Em 1995, meu velho, recém-aposentado, procurava um substituto para seu bem-vivido Voyage LS 1982 cinza Plumbum… sim, meu velho era do tipo que ficava sete, dez anos com um carro, outros tempos.
Eis que em uma tarde daquele ano, eu descia a rua de casa com um amigo, quando vi aquele Voyage CL 1992 bege metálico encostando na frente de casa. Não tive dúvidas, aficionado por carro que já era, subi correndo e deixei meu amigo de lado (risos).
Chegando lá, me deparei com a “máquina”: CL 1,8, 47.000 km, vidro traseiro térmico e vidros traseiros basculantes.. era isso. Único dono, comprado de um dentista japonês, tinha manual e chave-reserva, carro alinhado.
Fiz algumas perguntas ao meu pai, sentei dentro do carro e ele já me disse todo cheio de ciúmes, “não encoste nesse carro” (rs). Logo ele foi tirar seu cochilo da tarde e eu, louco para fuçar, fui caçar assunto, ou seja, passar aspirador no mesmo, bater os tapetes e claro, manobrá-lo.
Lembro-me que na mesma semana fui com meu pai até uma loja de som para instalar um toca-fitas Pioneer “de gaveta”. Logo em seguida dei de presente ao meu pai (com uns trocos que ele mesmo me dera), um par de faróis de milha… e assim foi, meu pai já com certa idade e eu sempre deixando o Voyage um brinco, sempre cuidando, lavando, encerando, e o tempo foi passando.
Na década seguinte, eu já trabalhava (já era técnico-mecânico formado) e cursava engenharia mecânica, na época tinha um bonito Gol GLi 1,8 1996 e usava o Voyage nos dias de rodízio para ir à faculdade (meu pai sempre o emprestava cheio de ciúmes e regras…). Nessa mesma época conheci uma turminha que já começava a cultivar esses modelos da linha BX (da maneira correta) e meu carinho pelo carrinho foi crescendo… mas eu, jovem, sempre queria um carro mais novo, e enfiei na cabeça que queria um Gol GIII. Comprei um lindo Gol 16v Turbo 2001 e dessa forma, o GLi passaria para meu pai e o Voyage iria embora… o velho na última hora titubeou, e quem foi embora foi o GLi.
E o Voyage foi ficando, os anos foram se passando, eu pegava cada vez carros mais novos (alguns 0-km) e melhores, e o Voyaginho continuava ali, tinindo, rodando cerca de 1.000 km/ano, porém em 2009 meu pai teve que operar o joelho esquerdo e mesmo depois de muita fisioterapia, de sistema de embreagem e cabo trocados para aliviar o peso do pedal, sentimos que o velho não mais conseguiria dirigir um veículo manual.
Não pensei duas vezes, achei um raro Corsa Sedan (hoje Classic) 1,6 2002 automático, baixa quilometragem e em perfeito estado. A troca foi feita e finalmente o Voyage era meu!
Na época, virou xodó, hobby… fui dando a minha cara a ele, volante 4-bolas, cluster da linha GL, rodas Orbit originais da marca Borlem que equiparam os GTi de mesmo ano.
Entramos no ano de 2010, e meu Polo hatch 0-km teve que dar lugar a um apartamento, pois já planejava me casar e, dessa forma, o Voyage voltava à ativa, como carro de uso diário.
Ainda sobrara o Fiesta Street 2005 da patroa, nos casamos e mesmo o Fiesta possuindo ar-condicionado e ser muito mais novo, fiz questão de ir para a lua de mel em Ilha Bela com o Voyage.
Na volta da lua de mel, o meu amigão me pregou uma peça: vim o caminho todo em direção a São Paulo pela Rio-Santos, subi pela Rodovia dos Imigrantes, trânsito meio carregado, mas o Voyaginho esperto subindo tranquilo pela faixa da esquerda, e um Golf IV começou a me apertar. Não adiantava, o trânsito estava carregado, mas o cara, encostava, encostava, como algo do tipo, “saia da frente, seu carro velho” e aquilo foi me irritando. Quando o tráfego abriu, reduzi umas duas marchas e enfiei o pé, e a minha já esposa já me passou um sermão. onde eu ia naquela velocidade, e eu, com raiva, passei a quinta com uma certa “delicadeza” (rs). A quinta entrou e a alavanca ficou boba (as conhecidas buchas do trambulador me deixaram na mão no retorno da lua de mel!).
Subindo a serra só com a quinta, fui ligando para o seguro e pedindo um guincho, a moça do seguro me orientava a parar, pois podia causar um dano mais grave ao carro, mas eu sabia claramente que estava fazendo, dizia que não iria parar, pedi para que o guincho me encontrasse no final da rodovia, encontro com a avenida Dr. Ricardo Jafet. E assim foi, rodei alguns quilômetros de rodovia tranquilamente só com a quinta até chegar a São Paulo. O sinal fechou, parei, sinal abriu, saí em quinta patinando embreagem mas saí. E o guincho lá me esperava. Assim terminou minha lua de mel, de guincho.
Enfim, me reestruturei, comprei outros carros e o Voyage ganhou seu devido descanso, hoje só o uso para encontros e passeios.
Alguns upgrades foram sendo feitos (turbocompressor, freios, suspensão, rodas BBS Passat B4, entre outros) e hoje o meu xodó é admirado por muitos que trabalham comigo, na engenharia de onde esse belo companheiro foi desenvolvido.
Abraços!
LG