Um ano para não ser esquecido, 2015. Se, por um lado, nosso querido país mergulhou numa crise econômica e política horrenda e aparentemente irreversível, por outro lado tivemos um ano muito legal aqui no AE. Muito trabalho e pouco dinheiro, sim, mas quando se faz algo por mais que apenas dinheiro, é sempre assim. A parte boa mais que compensa o resto: tivemos em 2015 o I Passeio e o I Encontro do AE, momentos incríveis de interação com nossos queridos leitores. Tivemos o novo e moderno desenho do site, algo que queríamos fazer há bastante tempo. Mas, principalmente, muitos carros legais passaram por nossas mãos. De Audi R8 a Sandero R.S., a quantidade de coisas legais que fizemos gritar pelas nossas estradas preferidas em 2015 foi considerável. Um ano bom, por este prisma.
E tal coisa joga luz no fato de que, apesar da crise terrível, a variedade de modelos à venda em nosso mercado não para de crescer e se modernizar. Ao fazer esta minha tradicional lista de desejos de início de ano, não pude deixar de notar a variedade de carros interessantes disponíveis, e o seu incrível progresso técnico. Apenas o mais barato dos dez carros que escolhi este ano faz o zero a 100 km/h em mais de dez segundos. A metade deles, cinco, o fazem em menos de nove. Nada menos que seis deles são modernos motores turbocomprimidos que, além de oferecerem um desempenho primoroso, são extremamente frugais em combustível, o que é um dado importante hoje. Para uma criança dos anos 70 como eu, tais coisas parecem quase inacreditáveis…
Mas apesar do vasto campo de escolha, uma vez colocando as minhas restrições para compra de carro novo, a lista praticamente se fez sozinha, e, portanto, vale explicá-las: Primeiro, o preço deve ser abaixo de 100 mil reais. Sim, 100 mil já não compram muito, excluindo todas as marcas de luxo da lista, mas é uma montanha de dinheiro para um brasileiro médio como eu e é o máximo que concebo para gastar em um carro. Depois, deve ter quatro portas e praticidade para levar passageiros e/ou carga: sedãs e qualquer coisa com menos de quatro portas não casam bem com a minha vida atual. Dois filhos, cachorro grande, e cargas diversas em tamanho e gênero pedem extrema versatilidade.
E por último, mas não com menos importância, tem que ser divertido para dirigir: câmbio manual é bônus (apenas um não tem na lista), motor forte, muito desejável. Mas não apenas isso: o realmente importante são as imensuráveis qualidades que fazem um carro dar prazer à simples tarefa de conduzir. Comportamento previsível em toda situação, direção precisa, leve e viva, freios decentes e progressivos ao comando, câmbio de engates preciso e rápidos, motor suave, girador e forte. Coisas que não se medem, mas se sentem.
Esta última regra é tão importante que excluí novidades campeãs de venda este ano: o HR-V e o Renegade. Atendem às duas primeiras regras, mas nessa companhia abaixo ficam bem atrás na terceira. Certamente não é lista dos mais populares em venda, porque a maioria dos brasileiros se preocupa apenas com conteúdo, preço, valor de revenda. Argumentos lógicos e práticos, sim, mas que esquecem sumariamente o que é, em minha humilde opinião, o mais importante.
Em ordem crescente de preço (sugerido nos sites dos fabricantes), aqui estão eles:
1) Ford Ka (R$ 41.590)
O novo Ka da Ford é o mais barato carro desta lista, e o mais lento também, por uma boa margem. Mas uma série de motivos fazem dele uma opção bem interessante. O seu moderno motor de três cilindros, 1 litro e 80/85 cv (gasolina/álcool) é uma unidade deliciosa, que adora girar, é suave, e soa como meio Porsche 911 a alta rotação. O câmbio é bem escalonado para ele e uma delícia de usar. O comportamento me remete a meu velho Focus Mk1, o que é um grande elogio. O acabamento simples do interior joga um pouco contra, mas nesta faixa de preço, dentro do esperado.
Sim, mais de 40 mil reais soa um absurdo para um carro desta faixa, mas é a nossa realidade hoje. E nesta faixa, o Ka é uma opção muito interessante.
2) VW Gol Trendline 1,6 (R$ 41.960 com ar-condicionado)
O Gol está ficando velho, não há dúvida, numa faixa de mercado cheia de novidades diversas. Mas às vezes, como diziam os famosos versos bucólico-filosóficos de Sérgio Reis, “Panela velha é que faz comida boa.”
Por apenas míseros 370 reais a mais que o Ka, o Gol oferece um valente motor de 1,6 litro e 101/104 cv. O Gol faz o 0-100km/h em 9,9 segundos, nada menos que 4 segundos mais rápido que o Ka! E além disso é mais baixo, mais divertido em estradas travadas, e tem uma das alavancas de câmbio mais gostosas de operar que conheço. Sim, provavelmente terá pior consumo, o acabamento é pouco inspirado, o espaço interno não é generoso, e o motor é menos civilizado que o refinado três-em-linha do Ford. Uma decisão difícil entre os dois…
3) VW move up! TSI (R$ 44.790)
Só o tempo dirá se tenho razão, mas eu acredito que o up! é um daqueles carros que, em virtude de seu avanço tecnológico no lançamento, começa causando estranheza e vendas abaixo do esperado, mas acaba como um sólido e longo sucesso, sendo vendido por muito tempo.
Como o VW Tipo 11 no pós-guerra, como o Uno original em 1984, o up! é muito superior tecnicamente a todos os concorrentes de mesmo preço. Seu desenho é integrado a esta proposta de superioridade técnica, como eram também o VW e o Uno, e portanto é diferente e estranho para quem apenas quer mais do mesmo, coisa que ocorre com a maioria da população. Mas com o tempo, acredito, suas claras vantagens ficam óbvias, se acostuma com o desenho, e as vendas sobem. Pelo menos, é o que espero.
A VW merece sucesso com ele. Um carro dedicado à excelência técnica apenas é algo raro hoje em dia, e muito mais nesta faixa de preço. Num mundo onde o público se interessa apenas na aparência modernosa e cafona de alguns concorrentes de sucesso, a VW lançou um novo Fusca de verdade: tão moderno e superior que causa estranheza a princípio. Espero sinceramente que dê certo, ou estaremos fadados a mesmice e a mediocridade por muito tempo.
O up! normal já é um grande carro, mas o que falar da versão TSI? O pequeno e moderníssimo três-em-linha turb de 1 litro faz o carrinho acelerar de zero a 100 km/h em 9,1 segundos, mas também atingir médias de viagem de 20 km/l com gasolina. O câmbio longo faz possível esticar a terceira marcha até 160 km/h, exatamente igual à minha velha perua BMW 328i… E tem gente comprando cada coisa ao invés disso que às vezes perco a fé na raça humana.
4) Renault Sandero R.S. 2,0 (R$ 58.880)
Ao contrário do up! TSI, que impressiona pela tecnologia e eficiência acima de tudo, para a lógica, este apela apenas para a emoção. Um carro moderno de outra forma, usando a tecnologia para o prazer em dirigir somente. Apesar de tratável o suficiente no dia a dia, e de sua prática carroceria hatchback, é um carro que se sente realmente em casa num autódromo, dirigido no limite.
O motor é aspirado, forte, girador, vocal. Os bancos têm laterais pronunciadas para segurá-lo nas curvas. O ajuste de suspensão, apesar de não ser excessivamente duro, dá uma aderência e controle da carroceria sublime em qualquer situação. O câmbio de seis marchas, uma atrás da outra empilhadinhas, pede para você dirigir com vontade. Um carro para entusiastas, para dirigir com vontade e faca nos dentes, para se dirigir somente por dirigir. E tão seguro a velocidades tão altas que a morte gloriosa numa bola de fogo visível da estratosfera é quase impossível.
E apesar de ser o mais rápido de 0-100 km/h nesta lista (8 segundos), seu preço está longe de ser o maior. Um negocião, se você me perguntar. O meu quero preto, e com rodas de 17 polegadas, por favor!
5) Fiat Punto T-Jet (R$ 69.310)
O Punto T-Jet também está ficando velhinho no mercado, mas ainda é um carro esportivo de primeira: seu 1,4-litro turbo de 152 cv transforma o pacato Punto em algo muito mais interessante. Até o aparecimento do Sandero R.S. custando aproximadamente dez mil reais a menos, era a referência de esportivo nacional a preço razoável. Mas ainda é um concorrente de peso.
6) Renault Duster Oroch Dynamique 2,0 (R$ 70.790)
A Oroch é a primeira picape que desejo de verdade em sei lá há quanto tempo. Carroceria rígida, motor forte, câmbio manual, suspensão confortável e quase imune ao rolamento, e uma incrível capacidade de passar rápido sobre qualquer obstáculo urbano como se não existisse, faz este Renault ser um carro interessantíssimo para o dia a dia e viagens com a família.
E, como bônus, uma caçamba decente para carregar tudo que eu preciso, inclusive o lixo da casa, sem medo de sujar carpete algum. Genial.
7) Peugeot 2008 1,6 THP (R$ 79.590)
O 2008 não parece um SUV; é pequeno e nem muito alto. Para a maioria dos compradores deste tipo de carro isso pode ser ruim, mas para mim é vantagem. O mesmo pode ser dito sobre o câmbio manual de seis marchas na versão mais cara e potente, a THP Griffe (1,6 litro turbo e 173 cv), mas, obviamente, também gosto disso. É um carro seriamente veloz e rápido, apesar de um pouco caro pelo tamanho.
8) Fiat Bravo T-Jet (R$ 82.800)
Ao contrário do Punto, que deve perder compradores para o Sandero R.S., o Bravo T-Jet ainda faz muito sentido, pois é maior e sem concorrentes diretos. Eu realmente adoro sua combinação de esportividade e espaço interno, seu conforto e seu delicioso motor turbo.
9) Peugeot 308 Griffe THP (R$ 82.990)
Este está na lista em grande parte por causa da minha esposa, que o adora. Bem equipado e com um teto de vidro bem legal, não é apenas um rostinho bonito: equipado com o mesmo 1,6-litro turbo do 2008, chega a 215 km/h de final, o carro mais veloz desta lista. O câmbio automático é o único disponível, porém, infelizmente, embora seja um moderno Aisin de seis marchas.
10) VW Golf Variant Comfortline (R$ 83.990)
Este é talvez o carro que mais desejo nesta lista. Uma perua com câmbio manual, motor fortinho e preço razoável é algo que eu achava perdido para sempre aqui no Brasil, mas a VW veio em nosso socorro. Equipada com um 1,4 litro turbo de 140 cv e uma montanha de torque a partir de baixíssimas rotações, é uma delícia para dirigir e tem todo o espaço e praticidade que preciso. Apesar de ser o mais caro carro da lista, é um produto de alta qualidade, que nada deixa a desejar neste quesito mesmo se comparada às marcas de luxo.
Uma perua altamente desejável, que está no topo da minha lista de desejos para 2016.
MAO