O que os que menos versados em tecnologia do automóvel precisam entender é que não estão dirigindo um carro de motor 1-litro — um-ponto-zero como tanto se diz — mas um com motor de cilindrada 70 a 80% maior. Não é um faz-de-conta, mas uma realidade em termos de resultado no que diz respeito potência e torque, que é o que importa no final das contas. E com uma vantagem adicional, palpável, consumindo bem menos combustível do que se está acostumado.
A chegada do up! TSI, turbo, traz à discussão o motor superalimentado. Já escrevi sobre a paixão que é ter sob comando do pedal da direita um bom motor de aspiração atmosférica dotado de boa curva de potência, que anda bem tanto calmamente “para ir ao supermercado” quanto levando a rotação ao seu pico a 8.250 rpm ou mesmo ao corte a 8.500 rpm, caso da Audi RS 4 Avant e seus 450 cv. Mas para chegar numa é preciso gastar boa soma de dinheiro, perto de 500 mil reais, de modo que é para bem poucos.
Superalimentação não é novidade, há vários carros hoje assim, mas em motores pequenos é, em termos. Tivemos o Gol e Parati turbo em 2000, que era o EA111 com duplo comando e 4 válvulas por cilindro, com um pequeno turbocompressor Garrett, que foi assombroso na época. Desenvolvia 112 cv a 5.500 rpm e 15,8 m·kgf a 2.000 rpm. A Parati com esse motor, de 1.061 kg, acelerava de imobilidade a 100 km/h em 9,8 segundos e atingia 191 km/h. Era só a gasolina e rodava 11,3 km com 1 litro na cidade e 16,5 km, na estrada. A v/1000 em 5ª era de 30 km/h, motor a quase 6.400 rpm em velocidade máxima, câmbio absurdamente curto.
De qualquer maneira, era empolgante no seu tempo e só deu problema na polia de variar fase na admissão, que deixava de variar, o que serviu para dar má fama ao brilhante motor. Para comparação, o Fiat Uno turbo, de 1994, com motor 1,4-L (1.372 cm³), entregava 118 cv a 5.750 rpm e 17,5 m·kgf a 3.500 rpm. Ia de 0 a 100 km/h em 9,2 s e e chegava a 195 km/h.
Houve também o Ford Fiesta Supercharger em 2002, que tinha superalimentação por compressor tipo deslocamento (blower) Eaton, de 95 cv a 6.000 rpm e 12,6 m·kgf a 4.250 rpm, que acelerava de 0 a 100 km/h em 13,3 segundos e atingia 176 km/h. Pesava 1.066 kg e seu consumo era de 11,5 e 15,5 km/l, cidade/estrada, também a gasolina. Lamentavelmente, por ignorância, caiu em desgraça no mercado, que o achou gastador, já dentro do espírito “gérson” de querer andar como um 1,6-L e consumir como um 1-L. Ficou pouco tempo em produção.
Desse modo, a indústria automobilística local dá nova investida no motor de 1 litro com o up! TSI, só que desta vez dentro de uma nova realidade, a dos motores de baixa cilindrada com o recurso da superalimentação e com a novidade da injeção direta, além de ser flexível em combustível.
Técnica de dirigir
Não há propriamente “técnica” para se dirigir os carros de motor turbo atuais devido aos progressos realizados nos últimos dez anos nesse terreno. A única diferença é com turbo compressor o uso do pedal do acelerador mostra diferenças em relação ao de motores de aspiração atmosférica.
Como acelerar significa, além de abrir a borboleta de aceleração, elevar potência e torque sensível e rapidamente, dirige-se mais com esse pedal do que com a alavanca de câmbio, significando bem menos trocas de marchas — daí não serem necessárias mais do que 5 marchas. Só para lembrar, o primeiro Porsche 911 turbo, de 1975, tinha câmbio de quatro marchas apenas.
Outro ganho incontestável do up! TSI, comparando-o com o “pai” Gol/Parati turbo, é na escolha das relações das marchas e seu efeito combinado com relação de diferencial, que resultou num v/1000 de em 5ª de 41,2 km/h, 37,3% mais mais longo. Por isso, alguns (ou muitos) poderão não gostar do novo up! num primeiro momento, pois a “sede” de ir logo para 5ª marcha provavelmente será frustrante. Para isso não acontecer o recomendável é fingir que o câmbio tem só quatro marchas, especialmente no uso em cidade, e usar só até à 4ª marcha — tão longa que mesmo em rodovia a 120 km/h o motor está girando a apenas 3.650 rpm, menos que todos os carros de motor de 1 litro em quinta.
Se e quando vier o Ford Ka com motor 1-L EcoBoost deverá ser igual, é torcer para que os engenheiros e o marketing da marca do oval azul embarquem nessa onda.
Uma coisa garanto: depois de um período de condicionamento todos os outros carros de motor 1-litro ficarão estranhos, até o próprio up! de motor aspirado.
BS