Durante muito tempo, apaixonado por automóvel a fim de um carro “bravo” levava para a garagem um cupê de duas portas, suspensão dura, desconfortável, dois lugares fictícios atrás e um ridículo porta-malas. Na outra vaga da garagem, o carro para levar a família, um manso sedã confortável, bem comportado, e… sem nenhum tempero.
A eletrônica mudou tudo: tem sedã com pinta de familiar com cerca de 500 cv sob o capô, que o marido leva à pista para um trackday ou que vai às compras com a esposa no dia seguinte.
Assim é o Audi S6 que dirigi em Salzburg, na Áustria. A linha A6/S6 recebeu uma plástica no final do ano passado e o sedã deixa transparecer — de leve — seu vigor mecânico, pela cor vermelha e pelas ponteiras do escapamento. Mas é só ligar o motor para se revelar um capeta em forma de automóvel. Nas autoestradas alemãs, sem limite de velocidade, o carro é pura festa até os 250 km/h, máxima limitada pelo corte de injeção. Mas não teria dificuldade para chegar aos 300 por hora, o pessoal de Ingolstadt, a seu pedido, terá o maior prazer em “quebrar” o código limitador no módulo de comando eletrônico do motor.
A fera é tracionada por um V-8 de quatro litros, injeção direta, dois turbocompressores, potência de 450 cv e torque de 56 m·kgf. Aliás, torque em abundância — máximo! — bem antes mesmo do ponteiro chegar a2.000 rpm, precisamente a 1.400 rpm e assim vai até 5.700 rpm; a potência, de 5.800 a 6.400 rpm.Toda essa cavalaria passa por uma caixa robotizada dupla-embreagem de 7 marchas e chega ao sistema de tração permanente nas quatro rodas que pode ter, opcionalmente, um diferencial esportivo (de ação limitada).
O S6 assusta não somente pelo desempenho, mas principalmente por não se esperar tanto de um carro com “jeitão” de bem comportado. Zero a 100? Mesmo pesando 1.895 kg crava 4,6 segundos, “ali” com outros dois “foguetes” alemães: AMG E-63 e BMW M5 que marcam 4,3 s. O consumo impressiona também, pois roda cerca de 10 km com 1 litro de gasolina Super Plus de 98 octanas RON. Contribui o sistema “cylinders on demand” que desliga quatro cilindros quando os sensores percebem serem dispensáveis, como estar em estrada plana e em velocidade constante. Nesse momento, uma super-tecnologia não deixa o motorista perceber coisa alguma. A modificação do som do motor é compensada por uma emissão sonora específica pelo sistema de áudio do carro. E o corte do motor pela metade provocaria uma pequena vibração não fossem seus coxins hidráulicos ajustados automaticamente para a condição.
A engenharia da Audi não esqueceu nada: o conjunto final é perfeitamente afinado, com motor, câmbio, transmissão, direção e suspensão trabalhando em perfeita harmonia. Num trecho de estrada (entre sul da Áustria e norte da Itália) onde caía um senhor temporal, assustei-me ao perceber que ultrapassava vários outros automóveis até me lembrar de que o S6 era o único por ali com tração nas quatro rodas: um show de segurança no piso molhado. O carro permite vários ajustes de comportamento e a suspensão de molas pneumáticas e amortecedores de controle eletrônico se encarrega de abaixar o automóvel em 10 mm se assim desejado.
Dispensável comentar todo o aparato eletrônico de segurança, o nível interno de silêncio, o conforto e espaço inclusive no banco traseiro — 2.910 mm de entreeixos! —, no vasto porta-malas de 530 litros e os cuidados de acabamento. Ponto negativo? A tração integral protesta em algumas manobras em baixa velocidade com tranquinhos nas rodas traseiras. Que, segundo a Audi, são absolutamente normais. Mas incomodam…
O Audi S6 ainda não chegou ao nosso mercado, mas seu preço já foi estabelecido em R$ 440 mil.
BF