Sempre me chamou a atenção o fascínio que as ferramentas exercem sobre os homens. Arrisco dizer que é um sonho de consumo masculino tê-las como as da foto acima. Tenho minhas dúvidas quanto às teorias sobre a influência que a educação exerce sobre as crianças – afinal, vemos muitos irmãos educados exatamente da mesma forma e com características totalmente diferentes. Acho que criação tem algo a ver, sim, mas sempre há alguma influência genética. Sei que as feministas vão me condenar, mas já estou acostumada com isso. Minha pragmática observação da vida me permite dizer que assim como a maioria das mulheres tem, sim, paixão por sapatos, a maioria dos homens adora ferramentas.
Digo isso sem pudor. Mesmo eu, que transito entre os dois universos — adoro ser mulher, sou extremamente feminina e gosto muito de sapatos, embora tenha infinitamente menos do que minhas amigas. Mas também sou apaixonada por carros, algo tipicamente masculino. Mas aí a genética parece que fala mais alto. Não tenho lá muita familiaridade com ferramentas. Sei bastante, claro e isso certamente é muito mais do que a maioria das pessoas e certamente muitíssimo mais do que a maioria das mulheres, mas não vou muito além. Sei diferenciar uma chave de fenda de uma Philips e consigo usar um grifo. E sou uma “instrumentadora” extremamente eficiente, assim como consigo colocar as brocas certas numa furadeira, mas desde que me digam quais são as necessárias. E tem um monte de coisas que para meu marido são de fácil solução e eu nem saberia como desmontar — e mesmo que conseguisse sobrariam algumas peças e não garanto que volte a funcionar o que quer que seja.
Eu não mexo de jeito nenhum com coisas elétricas. No máximo, troco lâmpada, desde que não haja problemas no soquete ou outros riscos visíveis. Trauma de infância, provavelmente. Quando tinha uns cinco anos de idade tomei choque de 220 volts numa tomada de casa. E não muito depois disso um de sei lá quanto no seletor de canais de televisão da minha tia-avó — provavelmente neste caso a amperagem foi pior do que a voltagem em si. Lembro que não conseguia tirar minha mãozinha de lá, pois o punho fechou. E viva o controle remoto! Mas, sinceramente, acho que teria problemas com eletricidade de qualquer forma, haja vista minha característica de ser um verdadeiro capacitor ambulante. Aliás, meu marido diz que no meu caso a unidade de medição a ser usada deveria ser macrofarad, caso exista, e não microfarad. Hahaha…
Apesar de ter no carro os apetrechos e de já ter precisado, nunca dei carga na bateria. Sempre pedi para alguém de medo que tenho de errar os polos e, principalmente, de eu tomar um choque. E olha que são só duas possibilidades numa extremidade e duas na outra. Nem tem muito o que errar e seu estiver segurando direito os cabos não há risco algum. Mas já troquei cabo de embreagem e pneu na boa. Ou seja, coisas mecânicas propriamente ditas, OK, para o resto, peço ajuda. Para dizer a verdade, o mais perto que chego de algo elétrico é ligar a lanterna auxiliar que carrego no porta-malas no isqueiro para ajudar a iluminar o capô ou o que for necessário. Ou o compressor para encher pneu. Mas, claro, são só 12 volts… assim até eu.
Sempre tenho no carro um bom kit de ferramentas automobilísticas, mas lamento até hoje ter perdido um fantástico que ganhara da Volkswagen anos atrás. Tinha absolutamente tudo, inclusive umas luvas ótimas que me ajudavam na pegada das ferramentas, pois nem sempre tenho a força necessária para desatarrachar porcas e afrouxar parafusos. E fico muito braba quando quebro uma unha e aquelas luvas protegiam bastante. Tinha até coisas que eu nem saberia usar. É claro que cada vez menos consigo mexer eu mesma no carro, como sempre digo. É tanta eletrônica que uso mais a oficina do que meus conhecimentos, mas se alguém souber, terá todas minhas ferramentas à disposição. E minhas habilidades como “instrumentadora”. É só pedir que reconheço e passo a ferramenta certa. Mesmo que não faça a menor ideia de para que serve ou como a usaria.
Semana passada me dediquei a fuçar aplicativos para espertofone. Gostei de um nível para alinhar quadros nas paredes. Confesso que ainda não mergulhei realmente no universo virtual das ferramentas específicas para carro, mas continuarei procurando, pois para casa tem muitas e algumas são bem práticas. Quem sabe nas minhas próximas férias fique menos tempo dentro da Home Depot? Sim, porque sempre reservo um tempo para esse tipo de passeio quando viajo com meu marido. Nossa mala volta com umas coisas bem exóticas comparada com a da maioria das pessoas, pois ele é capaz de passar uma manhã inteira vendo ferramentas. Mas nem reclamo, porque depois usa todas elas – e com muito capricho. Já me acostumei, mas quando cronometrei e vi que havíamos levado exatas oito horas para pendurar somente dois quadros na sala de casa achei que até para os padrões dele era um pouco demais. Mas a bem da verdade, nas oito horas estava incluído todo o tempo de cálculos para que eles ficassem perfeitamente alinhados entre si, em relação à escada, à janela, ao teto, ao piso, ao meridiano de Greenwich, ao Trópico de Capricórnio… E ficaram lindamente colocados! Eu ajudo colocando o bocal do aspirador bem próximo do furo porque, claro, apenas aquele coletor de plástico da furadeira não segura absolutamente todo o pó.
Com o carro é a mesma coisa. Ele não tem medo de fuçar e não desiste até resolver o problema. Eu insisto mais em coisas não elétricas, mas se envolver qualquer coisa que lembre volt, ampère ou coisa parecida, paro e chamo os universitários. O máximo que faço é desligar a chave do disjuntor de casa e checar de tempos em tempos com o voltímetro para verificar se a eletricidade voltou ao normal já que a concessionária insiste em nos deixar com meia fase com alguma frequência ultimamente. Se está tudo normal, religo tudo quando o aparelhinho mostra que está tudo dentro das devidas voltagens, já que temos circuitos 110 e 220, apenas para me complicar a vida. Mas não sem algum receio. Olho 42 vezes se os cabos do voltímetro não estão desencapados (na minha casa? Impossível!) e ainda me dá medo quando os coloco na tomada.
Uma vez passamos uma semana num sítio em Alfenas, em Minas Gerais, para vários dias de comemorações de uma formatura. Ao parar na estrada para ajudar outro amigo nosso que estava com problemas mecânicos, meu marido acabou acendendo a luz interna da Cherokee de um deles para que o carro fosse mais visível no breu da estrada de terra e com chuva, pois só o pisca-alerta não resolvia. O problema é que ninguém conseguia desligar as luzes depois. De volta ao sítio, ele fuçou em tudo até achar a caixa e tirou os fusíveis, mas as luzes continuavam acesas. Tenho que reconhecer que o manual da Cherokee era extremamente confuso. Como tínhamos uma série de compromissos de missa, baile disso, baile daquilo, colação de grau, e tudo era a 7 quilômetros de distância do sítio, na cidade, o jeito era tirar o cabo da bateria a cada parada do carro. Se não, a alternativa era circular com as ridículas luzes internas acesas, como se fosse carro de noiva a caminho da igreja. Mas com a chuva que não parava não era algo lá muito prático. Pensamos em tirar as lâmpadas, mas eram várias. Mas meu marido continuou fuçando junto com minha amiga proprietária da Cherokee, que de carro não entende nada mas é super amiga e solidária, até que descobriram que a Cherokee tinha duas caixas de fusíveis. Bazinga! Aí sim, ele tirou os OUTROS fusíveis que então, sim, desligaram as luzinhas do carro e deixamos de andar por aí como se fosse o caminhão da Coca-Cola no Natal, todo iluminado. E ninguém se molhava mais a cada parada, pois era mais prático tirar os fusíveis do que o cabo da bateria.
De volta à cidade deles levaram o carro à oficina para descobrir que a Cherokee tinha um botãozinho perto do volante que alguém deve ter apertado sem querer e impedia que a luz se apagasse. E o mecânico ainda cobrou deles, alegando que não era pelo trabalho, que não teve, mas pelo conhecimento! Não dá para dizer que não tivesse razão…
Mudando de assunto: Mesmo depois de bastante tempo, não queria deixar de comentar que adorei ver a resposta de Sebastian Vettel quando, uns dois dias antes do GP Brasil de Fórmula 1 lhe perguntaram se encontrava inspiração em algum piloto brasileiro. A resposta dele? Nélson Piquet. Além de eu ser admiradora dele (dos dois, na verdade), gostei de ver os conhecimentos de história do moleque.
NG