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Há quase três meses usei o crossover Peugeot 2008 Griffe THP, a versão dotada do motor turbo de 173 cv e que só vem com câmbio manual de seis marchas. Desta vez o testado foi um da versão Griffe 1,6 flex, a versão intermediária, com motor aspirado de 116/122 cv (gasolina/álcool). Já a versão de entrada é a Allure, que significa fascinação em francês.
Eu certamente teria ficado fascinado se em vez de crossover tivessem-no lançado como uma perua, uma station wagon — modelo que tanta falta faz ao nosso mercado — com altura normal de rodagem. Sua dinâmica teria ficado melhor. Não que a do 2008 seja ruim. Ela é boa, porém não é ótima, como bem poderia ser. O problema básico é que, para atender ao gosto altaneiro do consumidor brasileiro, ergueram-no além da conta, exageraram. Ficou com 200 mm de vão livre do solo (35 mm mais que o europeu), o suficiente para passar por cima de um paralelepípedo, o que, convenhamos, não chega a ser necessário, já que não é um jipe transamazônico.
Como o leitor poderá observar no vídeo, devido a esse exagero, em curvas de baixa e em subida, ao ser acelerado ele facilmente ergue a roda interna da curva e perde tração. A roda fica quicando, sinal que está sendo tirada do chão porque a suspensão já atingiu seu batente inferior. Infelizmente isso está se tornando comum em nosso mercado, como no caso do JAC J3 e Renault Sandero Stepway, dentre outros em que também exageraram na dose. A maioria dos motoristas nem sente isso e muito menos sabe que é um defeito, e a coisa fica por isso mesmo.
Esse porém já foi acusado no teste do 2008 Griffe com motor THP, que por ser mais potente (173 cv), agravava essas indesejáveis reações em arrancadas fortes. As rodas motrizes se alteravam, o que a fazia apontar ora para um lado, ora para o outro, isso porque, com a natural levantada de frente que a forte aceleração provocava, logo a suspensão chegava ao fim de curso de distensão e tirava ora uma, ora outra, roda do chão. Como eu esperava, com o motor 1,6 16v, aspirado, de 122 cv, esse inconveniente ficou bem menos notado, mesmo porque o motor THP, além da maior potência máxima, descarrega muito mais potência em giro baixo, já que o turbo lhe dá torque máximo bem maior e em menor rotação (24,5 m·kgf de 1.400 e 4.000 rpm, gasolina e álcool).
Particularmente, para mim, excesso de potência nunca é um problema e muito menos reclamação, mas devo avaliar um carro a partir do seu propósito. Sendo assim, em vista desse comportamento impróprio, e em vista da boa potência que o motor 1.6 aspirado já produz, 122 cv a 5.800 rpm (álcool), concluo que ele seja o mais recomendável para o 2008. Faz o 0 a 100 km/h em 10,2 segundos e atinge 190 km/h de máxima (álcool), segundo a fábrica, o que são números inquestionavelmente bons. O carro e rápido, leve, o motor tem ótima pegada desde baixa e vai para a região dos giros altos com muita alegria. Corta a 6.500 rpm, o que é 700 rpm acima da potência máxima. Belo motor. Potência especifica alta: 76 cv/litro, bom torque de 16,4 m?kgf a 4.000 rpm (álcool), fora que é econômico. Fez, pelo computador de bordo, 7,5 km/l de álcool na cidade, com trânsito médio, e 11,6 km/l na estrada, viajando a velocidade constante de 120 km/h reais.
Só por curiosidade, nota-se que o 2008 é 8 km/h menos veloz que o 208, que atinge 198 km/h, segundo a fábrica. Teoricamente, as peruas, por terem o teto mais longo que os hatches, têm Cx mais baixo, daí deveriam atingir maior velocidade final, porém a maior altura da 2008 lhe deu maior área frontal, que conta desde o chão, o que lhe dá maior arrasto e a deixa menos veloz. Se o 2008 tivesse a mesma altura do 208, na certa entraria para o seleto rol dos que rompem os 200 km/h. Para isso ele precisa dos 173 cv que o motor THP fornece, e com eles ele chega aos 209 km/h.
Viaja bem. A suspensão é firme, mas nada áspera, quase macia, sendo que, lembrando, poderia ser mais macia caso não o tivessem erguido tanto. A 120 km/h, e em 5ª e última marcha, o giro vai a 3.600 rpm. Pelas características do motor, sua última marcha poderia ser um pouco mais longa e ele continuaria a responder perfeitamente bem. Mesmo assim ele viaja em silêncio e suave. O motor, além de suave, é bem isolado, e praticamente não há ruídos aerodinâmicos. Carro bom para viajar, ainda melhor para a cidade.
A direção, com assistência elétrica, é de leve para levíssima quando em baixa velocidade, uma característica que muita gente gosta. Conforme a velocidade aumenta a assistência praticamente zera e ela fica firme, no ponto ideal. O volante tem ampla regulagem de altura e distância, e isso somado à regulagem também de altura do banco nos dá ótima posição de dirigir. O banco tem espuma firme. O encosto tem laterais pronunciadas que nos seguram bem nas curvas. O cinto de segurança tem regulagem da altura de ancoragem. Nota-se que todos os pontos que tocamos para os comandos têm toque estudado para ser agradável.
Os pedais estão muito bem posicionados e têm bom peso e progressividade. O punta-tacco sai sem esforço ou contorcionismo. A alavanca de câmbio tem curso leve e longo, uma característica dos veículos da marca, e os engates são bons. Comando a cabo.
Os freios, a disco nas quatro rodas, sendo os dianteiros ventilados, são bons. Se o 2008 tivesse altura normal de rodagem, as freadas de emergência, aquelas freadas de surpresa, tortas, seriam mais seguras, com melhor controle, mesmo assim o 2008 encara bem esse tipo de situação, sem problemas.
O amplo teto panorâmico é daqueles que agrada no inverno mas é um problema no verão, porque ele esquenta com o bater do sol e irradia calor para dentro do habitáculo, perto de nossas cabeças. A cortina retrátil não consegue evitar essa transferência de calor. O ar-condicionado automático é eficiente.
O preço sugerido da versão testada é de R$ 71.290
Com mais R$ 3.700 modelo oferece a opção de câmbio automático de quatro marchas.
AK
FICHA TÉCNICA PEUGEOT 2008 1,6 GRIFFE FLEX | |
MOTOR | |
Designação | EC5M 1.6 flex com sistema de partida a frio Flex Start Bosch |
Descrição | 4-cil., 4 válvulas por cilindro, duplo comando, variador de fase na admissão, acionamento por correia dentada |
Cilindrada | 1.587 cm³ |
Diâmetro e curso | 78,5 x 82 mm |
Taxa de compressão | 12,5:1 |
Potência máxima | 115 cv a 6.000 rpm (G)/122 cv a 5.800 rpm (A) |
Torque máximo | 15,5 m·kgf (G)/16,4 m·kgf, ambos a 4.000 rpm |
Formação de mistura | Injeção no duto |
Combustível | Gasolina e/ou álcool |
TRANSMISSÃO | |
Câmbio | Transeixo manual de 5 marchas mais ré, tração dianteira |
Relações das marchas | 1ª 3,638:1; 2ª1,950;1; 3ª 1,281:1; 4ª 0,975:1; 0,767:1; ré 3,333:1 |
Relação do diferencial | 4,678:1 |
SUSPENSÃO | |
Dianteira | McPherson, braço triangular, mola helicoidal, amortecedor pressurizado e barra estabilizadora |
Traseira | Eixo de torção, mola helicoidal, amortecedor pressurizado e barra estabilizadora |
DIREÇÃO | |
Tipo | Pinhão e cremalheira, eletroassistida e indexada à velocidade |
Diâmetro mínimo de curva | 10,4 m |
FREIOS | |
Dianteiros | A disco ventilado Ø 283 mm |
Traseiros | A disco Ø 249 mm |
Controle | ABS, EBD e auxílio à frenagem |
RODAS E PNEUS | |
Rodas | Alumínio 6Jx16, estepe em aço |
Pneus | 205/60R16H, inclusive estepe |
AERODINÂMICA | |
Coeficiente de arrasto (Cx). | 0,35 |
Área frontal | 2,297 m² |
Área frontal corrigida | 0,804 m² |
CAPACIDADES | |
Porta-malas | 355 L a 1.172 L |
Tanque de combustível | 55 l |
PESOS | |
Em ordem de marcha | 1.205 kg |
DIMENSÕES | |
Comprimento | 4.159 mm |
Largura sem espelhos | 1.739 mm |
Altura | 1.583 mm |
Distância entre eixos | 2.542 mm |
Ângulo de entrada/saída | 22°/29° |
Distância mínima do solo | 200 mm |
DESEMPENHO | |
Aceleração 0-100 km/h | 11.4 s/10,2 s (G/A) |
Velocidade máxima | 183 km/h/190 km/h (G/A) |
CONSUMO DE COMBUSTÍVEL (computador de bordo) | |
Cidade | 7,5 km/l (A) |
Estrada | 11,6 km/l (A) |
CÁLCULOS DE CÂMBIO | |
v/1000 em 6ª | 33,3 km/h |
Rotação a 120 km/h em 5ª | 3.600 rpm |
Rotação à vel. máxima em 5ª | 5.700 rpm |