Informação para mim é a melhor vacina que existe. Com informações — corretas e bem apuradas, é claro — conseguimos tomar melhores decisões na nossa vida. E uso a analogia com vacina justamente porque ela nos permite até mesmo evitar doenças. Como? Sabendo como impedir a proliferação do mosquito da dengue podemos reduzir a epidemia que vivemos, por exemplo. Não que a informação faça milagres. Não faz, depende do uso que fazemos dela, como diz Régis Débray. Informação e senso crítico, sempre!
Com essas duas coisas podemos evitar sermos manobrados e impedimos que se espalhem dados incorretos que depois servem de base para teorias estapafúrdias. Sem infomração e senso crítico o que vemos é a proliferação de paralogismos (raciocínios capciosos mediante os quais se pretende defender algo falso e/ou confundir com raciocínio procedente da ignorância) ou sofismas (a mesma coisa, mas com uma diferença de raiz: neste caso o raciocínio procede da má-fé). Difícil às vezes saber quando estamos diante de um ou de outro. Mas devemos repudiar ambos.
Então, vamos usar informação e senso crítico para analisar a justificativa do prefeito de São Paulo a respeito do deplorável estado do asfalto das ruas e avenidas da cidade. “Tem muita chuva e muito sol em São Paulo e isso dificulta os trabalhos”. É sério — bom, pelo menos é sério que ele disse isso. Mas qual é a novidade? O Brasil foi descoberto há cinco séculos e sempre foi um país tropical, caracterizado por, ora bolas, chuvas e sol forte. Ou alguém no Canadá levaria a sério se o prefeito de uma cidade canadense reclamasse da dificuldade em manter o asfalto em função da neve? Nem Rob Ford, aquele alcaide de Toronto que admitiu ter usado todo tipo de drogas lícitas, ilícitas ou ainda alucinógenas e de ser alcoólatra alegou isso para justificar qualquer deficiência de sua administração em termos de manutenção devido às intempéries.
Imagino eu que a administração da cidade de São Paulo já deveria estar ciente desse, literalmente, contraTEMPO. Afinal, não estamos falando de uma cidade inteiramente coberta por telhado, nem de uma inédita contrariedade climatológica como poderia ser um tsunami num município que não tem mar ou, ainda, uma tempestade de neve. Nesses casos, sim, estaríamos diante do imponderável. Mas, chuva e sol? Fala sério…
Como sou fã da informação, fui pesquisar tecnologia de asfaltamento. E descobri um montão de coisas. Pois se é verdade que a cidade é tropical também é verdade que a tecnologia avançou muitíssimo — mas nem vou mencionar as ruas medievais da Europa que até hoje agüentam bem o trânsito apenas porque foram bem construídas e são bem conservadas. Aqui, ao contrário, a verba foi reduzida em 70% em recursos na atual gestão e a metragem caiu de 2,3 milhões pavimentados em 2012 (último ano da gestão Gilberto Kassab) para 847.000 metros quadrados em 2015 — queda de 63% — isso se for cumprida a promessa até o final do ano.
As estradas brasileiras já utilizam pneus velhos misturados para asfaltar nossos caminhos. Até aí, nenhuma novidade, Estados Unidos e Europa utilizam esse sistema desde a década de 1960. São 750 pneus por quilômetro asfaltado que, além de dar uma destinação melhor para a borracha do que a poluente queima ou virar criadouros de mosquitos aedes aegypti, já que levam séculos para biodegradar. Isso sem falar na economia de asfalto propriamente dito, que é um caro derivado de petróleo e, dizem os técnicos, aumenta em 40% a durabilidade do asfalto. Ponto negativo? É 30% mais caro.
O material mistura borracha de pneus triturada com ligante asfáltico modificado, compactado a quente. Pode-se usar de 5% (pelo método industrial) a 20% ( pelo método in situ field blend) de borracha. Neste caso, o único inconveniente é que a usina de asfalto deve estar próximo ao trecho das obras, de forma a evitar a vulcanização da borracha, pois se aplicada em grandes volumes ela acontece somente quatro horas depois de misturada com o asfalto quente. Além de dar um uso aos pneus que são um sério problema ambiental, maior durabilidade às vias, a mistura proporciona maior aderência aos veículos, evitando derrapagens e reduzindo o spray provocado pelos pneus nos dias de chuva. E, segundo os especialistas, não requer nenhum preparo específico da via — ou seja, pode ser aplicado como se fosse um asfalto convencional.
Outra tecnologia muito utilizada em ruas e avenidas é a pavimentação convencional feita com o CBUQ (Concreto Betuminoso Usinado a Quente), uma mistura de pedriscos, pó de pedra e concreto asfáltico de petróleo trabalhado a 170 °C nas usinas. Neste caso, a massa é levada ainda quente para a aplicação na obra, mas durante o percurso pode ocorrer a perda de temperatura, esfarelando o asfalto e inviabilizando a sua aplicação. Mas com o uso de novos aditivos já é possível estocar o asfalto por períodos superiores a um ano.
O fato é que chamamos de asfaltamento mas há vários tipos de tecnologia, como uso de concreto, tratamento betuminoso de superfícies, pavimentação composta e diversos outros. Há vários tipos de tecnologia, com aplicações, custos e durabilidades variadas. O que não falta é opção.
Mudando de assunto: Darei uma folga a vocês, caros leitores, mas volto com minhas escrivinhações na primeira semana de janeiro. Aproveito para desejar a todos um Feliz Natal e um ótimo Ano Novo. Tudo de muito bom para 2016.