Num mercado inundado de suves como o brasileiro, possivelmente o mais novo símbolo de status do tipo “cheguei lá” — percebo isso nas conversas com pessoas do meu círculo, “vou comprar um SUV” — a decisão da Volkswagen brasileira em voltar oferecer uma perua é altamente elogiável. De certa maneira, a fabricante de São Bernardo do Campo se redime da falha inominável de não lançar a Parati correspondente ao Gol de 5ª geração em 2008 e, pior, tirar o modelo de produção em outubro de 2012. Não foi a atitude correta de um fabricante desse porte num mercado do tamanho do brasileiro, de 3,5 milhões de veículo por ano, quarto ou quinto do mundo.
E que perua incrível a VW volta a oferecer! A Golf Variant saiu junto com o Golf VII, linha apresentada no Salão de Genebra em março de 2013, encantando a todos. Essa geração do VW mais vendido atualmente compreende estrutura totalmente nova que se caracteriza sobretudo por elevada rigidez e construção com aços diferenciados para comportamento nos acidentes que proteja melhor os ocupantes. A Golf Variant não é novidade na linha VW, há tempo existe no mercado europeu.
A Golf Variant foi exibida no último Salão do Automóvel, no ano passado, como maneira de sentir a reação do público para o veículo já planejado de ser importado e o resultado, segundo a VW, mostrou que a decisão havia sido correta.
A perua é um Golf em sua essência, com a forma de carroceria típica desses veículos, exatamente como ocorreu com o Gol e a Parati aqui no começo dos anos 80, um hatchback e uma perua, sem tirar nem pôr. O aumento de comprimento por conta da versão perua é de 307 mm. A produção é da fábrica da VW em Puebla, México.
Uma diferença importante é para o Golf é melhor aerodinâmica, em que o Cx baixou de 0,318 para 0,290 com área frontal praticamente igual — ligeiramente menor na perua, 2,17 contra 2,20 m² — embora dados de fábrica digam o contrário, a velocidade máxima que antes era de 212 km/h no Golf, é de 205 na Variant. O maior peso desta em relação ao hatchback, 1.357 kg contra 1.238 kg, ou 119 kg mais, responde por parte dessa diferença, mas afetou a aceleração: o 0-a-100 km/h piorou alguma coisa, é de 8,4 segundos no Golf e de 9,5 segundos na Variant — com exatamente o mesmo motor 1,4-L turbo TSI de 140 cv e 25,5 m·kgf e o mesmo câmbio robotizado de duas embreagens e sete marchas.
A única diferença para a versão equivalente alemã é freio de estacionamento manual por alavanca em vez de elétrico.
A apresentação à imprensa foi ontem na Fazenda Capuava, em Indaiatuba (SP) e seu miniautódromo, o suficiente para sentir que é uma perua no jeito, como se diz. Equilibrada de curva ao extremo e muito agradável de dirigir como o Golf do qual deriva, com a vantagem de levar 605 litros de bagagem contra 313 litros, praticamente o dobro. E com a vantagem das peruas (e suves) de nas viagens os passageiros do banco traseiro serem menos incomodados pelo sol devido ao prolongamento do teto.
Preços
A Golf Variant é oferecida em versões Comfortline e Highline, que custam R$ 87.490 e R$ 94.990, respectivamente.
A Comfortline “basicona” é básica em termos, ao trazer quatro freios a disco, auxílio à frenagem, controle de estabilidade e tração (fornecedor Continental), bolsa inflável até para os joelhos do motorista, alerta de pressão baixa dos pneus, ar-condicionado automático monozona, assistente de partida em rampa, conjunto elétrico (vidros, travas e espelhos), faróis de neblina com função luz de curva, sensor de estacionamento traseiro e dianteiro, sistema de infotenimento, desliga-liga motor e volante revestido de couro.
Por mais R$ 4.500 tem-se o pacote Elegance, que traz volante multifuncional com borboletas, controlador automático de velocidade, conjunto de iluminação e visibilidade, e rodas de 17″ com pneus 225/45R17W (16″ e 205/55R16V na básica).
Por R$ 8.890 há pacote Exclusive, que é o Elegance mais sistema de infotenimento com navegador.
Como opcionais isolados, pintura metálica por R$ 1.200, perolizada por R$ 1.700 e teto solar por R$ 5.300.
Portanto, a Golf Variant Comfortline pode chegar a R$ 103.300.
A Highline traz de série tudo o que a Comfortline tem, mais ar-condicionado automático bi-zona, bancos de couro, controlador automático de velocidade, iluminação ambiente, sensores de chuva e crepuscular e volante multifuncional com borboletas.
Por mais R$ 5.820 há o pacote Elegance, com rodas de 17″ e pneus 225/45R17 (de série são 205/55R16 também), seleção de perfil do motorista, navegador com comando por voz e acesso sem chave com partida por botão.
Por R$ 15.700, o pacote Exclusive, que traz os itens do pacote Elegance mais faróis bi-xenônio com luzes de uso diurno por LEDs, assistente de luz para farol alto e controlador automático de velocidade adaptativo com as funções de assistente dianteiro e frenagem de emergência na cidade.
R$ 26.670 custa o pacote Premium, que é o Exclusive mais ajuste elétrico do banco do motorista, detector de fadiga, sistema de infotenimento mais sofisticado (Discover Pro), também com comando por voz, e sistema proativo de frenagem.
Opcionais isolados são as duas pinturas da versão Comfortline, rodas diferentes (Geneva) por R$ 1.200, roda Madrid por mais R$ 400 e o mesmo teto solar.
Desse modo, a Highline pode chegar a custar R$ 130.260.
A Volkswagen não informou consumo, como no caso do Golf com esse câmbio robotizado — só o manual, que é 11,7 km/l na cidade e 13,3 km/l na estrada, embora não deva haver diferença significativa com o robotizado (pode até ser melhor), mas a Golf Variant deve consumir ligeiramente mais, embora possa ser considerada bastante econômica. Os consumos acima representam etiqueta “A” no Programa Brasileiro de Etiquetagem Veicular.
Outra diferença notada em relação ao Golf é a direção mais rápida, a relação baixou de 15,5:1 para 13,6:1 e agora são 2,7 voltas entre batentes, ante 3 voltas. Notado também pela ficha técnica bitolas 10 mm mais largas.
Vai pegar?
A grande dúvida é como o mercado brasileiro reagirá a essa reintrodução da perua sob forma de um excelente produto como a Golf Variant. A VW estima venda de 2.000 unidades por ano, mas acredito que passe bem disso, a julgar tanto pelo que se está pagando pelos suves, quanto pelo veículo em si, que acredito que vá agradar em cheio. Não há por que não.
Muitos são céticos quanto à volta das peruas, que o momento é dos suves, mas assim como fui dos poucos a antever que o Fiat Tipo seria um sucesso aqui, quando editor técnico da revista Autoesporte nos anos 1990, repito a predição em relação à Golf Variant, um veículo bem construído, decididamente moderno e que proporciona um imenso prazer de dirigir. E não tem o odiado por muitos hoje pedal de embreagem! O espaço para os ocupantes é exatamente igual ao do Golf.
Duas coisas que costumo comentar nas minhas análises, uma não ter faixa degradê no pára-brisa — o que será que os marqueteiros da VW pensam a respeito, tenho a maior curiosidade — e outra a satisfação de ver o bate-pé no carpete, um respeito ao consumidor que, como eu, detesta sobretapetes. O mundo já tem patrulhamento demais.
BS
Fotos: autor salvo indicação em contrário
FICHA TÉCNICA VW GOLF VARIANT 1,4 TSI | |
MOTOR | |
Designação | EA211 R4 |
Instalação | Dianteiro, transversal |
Material do bloco/cabeçote | Alumínio |
N° de cilindros/configuração | Quatro/em linha/cinco |
Aspiração | Forçada por turbocompressor, interresfriador de ar |
Diâmetro x curso | 74,5 x 80 mm |
Cilindrada | 1.395 cm³ |
Taxa de compressão | 10,5:1 |
Potência máxima | 140 cv de 4.500 a 6.000 rpm |
Torque máximo | 25,5 m·kgf de 1.500 a 3.500 rpm |
Corte de rotação | 6.500 rpm, limpo |
N° de válvulas por cilindro | 4, atuação indireta por alavanca-dedo roletada |
N° de comandos de válvulas | Dois, no cabeçote, correia dentada, variador de fase na admissão |
Formação de mistura | Injeção direta |
Gerenciamento do motor | Bosch MED |
Combustível | Gasolina comum (95 octanas RON) |
TRANSMISSÃO | |
Embreagem | Duas, automáticas, a seco |
Câmbio | Transeixo dianteiro de 7 marchas robotizadas à frente e ré, tração dianteira |
Relações das marchas | 1ª 3,500:1; 2ª 2,097:1; 3ª 1,343:1; 4ª 0,933:1; 5ª 0,974:1; 6ª 0,778:1; 7ª 0,653:1; ré 3,182:1 |
Relações da diferencial | 4,800:1 e 3,428:1 |
SUSPENSÃO | |
Dianteira | Independente, McPherson, mola helicoidal, amortecedor pressurizado e barra estabilizadora de Ø 24 mm |
Traseira | Independente, multibraço, mola helicoidal, amortecedor pressurizado e barra estabilizadora de Ø 19 mm |
DIREÇÃO | |
Tipo | Pinhão e cremalheira, assistência elétrica indexada à velocidade |
Diâmetro mín. de curva | 10,9 m |
Relação de direção | 13,6:1 |
N° de voltas entre batentes | 2,7 |
FREIOS | |
De serviço | Hidráulico, duplo-circuito em diagonal, servoassistido a vácuo |
Dianteiros | Disco ventilado de Ø 288 mm |
Traseiros | Disco de Ø 272 mm |
Controle | ABS, EBD e assistência à frenagem |
RODAS E PNEUS | |
Rodas | Alumínio 7Jx17, inclusive estepe |
Pneus | 225/45R17W, inclusive estepe |
Marca e tipo no carro testado | Michelin Primacy de baixo atrito de rolamento |
PESOS | |
Em ordem de marcha | 1.357 kg |
Carga máxima | 523 kg |
CONSTRUÇÃO | |
Tipo | Monobloco em aço, hatchback 4-portas, 5 lugares, subchassi dianteiro |
AERODINÂMICA | |
Coeficiente de arrasto (Cx) | 0,29 |
Área frontal | 2,17 m² |
Área frontal corrigida | 0,629 m² |
DIMENSÕES EXTERNAS | |
Comprimento | 4.562 mm |
Largura sem/com espelhos | 1.799 / 2.027 mm |
Altura | 1.468 mm |
Distância entre eixos | 2.630 mm |
Bitola dianteira/traseira | 1.549/1.520 mm |
CAPACIDADES | |
Porta-malas | 605 litros |
Tanque de combustível | 50 litros |
DESEMPENHO | |
Aceleração 0-100 km/h | 9,5 s |
Velocidade máxima | 205 km/h |
CONSUMO INMETRO/PBEV | |
Cidade | 11,7 km/l |
Estrada | 13,3 km/l |
CÁLCULOS DE CÂMBIO | |
v/1000 em 6ª/7ª | 43,5/51,9 km/h |
Rotação em 6ª/7ª a 120 km/h | 2.750/2.300 rpm |
Rotação em vel. máxima, 6ª | 4.900 rpm |