Junho não foi o terror que se esperava e as vendas, em queda, até se estabilizaram.
Vendas seguem poucas, emplacamentos totais diários estacionaram na casa dos 10.100 nos 21 dias úteis de junho, ficaram em 212.524. Somando-se as vendas do primeiro semestre de 2015, tivemos 1.318.949 unidades emplacadas, a média diária ficou em 10.500, ou seja, havia uma tendência de queda e esta mais ou menos parou, um sinal de alívio, na mais otimista das hipóteses.
Este parâmetro tornou-se padrão válido da indústria nacional faz um tempo, vendas diárias, você pode compará-las nos meses de qualquer tamanho, com ou sem feriados e atenuar a sazonalidade. Por exemplo em 2013, melhor ano da indústria, a média anual de emplacamentos diários foi de 14.700; ano passado, no 1º semestre, 13.300.
Estamos vivendo uma retração média de vendas na casa dos 20,7%, comparando com 2014, mas os números enganam um pouco. Há incentivos de vendas abundantes, mudanças no mix, entrada de novos contendores e novos modelos que comem participação e também as vendas a frotistas, que gozam de maiores descontos (você pode ter uma frota de um veículo…), que dependendo do mês varia de 20 a 50%, fabricante a fabricante, cada um se virand0 da maneira como pode para desovar a sua produção.
Nos EUA, o parâmetro mais em moda de análise de vendas de automóveis é o SAAR (acrônimo de média dos últimos doze meses ajustada sazonalmente). Eles vão de vento em popa, batendo recordes sucessivos de emplacamentos, encostaram em 17,7 milhões nos últimos doze meses, mas há abusos nas concessões de crédito e outros que evitarei comentar aqui por termos problemas sobrando a observar em nosso mercado.
A produção de junho foi um baque, 184 mil unidades, estavam ajustando estoques que insistem em ficar acima dos 50 dias (fábrica e concessionários). Este mês os quatro maiores fabricantes estão em clima de férias coletivas, o que significa mais ajustes para baixo, alguns negociando com sindicatos redução de jornada e de salários, procurando garantir o emprego. Ano difícil.
Descontos e promoções, uma curiosidade: em 2015 a Europa vive consistentes e lentos sinais de saída da crise nos seus maiores mercados, no entanto um estudo que recebi mostrava que na França e Alemanha, os descontos praticados sobre a tabela chegavam a 21% para veículos do porte de um VW Passat e 19% para os médios, como VW Golf, Ford Focus, Opel Astra etc. Há dois ou três anos esses descontos eram 5 ou 6 pontos percentuais maiores. Uma vez prática do setor, toma-se muito tempo para deixá-la ou ao menos trazer essas promoções a um patamar mais normal, isto é, descontos sobre tabela na casa dos 5 a 10% no máximo.
Outro artifício comumente usado para inflar as vendas é vender a si mesmo, pasmemos nós pouco familiarizados com essas práticas que em outros mares são ainda mais violentas. Nos números oficiais de emplacamentos estão incluídos os de concessionários faturando veículos para si mesmos, ou os fabricantes fazendo isso. Na mesma Alemanha a média dessa prática atingiu 32% no primeiro trimestre de 2015, Fiat bem acima dela, com 47% de autoemplacamentos, marcas de luxo como Audi bateram 34%. Ninguém escapa e esse número que varia de país a país, fabricante a fabricante. O destino desses veículos é o mesmo consumidor final, mas a descontos que chegam a ultrapassar os 30%, pois teoricamente ele não está levando um carro zero-km e sim com 15 km — considerado seminovo. Quem sobrevive? A fonte desses meus dados é o DataForce, divulgados na revista Automotive News.
Com isso, quis ilustrar que nossa indústria segue passos parecidos ao Velho Continente, mas ainda bem atrás nos patamares. Caso o pouco interesse do consumidor brasileiro por carros novos persista, acredito que essa distância se reduzirá tanto em descontos médios como em autoemplacamentos. Ninguém quer isso.
Novidades no ranking que merecem destaque, Renault Duster reagiu emplacando 3.482 unidades, 800 a mais que EcoSport, Jeep Renegade posicionando-se entre eles. É bom lembrar que o Jeep é de patamar superior em preço e conteúdo. Curiosamente, a vinda desses novos modelos de crossovers toma lugar de sedãs médios e há uma explicação lógica para isso. Tanto eles quanto os sedãs têm preço no patamar de 60 a 80 mil reais, o comprador de carros 0-km que dispõe dessa quantia muitas vezes não está preocupado com o segmento, se tem traseira saliente, porta-malas de 500 litros ou sobriedade que o destaque como um executivo bem sucedido, mas sim com o modelo de 70 mil reais que ache mais bonito e bacana e que atenda às suas necessidades variáveis.
A primeira vez que vi análise assim foi em 2001, no lançamento do Citroën Picasso. O responsável pelo seu sucesso, o conhecido Sérgio Habib, veio ao mercado e de forma bem articulada fez essas ponderações que faziam muito sentido, mesmo porque quando você está inaugurando um novo segmento, ao mercado faltarão parâmetros de comparação para posicioná-lo, com quem ele compete em vendas, consumidor alvo etc.
Quatorze anos depois, vejo isso se repetindo, mais Honda HR-V e Renegade de R$ 75 mil reais sendo despejados e sumindo os Jettas, Cruze, Fluence, C4 Lounge e 408. O VW mexicano figurou em 41° lugar no ranking dos mais vendidos, com 931 unidades, o Chevrolet em 47°, com 829, os demais fora da lista dos 50 mais. As versões hatch da GM, Peugeot e Citroên também excluídas do clube dos 50. Um chefe de família pode perfeitamente comprar um crossover em vez de um sedã, cabe uma mala a menos, desempenho similar, melhor visto nos restaurantes, novo símbolo de status, sua mulher e filhos irão gostar — Honda, Peugeot e Jeep também.
Dentre os dez primeiros, sem contar com as vendas dos Palios que seguem em 1°, o Hyundai HB20 se consolida em 2°, seguido de perto por Onix e Gol, Fox e Sandero, mas dentre eles as vendas à frotistas maquiam um pouco o resultado.
Até o mês que vem.
MAS