TESTE DE 30 DIAS
RENAULT FLUENCE PRIVILÈGE 2.0 HI-FLEX CVT
3ª SEMANA
A penúltima semana de nossa avaliação de 30 dias com o Renault Fluence Privilège 2.0 HI-FLEX CVT foi marcada pela viagem do feriadão de Páscoa que, como programado, colocou à prova a capacidade de verdadeiro carro para a família do sedã fabricado em Córdoba, na Argentina, e vendido no Brasil desde o final de 2010. Quatro adultos e uma criança, porta-malas cheio, prancha de surfe no teto. Eis a configuração para a escapada da capital paulista rumo ao litoral norte, mais exatamente Ubatuba. O horário de saída permitiu encarar a estrada com razoável fluidez e o percurso, de cerca 220 quilômetros porta a porta, foi cumprido (com apenas uma parada) em pouco menos de 3 horas e meia.
Nas quatro rodovias enfrentadas — Ayrton Senna, Carvalho Pinto, Tamoios e a Manuel Hyppolito Rego — encontra-se o melhor que temos no Brasil em termos de sinalização, pavimentação e serviços, mas também as cada vez mais freqüentes restrições de velocidade monitoradas por meios eletrônicos, que em alguns casos como na Tamoios recém-duplicada, obrigam o motorista a passar dos 80 km/h de limite para ridículos 60 km/h (ou até 30 km/h na serra), algo paradoxal considerando ser aquela uma rodovia de bom traçado. Justificativa? A inexistência de passarelas para pedestres, já que a gestora Nova Tamoios não as instalou.
Mas é do Fluence que devemos falar e não do tacanho modo que as rodovias são geridas no Brasil, e esse automóvel, caros leitores, tirou de letra a viagem: destaques foram a excelente capacidade do porta-malas, o conforto mais do que razoável e a boa marca de consumo de combustível, 12,8 km/l de média. Registre-se que no trecho do planalto, plano, com limite de velocidade de 120 km/h, o computador de bordo nos mostrou uma média de 13,7 km/l. Bastou entrar na Tamoios que a soma de fatores como topografia acidentada, curvas e a velocidade limite variando de 80 para 60 e às vezes os citados 30 km/h “emporcalhou” a possibilidade de manter o padrão econômico. Ressalte-se que em função do dia quente, a viagem foi toda realizada com o ar-condicionado ligado, que se mostrou plenamente condizente com as necessidades, possibilitando oferecer nível de temperatura diferentes para motorista e passageiro assim como dar aos ocupantes do banco traseiro duas bocas direcionais situadas no final do console.
Falando em banco traseiro, como previsível o passageiro do meio, no caso uma pré-adolescente de 12 anos, reclamou do que chamou “osso” nas costas: por ter o tradicional apoio de braço central escamoteável, a conformação do encosto não é a ideal. Mas compensa a existência de cinto de três pontos e apoio de cabeça regulável para os três ocupantes desta “2ª classe”. Já na frente, boa ergonomia para o motorista e porta-objetos cá e lá revelaram que o Fluence agrada e trata bem a quem deve passar horas dentro dele.
Do ponto de vista dinâmico, as boas sensações do trajeto relatado na semana passada, SP–Curitiba–SP, se confirmaram. Apesar de em um caso o Renault estar praticamente vazio e agora com lotação completa, a boa dirigibilidade foi característica imutável. É claro que a maciez das suspensões implica, como o carro lotado, em respostas diferentes nas irregularidades eventuais e uma menor capacidade de absorção. Porém, o Fluence é um daqueles carros que definitivamente não irritam seu motorista raspando suas partes cá e lá. Em apenas uma ocasião uma lombada exagerada atingiu as partes baixas do centro do carro, e a frente também é imune a entradas de garagem pronunciadas.
Aliás, o trecho final da viagem se deu em estrada com pavimentação precária e, nos metros finais, literalmente sem pavimentação, situação na qual o Fluence confirmou sua capacidade de rodar nessa situação sem entrar em crise, inclusive mostrando para que serve o controle de tração. Em viagem ao mesmo destino com outros sedãs deste porte sem tal dispositivo, um específico trecho com uma curva fechada em forte subida costuma fazer pneus patinarem. No Fluence, nada disso ocorreu. Passamos outras vezes no mesmo trecho desligando o controle e, mesmo assim, nada de esfregar borracha. Conclusão? Um misto de suspensões de curso generoso, os já elogiados bons pneus e uma distribuição de massas equilibrada.
Para a volta, configuração parecida a exceto da prancha de surfe que por lá ficou. Todavia, o trânsito mais pesado, a subida da serra e um acidente já no trecho de planalto que obrigou a um pára-e-anda por cerca de 2 ou 3 quilômetros (fora alguma pressa a mais…) derrubou a média de consumo, e dos bons 12,8 km/l da ida a marca mergulhou para 9,8 km/l, ainda assim considerados coerentes em face do cenário desta viagem e também da comparação com diversos outros carros usados para esta mesma viagem, que pode ser considerada nossa pista de teste, percorrida há décadas, e onde desenvolvemos parâmetros de julgamento seguros.
Mais algum destaque a mencionar? Sim: à boa qualidade do sistema de áudio deve ser somada a surpreendente capacidade de recepção do rádio FM e as salvadoras informações do sistema de navegação. Apesar de conhecermos o caminho como a palma da mão, na tela de ótima definição e grafismo claro, situada no centro do painel, o aviso da existência de radares com razoável antecipação é algo de muito útil. Útil também a câmera de ré, válida auxiliar em manobras.
Na seqüência do feriadão de Páscoa, o Fluence teve mais do mesmo, pois encarou os trajetos curtos e acidentados da zona oeste paulistana, repetindo a marca de consumo médio do início de nossa avaliação, ou seja, 6,1 km/l. Entrando na reta final do teste, a intenção é levar o sedã para uma análise técnica em oficina e entremear essa ação a diferentes tipos de utilização. Não perca.
RA
RENAULT FLUENCE PRIVILÈGE 2.0 HI-FLEX CVT
QUILOMETRAGEM TOTAL : 1.869 km
CONSUMO MÉDIO TOTAL: 8,07 km/l
CIDADE: 639 km (34%)
ESTRADA: 1.230 km (66%)
NA SEMANA: 559 km
CONSUMO MÉDIO: 8,30 km/l
VELOCIDADE MÉDIA: 34,4 km/h