Coisas que a gente nem imagina…
A fábrica da Volkswagen estava para ser demolida devido aos severos danos impostos pelos pesados bombardeios dos Aliados, em especial de junho e agosto de 1944, deixando a fábrica destruída em dois-terços. Mas a demolição não veio a ocorrer devido à ação do Major Ivan Hirst, britânico, que foi sem dúvida o artífice do salvamento da fábrica e do Fusca, que, em princípio estava fadado a não decolar jamais.
A primeira coisa a ser feita seria a limpeza dos escombros, mas não havia recursos disponíveis para tanto em Wolfsburg.
Mas Hirst não se intimidou com isto, ele era brilhante, e além de ser refratário a acatar decisões com as quais não concordava (!), ele era criativo e tinha um grande poder de iniciativa. Decidiu convocar um batalhão motomecanizado para ajudar nas tarefas de limpeza dos escombros e no transporte de máquinas que haviam sido deslocadas pelos alemães para esconderijos e poder continuar trabalhando de lá mesmo com o avanço das topas aliadas.
Não foram poupados esforços e todos os recursos disponíveis foram empregados. Foi aí que uma pequena ferrovia de serviço, que anteriormente tinha sido usada na construção das Autobahnen, e que sobreviveu à guerra, acabou sendo montada provisoriamente dentro da fábrica para agilizar o recolhimento das montanhas de entulho.
Daí uma cena inusitada, um sorridente militar inglês pilotando a locomotiva, atividade que para ele parecia ser até lúdica.
Reader’s Corner
Desta vez trazemos o causo que o Luiz Gustavo Costa enviou. Ele mora na cidade de Penedo, AL, às margens do rio São Francisco.
MEU FUSCA BRANQUINHO…
por Luiz Gustavo Costa
Meu pai e minha mãe sempre tiveram Fusca. Confesso que nunca fui muito fã do modelo, esse meu “preconceito” existia devido ao desconhecimento do projeto. Porém, minha história pessoal com o Fusca começou pouco antes de me casar em 2008. Eu andava de moto e quando estava me aprontando para casar sabia que precisaria de um carro, mas como ainda não tinha casa própria sabia que tinha que dar um jeito de sair do aluguel, e reformar uma casa que minha esposa estava negociando e ainda pagar a prestação de um carro. Era uma tarefa impossível no momento, daí que meu deu aquele estalo: por que não um Fusca? Era barato, as peças eram bem baratas, um pouco diferente de hoje, mas continuam baratas, e eu ficaria livre de pagar um carnê. Então fui à caça de um carrinho e descobri um branco 1985, que era da esposa de um sargento do Exército, que era o chefe de instrução aqui da minha cidade; negócio feito à moda antiga na base da confiança, contrato manuscrito, e alguns pré-datados depois levei o besouro para casa.
De saída a única despesa que me deu foi a troca de algumas mangueiras de combustível e o óleo do motor… E nunca me deu dor de cabeça. Quantas vezes eu até viajava à noite para uma cidade vizinha onde fazia faculdade, e quando queria chegar mais cedo em casa encarava os 70 quilômetros à noite numa boa. A única vez que o besouro me deixou na mão eu já tinha ele há alguns meses, ele soube parar no lugar certo. Lembro-me de que começou a falhar mas se arrastou até a porta de uma oficina mecânica de um amigo. O defeito? A braçadeira do distribuidor frouxa, apenas isso!
Agora era terminar os preparativos para o casamento.
E o besouro me ajudou nesses preparativos, os cocos verdes que comprei para servir água de coco junto com o uísque dos convidados foram buscados com ele. Removi os bancos e o besouro deu conta do recado, estradas rurais não foram problema para ele. Sendo assim, no grande dia ele não poderia ficar de fora, ganhou um banho e o polimento no melhor lava-jato da cidade, e lá foi ele me levar para a igreja. Fui dirigindo sozinho, ou seja, meus últimos momentos como solteiro foram com o besouro. Passei as chaves para o meu cunhado — coisa rara não sou de deixar ninguém dirigi-lo. Mas o fotógrafo precisava da frente da igreja livre e eu queria que ele estivesse na porta, pois iria sair com ele. Sendo assim, coube a meu cunhado posicioná-lo logo após a celebração. Só que ele não entendeu a parte do “após a celebração” e manobrou o Fusca logo no começo e todo mundo na igreja ouviu aquele ronco de motor característico. E assim foi todo cheio de desenhos feitos com batom pelas amigas da minha esposa e com um monte de latas amarradas, que fomos para a festa no Penedo Tênis Clube a bordo do besouro. E como iríamos viajar só no outro dia, ele ainda nos levou para noite de núpcias ao Hotel São Francisco.
Quando retornamos da lua de mel, eis a novidade, teríamos outro membro na família. Meu Miguel estava a caminho. Então o besouro levava minha esposa agora gestante para cima e para baixo, só não buscou o bebê na maternidade devido ao preciosismo do avô: como aqui no Nordeste é muito quente, meu pai me cedeu seu Polo Sedan novinho.
Mas o besouro ainda iria me ajudar mais uma vez. Para concluir a reforma da casa ele foi peça fundamental; agora com um engate instalado, perdi a conta de quantos sacos de cimento, argamassa, caixas de cerâmica, tijolos etc. esse carrinho puxou. Toda essa trabalheira cobrou seu preço, mas nada que não pudesse ser reparado. Agora o besouro goza de uma vida mais fácil, já pude adquirir outro carro para o uso mais frequente, e o besouro ganhou peças de lataria novas, pintura nova, tapeçaria, revisão mecânica completa, enfim tudo a que ele tem direito.
Afinal de contas, como diz um antigo jingle, da Volkswagen, “besouro que vale ouro”!
AG
A coluna “Falando de Fusca” é de total responsabilidade do seu autor e não reflete necessariamente a opinião do AUTOentusiastas.