Simone Fernandes Sardinha, 38 anos, é a moça que aparece nessa foto, a única que tenho dela. Ela trabalha há cinco anos para meus primos Billy e Anna. Casada, tem duas filhas, 13 e 9 anos. Uma graça de pessoa, educada, atenciosa e competente.
Há poucos dias seu primo foi visitá-la, no trabalho, com uma motocicleta de pequena cilindrada. Simone quis dar uma volta, ali mesmo, de farra, dentro da propriedade dos primos, na pequena via de acesso à casa, pavimentada de bloquetes. Velocidade possível ali, 30 km/h, se tanto, conheço.
Não se sabe como, ela se acidentou e lesionou gravemente o pé e perna esquerdos, fratura exposta. Foi levada de carro até o hospital em Bananal (SP), mas pela gravidade do ferimento precisou ser transferida, de ambulância, para o hospital de Cruzeiro, no mesmo estado, cerca de 120 quilômetros distante pela Via Dutra (pela Rodovia dos Tropeiros é menos, mas por ser mais travada o tempo de viagem é bem maior).
Ontem chegou-me a notícia: a região gangrenou e foi preciso amputar a perna abaixo do joelho. Vi a foto do ferimento, que me abstenho de publicar aqui. Como vi também a foto dos pés do Nélson Piquet quando ele bateu de frente no muro em Indianápolis em maio de 1992, no treino para a 500 Milhas, que me pareceu serem lesões bem mais graves. Não quero e não tenho como fazer julgamentos, mas tenho impressão de que tivesse a Simone sido medicada no mesmo hospital que atendeu Piquet, o Methodist Hospital, em Indianápolis mesmo, conhecido por sua eficácia no tratamento de feridos de guerra, não teria havido a gangrena e amputação. É só uma suposição.
Seja como for, é a razão do título, “Máquina fantástica, mas frágil” — o corpo humano.
Cada vez que ouço casos semelhantes me bate uma grande tristeza. Pessoas que perdem a vida ou ficam mutiladas por motivo fútil, por absoluta falta de cuidado, habilidade ou desconhecerem o veículo que dirigem.
Por isso vivo apelando para qualquer pessoa, e fiz isso com meus filhos e agora com o neto, que tudo que envolve movimento do corpo, até caminhar, exige atenção. E nem precisa movimento: eu ensinava os filhos a sempre que fossem colocar colírio nos olhos, pegar o frasco com as duas mãos, lerem o rótulo e confirmarem para si mesmos “isto é colírio”. Achavam graça, exagero, mas hoje agradecem o ensinamento.
Pequenos, jamais correr com copo na mão, mesmo de plástico, pois num tombo um pedaço do copo que venha a se quebrar pode atingir os olhos. Portas, de casa ou do carro, nunca deixar dedos no caminho delas. E por aí vai. Fazer da segurança uma rotina, não uma exceção.
Assim é tudo. Sempre ter em mente que o corpo é frágil e acidentes não têm hora para acontecer. É ficar numa espécie da alerta permanente.
Por exemplo, nunca caminhar manipulando o smartphone, como tanto vejo. É melhor parar de andar quando for ver qualquer coisa no aparelho ou enviar SMS ou mensagens pelo WhatsApp. Nunca caminhar com fones de ouvido e deixar de escutar o tráfego à volta.
Cuidados dessa ordem, é claro, envolvem dirigir qualquer veículo automotor ou de tração humana, como a bicicleta. É fundamental ter consciência de que privados das nossa plena capacidade de raciocínio, como estar alcoolizado acima de determinado nível, como 0,5 ou 0,6 grama de álcool por litro de sangue — esqueça-se a idiota dessa “lei seca”, a do álcool zero, pois poderemos estar em outro país, de gente mais esclarecida — não se deve dirigir. Mas se for fazê-lo nessas condições por qualquer motivo, que o faça bem de-va-gar, por saber que os reflexos e julgamento estão prejudicados.
Também, abandonar a idéia de que se pode dirigir com segurança tendo os vidros da condução escurecidos. Não se pode. Já li comentários no Ae do tipo “sou jovem e enxergo bem”, como que implicitamente dizendo que sou velho e por isso a dificuldade que tenho em dirigir com essas execráveis películas escurecedoras. Engano total. Apesar de estar com 72 anos, tenho visão perfeita.
A visão é, de longe, o mais importante sentido ao dirigir. Nada, absolutamente nada, justifica perdermos nossa plena capacidade de enxergar o que está à frente, nos lados e atrás, daí minha cruzada contra as películas que são autênticos sacos de lixo.
Que a Simone se recupere desse trauma, de tudo isso, e possa seguir sua vida de maneira praticamente normal. A Anna já está falando com seus contatos na AACD para conseguir uma prótese para ela.
Sempre, e nesse fim de semana prolongado da Semana Santa, dirija o que for sem se arriscar. Não é vergonha ser cauteloso.
BS