Normalmente um período dedicado a um exercício de futurologia restrito à transferência de pilotos, o meio da temporada 2015 da F-1 está focado na mudança de parcerias entre construtores de chassi e fabricantes de motores. Carta mais valiosa desse baralho, a Renault tem a carta do truco e cria para os rivais Ferrari, Honda e Mercedes uma situação tipo se ficar o bicho pega, se correr o bicho come. Nas bandas de cá o circo da Stock Car ofereceu emoções no fim de semana em Curitiba.
Trocando em miúdos
Orçamentos e dados financeiros são informações pouco divulgados no universo da F-1 e todas as referências conhecidas são aproximadas, algumas delas no estilo das pesquisas eleitorais. É razoável, porém, considerar que o capital necessário para cobrir o uso dos motores para uma equipe de dois carros esteja na faixa de R$ 70 milhões por temporada. Note que esse custo é básico e refere-se exatamente ao uso desse equipamento e permite algumas alternativas e possibilidades de desconto.
O preço final de acordos para o aluguel de motores é fechado em cima das necessidades de fabricante e cliente: se o primeiro quer investir no desenvolvimento de um piloto é provável que o desconto seja considerável. Se o segundo não apresenta garantias, é quase certo que o preço da negociação comece num patamar mais alto e acabe comprando uma versão uma ou duas especificações mais antigas.
Há casos e casos nessa negociação e não se pode esquecer que não faz muito sentido um fabricante que tem sua próprias equipe, caso da Ferrari e da Mercedes, fornecer equipamento a um concorrente. Assim, a Williams está com a Mercedes porque um ex-diretor é o atual chefão de esportes a motor da marca alemã. Já a Force India tem grandes chances de manter a unidade de potência tedesca por mais um se abrir espaço para um certo Pascal Wehrlein, queridinho da casa de Stuttgart.
Para que isso aconteça, o indiano Vijay Mallia torce para a Renault comprar a Lotus e levar a equipe de Enstone novamente ao plantel da marca francesa. E assim chegamos à rodada do truco. Dependendo da decisão que Carlos Ghosn julgar a mais sensata, o dominó começa a cair para um lado ou para outro. Brincando de siga a bolinha dançante — quem viu desenhos animados no século passado sabe do que estou falando…— podemos definir três cenários a partir dos acordos já definidos da Mercedes (Mercedes e Williams), Honda (McLaren) e Ferrari, cujo trem de força será usado pela equipe de fábrica e pela ainda inédita Haas.
Primeira estrofe: como está fica
A Renault opta por manter seu programa atual e segue fornecendo motores para a Red Bull e a Toro Rosso apenas e deveremos ver Lotus com motores alemães e Sauber – atualmente ligada à Ferrari — em dificuldades.
Segunda estrofe: dois prá lá, dois prá cá
A Renault compra a equipe Lotus e se relança como construtor e equipe própria. Para amenizar o investimento na recompra das instalações de Enstone, continua vendendo uma versão cliente; Sauber é o cliente mais provável, Toro Rosso corre por fora e pode acertar o toureiro.
Riff: adeus amor, eu vou partir
A Renault opta por cair fora e cria uma situação de estresse para seus concorrentes Ferrari, Honda e Mercedes, que teriam que atender, juntas, onze equipes. Atualmente os italianos suprem a Sauber e Manor, e como a Manor deve seguir como base de preparação para futuros pilotos de Maranello, os suíços poderia passar de cliente número um para cliente número três e até mesmo disputar vaga com a Toro Rosso, que tem base na Itália e já correu com os motores de Maranello.
Os motores alemães continuariam sendo vistos em três clientes, e aqui Force India e Lotus é quem tem mais a perder se a Red Bull aceitar a oferta já feita por Stuttgart. Não deixe de lado a opinião de Frank Williams nessa negociação: além da forte ligação com Toto Wolff, sua equipe tem grande capacidade tecnológica no desenvolvimento de motores híbridos, algo que falta à Red Bull e que a garagista inglesa saberá explorar muito bem.
Quieta no seu canto no outro lado do mundo, a Honda já seguiu a deixa da McLaren e indicou disposição de disponibilizar seu ainda raquítico motor a uma segunda equipe. Resta saber quem se habilita a tal vaga. A equipe em pior situação é a Sauber, mas a turma de Hinwill já entabulou negócios com a Renault, de acordo com Roger Benoit, veterano correspondente de F-1 do jornal Blick.
Contando tostões
Vale a pena uma equipe fornecer motores a um time rival? Em tempos de administração de equipes de F-1 tendo que obedecer o planejamento financeiro de corporações globais, a resposta é sim. Ainda que não seja tão simples assim, capitalizar algumas dezenas de milhões de dólares em moeda e um tempo valioso no desenvolvimento das híbridas unidades de potência adotadas pela categoria faz muuuuito sentido.
Piquet Jr. e o sol da Califórnia
Estado mais charmoso da costa oeste dos Estados Unidos, a Califórnia será de um capítulo importante no caminho que Nélson Piquet Jr. trilha para brilhar mais intensamente no automobilismo mundial. Na semana que vem o brasileiro recém-coroado o primeiro campeão mundial da F-E, vai testar um carro de F-Indy da equipe de Roger Penske. Não deixa de ser curioso um time que tem os sul-americanos Hélio Castro Neves e Juan Pablo Montoya como pilotos de dois seus três carros da F-Indy, avaliar um brasileiro…
“A Penske é uma equipe de ponta e se envolve na Nascar, na Indy e até na SuperCars da Austrália. E eu sou um piloto que pode se encaixar em qualquer carro e andar bem. Seria ótimo fazer parte de uma equipe como essa”, comentou Piquet Jr.
Cães, carros e crianças
Nem só chassis tubulares e motores V-8 ajudam a promover a Stock Car brasileira. Durante a disputa da sexta etapa do Campeonato Brasileiro da categoria, em Curitiba, o treino livre foi marcado pela invasão da pista por três cães, bucolicamente acompanhados de um alado quero-quero. No domingo um grade acidente na primeira corrida interrompeu a prova que teve ainda mais emoção: um garoto atravessou a pista quando um piloto se aproximava da freada da entrada do miolo. Como cães e criança entraram no circuito pelo buraco de uma cerca, a manutenção falha do Autódromo Internacional de Curitiba sugere que o circuito paranaense caminha, infelizmente, para o final de sua existência. Um final muito diferente do valor que essa pista tem para o automobilismo brasileiro.
Entre os sobreviventes saíram vencedores Marcos Gomes (Corrida 1) e Sérgio Jimenez (2). Na primeira bateria Thiago Camilo conduzia seu carro lentamente pela reta principal quando foi atingido por Rafa Mattos. Como você pode ver neste vídeo postado por Galid Osman. Camilo e Felipe Fraga tiveram seus carros destruídos e foram levados para o hospital, enquanto Mattos e Felipe Lappena sofreram apenas danos materiais.
Na F-3, Pedro Piquet venceu as provas na classe principal, enquanto Igor Fraga (sábado) e Guilherme Samaia (domingo), triunfaram na classe Light. Guilherme Salas foi o destaque das duas corridas válidas para a quarta rodada do Campeonato Brasileiro de Marcas ao se tornar o primeiro piloto da categoria a vencer duas vezes no mesmo fim de semana.
WG