Os testes com o percentual de 27% do etanol na gasolina deixaram de lado os modelos nacionais mais antigos. O governo trocou o “tudo pelo social” por “salve-se quem puder”.
A indignação com o percentual de 27% de etanol na gasolina goela abaixo (ou tanque adentro) me levou a um seminário no Rio de Janeiro promovido pelo Instituto Brasileiro de Petróleo (IBP) que teria, entre os temas, a qualidade do nosso combustível. Participavam gerentes e diretores da Petrobrás, de outras distribuidoras de derivados de petróleo, da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), de indústrias químicas (que produzem aditivos) e da Anfavea (associação dos fabricantes de automóveis).
Eu queria entender o pensamento da elite da engenharia brasileira de combustíveis a respeito dos níveis crescentes de etanol na gasolina. Sabe o que ela pensa? Nada. Proibido pensar (muito menos se manifestar), pois a decisão é política e ponto final. Claro: Petrobrás, Anfavea e ANP ou são do governo ou têm o rabo preso com ele. O percentual de 27% foi aprovado pois a rainha Dilma II assim o quis. Mas, alguns fatos vieram à tona no evento do IBP:
– Automóveis a gasolina tinham sido testados para a gasolina com 22% de etanol, a chamada E22. Tempos depois, pressionado pelos usineiros (como sempre), o governo alterou o percentual para 18 a 25%. “No peito” e sem testes. No ano passado, a lei que permitiu os 27% foi aprovada pelo Congresso, “sujeita a testes que comprovassem sua viabilidade técnica”. Conversa para boi dormir: ninguém duvidava de que o percentual seria alterado e que o critério político atropelaria o técnico.
– Pensava-se (eu inclusive) que os testes iriam comparar 27% com os 22% testados anteriormente. Qual o quê! A Petrobrás rodou com os carros comparando 27% com 25%, ou seja, entre dois percentuais muito próximos. E ainda assim encontrou valores mais elevados de consumo e de temperatura no escapamento.
– Foram realizados também testes com 30% de etanol. Atrás da cortina de fumaça jogada sobre o assunto, o óbvio: os usineiros querem elevar ainda mais o percentual de etanol anidro. Assim, quando o assunto vier à tona, ninguém protesta sob o incontestável argumento de estar aprovado pela Petrobrás.
– Os testes foram realizados apenas com carros a gasolina, pois o flex pode receber qualquer teor de etanol. São milhões de carros: a metade da nossa frota se abastece com o derivado do petróleo, tanto os nacionais mais antigos, produzidos antes do flex (2003), como os importados. Mas, acreditem se quiser: só foram testados os importados e não se avaliou nenhum velhinho nacional. Ou seja, no governo do “tudo pelo social”, o BMW do rico foi testado. Mas se esqueceram do BMV (Brasilia Muito Velho) do pobre…
– Enquanto a Petrobrás fez os testes de dirigibilidade, coube à Anfavea os de durabilidade. Engenheiros no evento confirmaram ser impossível verificar corrosão em apenas seis meses de testes. Lembram-se que a Anfavea botou a boca no trombone quando se anunciou a idéia dos 27%? Ela já sabia ser grande a probabilidade de ferrugem, mas se submeteu à exigência da rainha Dilma II e fez os “testes” sem choro nem vela. E vai aprovar o percentual.
– Mais um capítulo da novela “gasolina aditivada” anunciado no evento: a ANP decidiu tornar obrigatória a aditivação de toda a gasolina a partir de janeiro de 2014. Mas, no final de 2013 ninguém se entendeu sobre o assunto e a obrigatoriedade foi adiada para julho de 2015. Mas a própria ANP confessou estar ainda perdida e sem condições de efetivar a medida dentro de dois meses. Decidiu então adiar novamente, desta vez por mais dois anos, para julho de 2017. Se todos os envolvidos se entenderem até lá…
BF