A matéria de ontem, publicação de texto “O profissional e a teoria da casca de banana“, do comandante Sady Bordin Filho, repercutiu muito entre os leitores do Ae e levou ao desdobramento de muitas situações descritas nos comentários, todas versando sobre o comportamento das pessoas diante das coisas do dia-a-dia.
Acho que todos têm notado como nos falta civilidade no caso de sujar desnecessariamente nosso ambiente. Não são uma nem duas vezes em que ao ir ao toalete de ambientes luxuosos como os de alguns lançamentos, me deparar com papéis de enxugar as mãos atirados fora do cesto existente para esse fim. Por considerar isso a inadmissível, sempre os cato e coloco no cesto. É automático. Ou, como acontece com freqüência, estar caminhando e chegar próximo do portão de entrada do prédio onde moro e catar papéis de toda ordem ali nas imediações, na calçada, e colocá-los na lata de lixo próximo à guarita.
Por que proceder assim? Foi como fui ensinado pelos meus pais. Mas isso não substitui o condicionamento que qualquer pessoa pode vir a adquirir, e o melhor exemplo disso está nas estações e nos vagões do metrô de São Paulo, o único que conheço no nosso país: nunca vi papel jogado no chão nesses dois locais.
Como o leitor sabe que sou fumante, há a questão das pontas de cigarros: não se as atira pela janela e ponto final. Já falei aqui que nos carros de teste que vêm sem cinzeiro, utilizo um próprio que meu irmão me trouxe de presente de uma viagem que ele fez ao Canadá. Aliás, considero um carro sem cinzeiro algo imperdoável, coisa de patrulhamento barato. Não vou dizer quais para não parecer propaganda, mas algumas cuidam de colocar no carro o cinzeiro tipo copo que é vendido nas concessionárias como acessório. Isso se chama respeito ao jornalista.
Outra questão levantada nos comentários foi o modo de utilizar carro alugado. O fato de o veículo não ser seu não significa que deva ou possa ser operado de modo diferente, sem o cuidado que se dá ao próprio carro. É até pelo contrário, por ser veículo de outrem cumpre cuidar dele até melhor, uma questão de princípio.
Aliás, isso tem tudo a ver com o que aprendi com um vizinho de muro à casa da família na Gávea, no Rio de Janeiro, um senhor americano que era diretor da Esso: respeitar a máquina. Sendo ou não seu, o automóvel tem e merece ser respeitado. dirigido com todo cuidado e atenção.
Voltando à sujeira, o brasileiro, de maneira geral, nós brasileiros somos povo porco, infelizmente. Os banheiros públicos dão a dimensão exata disso. No caso das privadas, chega a parecer ser desonroso dar a descarga, impressiona-me isso. Nunca esqueço quando levei os filhos ainda pequenos ao jardim zoológico, ao esperar que a pessoa que usava o banheiro saísse, ela saindo (um menino dos seus 10 anos) e eu ver que não havia sido dada descarga, alcancei-o e lhe disse para sempre dar descarga. Ele ficou surpreso, mas espero que tenha aprendido a lição.
A matéria de ontem trouxe também à discussão a atitude de quem presta serviço, citando vários casos de vendedores que não estão cônscios de seu papel. Quem vende ou presta serviços, que também é uma venda, tem de estar focado no seu cliente. Quando entrei para a Embraer em novembro de 2000 como gerente de imprensa, recebi o celular da empresa junto com a ordem de jamais desligá-lo, nem nas horas de sono, pois sendo uma empresa global não havia hora para eu receber ligações.
Muitos anos atrás minha mãe estava renovando cortinas e estofados de casa e foi uma loja conhecida então, em Ipanema, a Casa Miro. Ela não estava vestida chique e ao entrar na loja ouviu um vendedor falar para outro algo tipo “atende essa pé-rapado aí”, esse outro, um rapaz bem jovem, atendeu-a. Quando o tal que disse o impropério viu o volume de compras que minha mãe estava fazendo, aproximou-se e disse para o jovem “deixa que eu atendo a senhora”, no que prontamente minha mãe disse “De modo algum, você não atende pé-rapado, estou sendo muito bem atendida.” E fez uma compra gigantesca.
Já foi dito aqui e é a mais pura verdade, grande parte dos problemas de trânsito resulta do mau comportamento do motorista, da falta de educação mesmo. Exemplo clássico, achar que caminhões e ônibus são veículos de segunda categoria e não facilitar a vida de seus motoristas — que são tão motoristas como nós que dirigimos automóveis. Digo ao leitor que experimente ser cordial com quem dirige esses veículos maiores e verá que, inacreditavelmente, você será retribuído no seu dirigir diário.
E nunca esquecer que a única diferença entre pedestre e motorista é estar de pé ou sentado segurando um volante.
BS