Por enquanto, a Tesla é um fenômeno na indústria. Mas o aumento da produção poderá trazer problemas para Elon Musk
Conheci o Tesla, veículo elétrico produzido na Califórnia (EUA). A fábrica não tem concessionárias e vende pela internet ou lojas em shopping centers. Fui a um shopping de Miami e a loja exibia o Tesla S e seu chassi. Deu para perceber que não é um carro adaptado para a eletricidade, mas pensado para ser elétrico. Elon Musk, dono da ideia e da fábrica se opôs à ideia de o carro elétrico ser uma lesma, ter estilo controvertido e uma ridícula autonomia de 100 quilômetros.
O Tesla S (sedã de quatro portas) tem um belo design, faz de zero a 100 km/h em 3 segundos e tem autonomia de 400 quilômetros. Em vez do painel convencional, uma tela enorme, de 17”, com todos os mostradores e comandos. Custa US$ 70 mil (R$ 265 mil) com tração simples e US$ 90 mil (R$ 340 mil) com tração integral.
A grande tela de 17″ no painel do Tesla S (foto motortrend.com)
O segundo modelo da marca é um utilitário esportivo, o “X”, que custa a partir de US$ 132 mil (R$ 500 mil). Acomoda até sete passageiros, tem tecnologia para dar e vender e se destaca pelas portas traseiras se abrindo para cima, como o Mercedes Asa de Gaivota.
O terceiro é um compacto, o “3”, que será apresentado agora, no final de março, com produção a partir de 2017. A Tesla diz ter mais de 30 mil reservas (pagando-se US$ 1.000) para o carro que vai custar US$ 35 mil (antes dos subsídios do governo).
Por enquanto, a Tesla é um fenômeno na indústria automobilística e o pioneirismo de Elon Musk foi comparado com o de Henry Ford. A rentabilidade da empresa é muito elevada, pois ao assumir o papel de concessionária, tem o lucro dobrado. Ainda não tem concorrentes, pois apenas a BMW e a GM projetaram e lançaram elétricos (i3 e Bolt). Ao contrário das grandes fábricas, sua produção é muito verticalizada e poucos os fornecedores externos. Ele constrói em Nevada uma fábrica de baterias, que representa quase a metade do custo de um elétrico.
Musk diz que a Tesla se diferencia pois, mais que uma fábrica de automóveis, ela se considera uma fornecedora de tecnologia. O que pode ter funcionado até hoje uma vez que sua produção é de cerca de 50 mil unidades anuais. Mas agora pode ser a hora de a porca torcer o rabo: o novo compacto (“3”) seria o carro-chefe da marca e a produção da fábrica atingiria 500 mil veículos por ano em 2020. Números que levariam a Tesla a ser comparada com as fábricas tradicionais que produzem elevados volumes. E se ver às voltas com problemas na produção, distribuição e assistência técnica.
Além disso, com o novo modelo, muda-se também o perfil de seus clientes. Roda hoje com o Tesla o cliente mais “topo da pirâmide”, com recursos para instalar uma estação de carga rápida em casa. Ele supera os possíveis inconvenientes do carro elétrico pela consciência “tranquila” em estar “contribuindo” em termos ambientais. Mas, o “3” poderá ser o único na garagem e o dono não ter capacidade de investir (milhares de dólares) na estação de recarga.
Musk terá portanto, daqui para frente, que administrar vários problemas para manter sua rentabilidade: a verticalização da fábrica, o perfil de seu novo cliente, as concorrentes e a ausência de concessionárias. Tudo isso exige elevados investimentos. O valor em declínio de suas ações já sinaliza problemas à frente.
Henry Ford também se deparou com dificuldades para implantar suas ideias, mas, nem por isso, entregou os pontos.
BF