Em comemoração aos 20 anos da sigla RS, a Audi realizou o evento RS Experience no autódromo Velo Città, no interior de São Paulo, e colocou quatro modelos RS mais o R8 na pista.
RS deriva da palavra alemã Rennsport, que pode ser traduzida como automobilismo esportivo. Ela surgiu em 1994, com a apresentação da icônica perua Audi RS 2 Avant, desenvolvida em parceria com a Porsche e montada também pela Porsche na mesma fábrica onde o Porsche 959 era fabricado.
No Brasil ela foi apresentada oficialmente no Salão do Automóvel de 1994, como perua mais rápida do mundo, com vendas iniciando em maio de 1995. A Audi acertou a mão ao escolher uma perua, Avant como as chama, para fazer seu modelo mais esportivo. Conseguiu unir a esportividade com o apelo familiar e espaço em um único carro eliminando o paradigma de que carros esportivos e família não combinam.
Com isso criou uma legião de fãs e consegue se destacar dos concorrentes tendo as peruas mais esportivas e desejadas. Logo a sigla RS passou a ser utilizada em outros modelos e hoje é sinônimo de força bruta, com motores ainda V-8 aspirados ou com turbos, além do 5-em-linha usado nos modelos derivados do A3. Hoje a RS é chamada de Queen of the wagons, Rainha das peruas, sendo a minha sugestão MOAW, Mother Of All Wagons, ou a mãe de todas as peruas.
RS está para Audi assim como M está para BMW e AMG para Mercedes-Benz, todas representando a nata da esportividade e alto desempenho em carros de passeio. A partir da RS4 de 1999 os modelos RS são fabricados pela quattro GmbH, subsidiária da Audi criada em 1983 para desenvolver e fabricar os modelos esportivos da Audi.
Há ainda os modelos S, um nível abaixo em desempenho quando comparados com os RS, e os S-line, equipados com acessórios e componentes desenvolvidos pela quattro GmbH. São tantos modelos, muitos com produção limitada, o que causa uma certa confusão. O mais importante é saber que os carros com o emblema RS são “os carros” para que quer esportividade.
Veja abaixo um breve histórico dos modelos RS:
1993 – RS 2
Nasce o primeiro representante da série
Modelo base: Audi 80 Avant
Motor 5-cilindros em linha, 2,2 litros, turbo, 315 cv, longitudinal
Parceiro: Porsche, que além de contribuir no desenvolvimento montava as RS 2 em uma de suas fábricas e fornecia freios e rodas
0 a 100 km/h em 5,4 segundos
Durante sua produção foi o modelo mais potente fabricado até então
1999 – RS 4
Modelo base: Audi A4 Avant
Motor V-6 a 90°, 2,7 litros, biturbo, 380 cv, longitudinal
Motor desenvolvido pela britânica Cosworth, na época pertencente à Audi
Primeiro modelo RS concebido e fabricado pela quattro GmbH
0 a 100 km/h em 4,9 segundos
2002 – RS 6
Modelo base: Audi A6 – Sedã e Avant
Motor v-8 a 90°, 4,2 litros, biturbo, 450 cv, longitudinal
0 a 100 km/h em 4,7 segundos
Oferece-se o DRC – Dynamic Ride Control
Em 2004 recebe uma versão ajustada para 480 cv, a RS6 Plus, que teve somente 999 exemplares fabricados
2005 – RS 4
Modelo base: Audi A4 Sedã, Avant e Cabriolet
Motor v-8 a 90°, 4,2 litros, aspirado, FSI, 420 cv, longitudinal
0 a 100 km/h em 4,8 segundos
Produzido sob encomenda pela fábrica da Karmann em Rheine
2008 – RS 6
Modelo base: Audi A6, primeiro Avant depois Sedã
Motor V-10 a 90°, 5,0 litros, biturbo, FSI, 580 cv, longitudinal
0 a 100 km/h em 4,5 segundos
Velocidade limitada em 250 km/h, ou, a pedido em 280 km/h
Em 2010 foram fabricados 500 exemplares numerados RS 6 Plus com velocidade máxima de 303 km/h
2009 – TT RS
Modelo base: Audi TT Cupê e Roadster
Motor 5-cilindros em linha, 2,5 litros, turbo, FSI, 340 cv, transversal
Em 2012 recebe uma versão limitada denominada PLUS com 360 cv, o que permite alcançar uma velocidade máxima de 280 km/h
2010 – RS 5 S tronic 7
Modelo base: Audi A5 Cupê
Motor V-8 a 90°, 4,2 litros, aspirado, FSI, longitudinal, 450 cv a 8250 rpm
(grande parentesco com o V-10)
0 a 100 km/h em 4,6 segundos e velocidade limitada em 250 km/h, ou, a pedido em 280 km/h
Introdução do diferencial intermediário por coroa 40/60 e opcional DRC – Dynamic Ride Control
2010 – RS 3
Modelo base: Audi A3 Sportback (cinco portas)
Motor 5-cilindros em linha, 2,5 litros, turbo, FSI, 340 cv, transversal (mesmo do TT RS)
0 a 100 km/h em 4,6 segundos
Tem os pára-lamas de polímero reforçado com fibra de vidro (CFRP)
2012 – RS 4 S tronic 7
Modelo base: Audi A4 Avant
Motor V-8 a 90°, 4,2 litros, aspirado, FSI, longitudinal, 450 cv a 8.250 rpm (mesmo do RS 5)
Velocidade limitada em 250 km/h, ou, a pedido em 280 km/h
Introdução do diferencial intermediário por coroa 40/60 e opcional DRC – Dynamic Ride Control
Veja o teste do Ae: Audi RS 4, um sonho de perua
2013 – RS 6 Tiptronic Sport 8
Modelo base: Audi A6 Avant
Motor V-8 a 90°, 4,0 litros, biturbo, FSI, longitudinal, 560 cv
Velocidade máxima de 305 km/h
0 a 100 km/h em 3,9 segundos com controle de largada
100 kg mais leve devido a nova construção
Veja o teste do Ae: A mãe de todas as peruas
2013 – RS 7 Tiptronic Sport 8
Modelo base: Audi A6 Avant
Motor V-8 a 90°, 4,0 litros, biturbo, FSI, longitudinal, 560 cv
Velocidade máxima de 305 km/h
0 a 100 km/h em 3,9 segundos com controle de largada
Veja o teste do Ae: Audi RS 7, carro esporte disfarçado de sedã
2013 – RS Q3 S Tronic 7
Modelo base: Audi Q3
Motor 5-cilindros em linha, 2,5 litros, turbo FSI, transversal, 310 cv
V.Máx 250 km/h
0 a 100 km/h em 5,5 segundos
Primeiro veículo SUV na linha de modelos RS
Agora vamos ao que interessa: como são os RS na pista. Mas nem tudo é um mar de rosas. Está certo que não é todo dia que se consegue andar com quatro modelos RS diferentes em uma pista de primeira linha como a do Velo Città. Mas vale lembrar que foram apenas três voltas com cada um deles, sendo a terceira obrigatoriamente mais calma (para esfriar o freio). E ainda com um censor ao seu lado limitando muito o grau de liberdade. Praticamente impossível fazer uma boa tocada, explorar os limites (mais meus do que o dos carros) e ainda tentar passar as impressões.
Os carros avaliados foram o RS Q3, o RS 5, o RS 7 e o RS 6.
RS Q3
Eu já comecei pelo único que não conhecia de perto, o RS Q3, primeiro suve RS. Já na saída tive uma boa impressão, que só foi melhorando. O motor 5-cilindros 2,5-litros turbolimentado é primoroso! São 310 cv a 5.700 rpm, mas o torque máximo de 42,8 m.kgf já a 1.500 rpm é quase se iguala aos 43,8 mkgf do V-8 aspirado que está no RS 4 e RS 5. O giro sobe muito gostoso, mais linearmente do que nos biturbo RS 7 e RS 6. E o ronco do motor/escapamento é bem encorpado e empolgante. No vídeo dá para ver uma largada do RS Q3 onde pode se escutar esse ronco. A caixa S tronic, de dupla embreagem, é bem esportiva com trocas muito rápidas e secas, bem esportivas mesmo.
Pelo contra-senso em fazer um carro alto (1,6 metro de altura) para andar numa pista eu esperava que a rolagem fosse mais acentuada. Mas no modo Dynamic a suspensão fica mais firme e a tração quattro faz toda a diferença. O carro é muito na mão e previsível. Na pista ele é mais ágil que os outros grandalhões, pois tem o menor comprimento, 4,4 metros, e é o mais leve com 1.665 kg (mais leve em comparação aos outros). Não fosse a altura elevada do banco, a sensação e o envolvimento na pista seriam excelentes.
Deve ser um carro fantástico para quem curte suves e gosta de uma pegada mais empolgante. Eu teria sérias dificuldades em acalmar o pé direito se tivesse um desses. Principalmente pelo ronco do escapamento e pelo prazer que se sente enquanto o 2,5-litros enche. Vamos ver se conseguimos um desses para o teste de 30 dias do Roberto Agresti, pois realmente é um carro multiuso e mais fácil de se usar na cidade. E um fato interessante é que o Q3 será fabricado no Brasil em 2016. Nesse começo de 2015 ele também foi modelo mais vendido entre as marcas premium.
RS 5
Durante o Audi Day do Ae eu fui um pouco contra a maré e apontei o RS 5 como meu preferido quando a maioria apontou a RS 4. Embora não tenha andado com a RS 4 na pista, pude comprovar que o RS 5 tem uma pegada muito envolvente. Seu entreeixos é menor que o da RS 4 e sua carroceria é mais fechada, pois tem duas portas a menos e largas colunas traseira.
Esse V-8 aspirado é proporciona um prazer mais prazeroso. Como assim? Chocolate proporciona prazer, mas chocolate belga com um bom vinho tinto… Bem, o fato dele ser aspirado proporciona um prazer crescente durante a aceleração. Ele não acelera tanto quanto os RS 6 e 7, fazendo de 0 a 100 km/h em 4,5 segundos contra 3,9 dos irmãos maiores e mais pesados. Mas números nem sempre são o melhor meio para se descrever emoções. Continuo preferindo o RS 5.
RS 7
O RS 7 também já é nosso conhecido. Não estava no Audi Day, mas tem uma matéria bem completa do Bob sobre ele, inclusive com vídeo. E o MAO, que também andou com o RS 7, o descreveu como superlativo. Ele é explosivo, sem dúvida, pois 560 cv e torque de 71,4 m·kgf já a 1.750 rpm, gerado em grande parte pelos dois turbos que ficam no meio do “V” do motor, são violentos. O Velo Città tem muitas curvas com retas curtas, na maioria dos trechos e eu invariavelmente entrava no corte nas acelerações. O ponteiro do conta-giros sobe tão rápido que quando pensava em trocar de marcha o motor já cortava antes dos meus dedos direitos, que passam as marchas na borboleta, receberem o impulso do meu sistema nervoso.
Numa viagem entre Frankfurt e Stuttgart ele é o carro. Mas na pista muito pesado e o mais comprido. Tem mais de 5 metros de comprimento. É um monstro! E claro que impressionante.
RS 6 Avant
Nas pista, diferente da relação entre RS 4 e RS 5, eu preferi a RS 6. Ela tem o mesmo trem de força, o mesmo temperamento explosivo e até pesa 20 kg a mais, mas seu comportamento é mais envolvente e me pareceu mais preciso. Pouca coisa, mas o suficiente para ser minha opção em relação ao Sportback. No segundo vídeo mais abaixo eu bati um bom papo sobre esses carros com o Lothar Werninghaus, consultor técnico da Audi, e falamos um pouco sobre essas percepções.
Na pista fiquei também muito perplexo ao entrar no corte nas acelerações. Eu gosto de deixar o motor sempre cheio, preparado, e tracionado. Mas isso não funciona muito com os motores turbo. Eu precisaria de um período maior para explorar essa RS 6 como se deve.
Racionalmente, minha escolha continua sendo o RS 5. Porém, tendo o bolso suficientemente fundo e cheio, seria difícil não escolher a MOAW. A RS 6, assim como a RS 4, tem um magnetismo especial, seja pela história de sucesso, por ter desafiado as leis dos carros esporte, pela exclusividade, ou até mesmo pela vontade/necessidade de manter escondido o lobo que nos habita.
A linha RS existe para aumentar o desejo pela marca. É simples assim: nós vemos, escutamos e nos entusiasmamos por uma RS 6, mas como ela é para pouquíssimos compramos o que é possível. Pena que continue sendo para pouco. E para completar fiz dois vídeos. Se eu fosse egoísta teria usado essa chance para dar uma lenha lascada lá no Velo Città. Porém preferi manter o estilo e fazer o falatório todo do PK durante a experiência, agüentem. E no segundo vídeo o papo bacana sobre os modelos testados com o Lothar, que tenho certeza de que vão gostar.
PK
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