenharia de desenvolvimento e estilo do produto são os responsáveis diretos para estabelecer este compromisso tão importante.
Foi praticamente após a Segunda Guerra Mundial, em maio de 1945 na Europa e em setembro, no Pacífico, que a motorização em massa na Europa e Estados Unidos disparou. Os estilistas puseram suas mãos também no interior dos automóveis e nada escapava aos seus ímpetos criativos, ditando moda e normalmente dando mais importância à beleza em detrimento da função.
Somente no final década de 1960 as fábricas passaram a dar mais atenção à função e, particularmente, à segurança. Os bancos receberam encostos mais altos que protegiam o pescoço nas colisões pela traseira e no efeito-chicote nas batidas frontais, o motorista e passageiros da frente ganharam cintos de segurança e cada vez mais a a proteção dos ocupantes do veículo em impactos foi considerada. Paralelamente, a utilização racional dos espaços ganhou força e o interior do veículo se tornou alvo de estudos ergonômicos e de desenvolvimento de novos materiais que atendessem simultaneamente aos requisitos funcionais, de beleza e de conforto.
Hoje em dia os estilistas e engenheiros trabalham em conjunto para definir o interior do automóvel, adotando regras similares aquelas aplicadas à construção da carroceria. Tudo deve ser mais leve, prático, seguro, bonito e, se possível, adequado para a reciclagem completa no final de sua vida útil evitando desperdícios e agressões ao meio ambiente.
Para dirigir bem é fundamental se posicionar bem, mais ainda, sentir-se bem para dirigir bem. A posição ideal é determinada com estudos ergométricos levando-se em conta a estatura média da população em nível de 95% de representatividade. Os bancos são rigorosamente projetados neste sentido, com o cuidado de manter o motorista alinhado com o volante da direção e com os pedais de embreagem, freio e acelerador. Os mais atentos se lembram que BMW E36, de 1990, tinha o conjunto de pedais muito deslocado para a esquerda devido ao túnel do câmbio, em que era fácil pisar no acelerador em vez do freio.
A regulagem do banco no sentido longitudinal, em altura e ângulo do encosto facilitam ainda mais o posicionamento correto do motorista, que ainda tem a regulagem do volante de direção em altura e distância disponíveis em grande parte dos veículos atuais.
Na realidade todo o espaço interno é projetado levando-se em consideração a estatura da população em nível de 95% de representatividade, pernas, braços, ombros, tronco e cabeça. Os bancos, além de conforto e apoio lateral do corpo, devem manter a segurança em rigorosos testes de impacto que avaliam a robustez da estrutura e da ancoragem na carroceria. Os cintos de segurança têm papel fundamental na proteção dos ocupantes com projetos simultâneos aos bancos.
Outro ponto importante para dirigir bem é ter os controles operacionais bem localizados de modo a serem facilmente encontrados e não ser necessário desencostar do banco para acessá-los. A iluminação adequada dos instrumentos e controles facilitam acesso às informações, permitindo imediatas tomadas de decisão ao volante.
Visibilidade é ponto de honra, a área envidraçada deve garantir total visão do ambiente externo, sem pontos cegos e sem embaçamentos prejudiciais. Neste aspecto o sistema de ventilação interna e o ar-condicionado desempenham fundamental função.
O sistema de ventilação de um carro não apenas proporciona o bem-estar dos ocupantes, como também é um fator de segurança. A tarefa de providenciar a ventilação mais favorável tem se tornado cada vez mais difícil para os projetistas. Melhorias aerodinâmicas e boa visibilidade em toda à volta requerem áreas envidraçadas cada vez maiores e com inclinação acentuada. Mesmo um período curto de exposição direta à luz solar aquece consideravelmente o interior do veiculo, de forma que uma ampla renovação e suprimento de ar se faz necessário.
No inverno o problema é o inverso, o ar no habitáculo necessita ser aquecido a uma temperatura confortável o mais rápido possível. Posicionamento eficiente e controle das saídas de ar são de grande importância. O fluxo de ar deve atingir todas as áreas do interior do veículo inclusive os vidros, prevenindo que embacem. As grades de saída ajustáveis, associadas a uma ventoinha de grande capacidade volumétrica, fazem a eficiência do sistema.
Sistemas incorporando filtros especiais (filtros de pólen) retêm a poeira purificando o ar no habitáculo, com imenso beneficio principalmente para as pessoas alérgicas.
Outro ponto que prejudica o bem dirigir é a ocorrência de reflexos no pára-brisa, principalmente a noite, causado pelo ângulo de inclinação desfavorável do pára-brisa em relação às superfícies do painel de instrumentos.
Porém existe um reflexo amigo no pára-brisa que é o moderno sistema HUD, o head-up display, curta expressão em inglês que significa “mostrador visível com a cabeça erguida”, que informa em imagem virtual detalhes importantes a escolher, por exemplo, a velocidade do veículo, instruções do GPS, alertas de radar etc, em local pré-determinado que facilite a visão das informações sem atrapalhar a visão externa e visível apenas pelo motorista, num campo bem pequeno. A idéia é informar o suficiente sem sobrecarregar a área da imagem virtual que possa atrapalhar ao invés de ajudar.
Outro ponto é evitar controles e/ou detalhes no interior do veiculo que possam refletir a luz solar, cromados por exemplo, que possa ofuscar o motorista e os passageiros. Os veículos antigos anos 1960/70 não apresentavam este cuidado sempre. Os veículos modernos em sua maioria evitam cromados no habitáculo embora alguns ainda insistam neste erro.
Mas há um cromado também amigo, nas maçanetas internas das portas, que são visíveis mesmo no escuro, útil em caso de acidente noturno por serem facilmente localizadas.
Como de costume encerro o post com uma homenagem. Neste caso o Audi R8 que tive o prazer de dirigir no recente Autoentusiastas Audi Day e sentir toda a tecnologia embarcada na segurança e no bem estar dos ocupantes do veículo.
O Audi R8 é um exemplo de inteligência automobilística, mostrando que não é somente com gasto de dinheiro que se faz a diferença.
CM